quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Logradouros públicos privatizados

Que confusão essa, no centro comercial de Belém, para retirada dos ambulantes! Nada mais inevitável, já que está arraigada no imaginário geral a certeza de que Belém é uma terra de ninguém, onde tudo pode ser feito. Não estou bem certo quando começou a explosão do comércio informal na cidade, mas me recordo de caminhar com minha mãe pela Presidente Vargas, quando criança, e as calçadas serem livres.
Mas o tempo passou e Belém hoje não é mais do que uma grande feira livre e restaurante a céu aberto, com mictórios por toda parte. O discurso reinante é que "nós precisamos trabalhar" e "é melhor estar aqui ganhando dinheiro honestamente". Verdade. O argumento merece respeito, mas em nome dele o que mais teremos que suportar?
O ideal, se vivêssemos num mundo ao menos razoável, seria que os ambulantes (não sei por que são chamados assim, já que não deambulam) fossem retirados das ruas, pura e simplesmente. Permaneceriam uns poucos, bem poucos, vendendo pequenas comodidades urbanas (como sucos, já que nosso clima é opressivo) ou elementos relacionados à idéia de turismo, como artesenato. Poderíamos implantar quiosques para informações turísticas e, em anexo, ter uma lanchonete, o que ajudaria a absorver um pouco desses trabalhadores.
Compreendo que, no nível em que as coisas chegaram, qualquer sugestão sempre será alvo de muitas críticas, por isso mesmo elas precisam ser feitas e debatidas, para que se chegue a conclusões razoáveis e exeqüíveis, que minimizem quanto possível o impacto sócio-econômico da quase eliminação dessa forma de economia.
Aceito que me joguem pedras, acusando-me de insensibilidade quanto ao drama social brasileiro. Mas não sou empresário, não tenho loja e muito menos interesse lucrativo nisso. Tenho apenas o interesse de cidadão de ver minha cidade limpa, organizada e transitável. Que tal pensarmos que, hoje, o bloqueio das ruas é perigosíssimo em caso de assalto, incêndio e anormalidades do gênero?

6 comentários:

Ivan Daniel disse...

Acredito que a saída pra esse problema seria em primeiro lugar conscientizar esses 'trabalhadores da informalidade' que eles precisam sair das ruas. Com isso em mente fica mais fácil chegar a um acordo, que provavelmente se concretizaria em um 'camelódromo', ou em uma feira organizada como é o caso da Feira dos Importados em Brasília, popularmente conhecida como Feira do Paraguai e carinhosamente chamada de Feirinha.
Aquilo é o paraíso de todas as classes sociais da capital federal.
Ah, que saudade!

Unknown disse...

As calçadas eram livres, e enormes para uma criança...eu ainda lembro das mesas do café que se demorava na calçada do Grande Hotel, da porta do Amazon Bar,que dava paraa calçada, e de uma enorme mangueira DENTRO do hotel, na churrascaria.
Cortava cabelo na barbearia do hotel, cuja entrada era para a travessa Carlos Gomes.
Puxa vida, Yúdice, perdemos Belém...

Frederico Guerreiro disse...

Concordo. Não tiro uma vírgula. Sou abençoado por ter vivido em um tempo em que as calçadas do centro eram livres, de onde podíamos exergar o outro lado da rua.
O argumento de que os camelôs têm o direito ao trabalho não é válido nessa situação se confrontado com o interesse da coletividade. Tudo não passa de sofisma. Aliás, por trás dos camelôs está o contrabandista e o crime organizado. Afinal, contrabando, descaminho, pirataria e sonegação fiscal são crimes, certo?
A cidade perde com essa bagunça. Torna-se detestável por seus próprios citadinos. Suja. Infelizmente Belém tem de conviver com suas tribos de camelôs, motoristas de ônibus e táxis, os operadores do tranporte clandestino que agora se julgam uma necessidade, um direito. São os novos donos da cidade. O melhor turismo que há pra se fazer por aqui é o para fora. O aeroporto é mais bonito que a cidade. Belém é linda vista de cima e distanciando. Mas só à noite. Há muito pouco a se aproveitar em comparação a outras centenas de cidades brasileiras. Quem é viajado sabe do que estou falando. Quando estrangeiros endinheirados (isso para nós) desembarcam por aqui é para não voltarem nunca mais. A Índia é melhor. Tanto é que transatlânticos não são freqüentes por aqui; e é só de passagem. Não acredito que alguém saia de Amsterdam para passear em Belém do Pará. Quando aparecem viram logo assunto do dia. Coisa de província. Gringo que vem para cá é desinformado. A não ser que queira ver mato ao navegar pelos rios da Amazônia e voltar para casa para dizer aos outros que "conhece" a floresta.
Os camelôs são o reflexo do populismo na política brasileira. Passam por seu momento de ascensão, com elevado prestígio eleitoreiro. Por isso se comportam de forma autoritária e burra. Como se não bastasse, o que tem a ver querer invadir shopping e coagir comerciantes a fecharem as lojas? O que é isso? Qualquer dia alguém vai querer invadir a minha casa porque foi expulso da invasão e não tem onde morar.
Uma pergunta que não vai calar nunca: se o poder público sabe dos problemas da ocupação irregular do espaço urbano, por que deixa que se estabeleçam? Não dá para entender. Só pode ser voto.
Quer ver um "exemplo do futuro"? Breve teremos mais um shopping onde funcionava o antigo Doca Boulevard. Aguardem para ver como ficará a Doca. Vai uma aposta? Preciso ganhar algum dinheiro para visitar Amsterdam.

Carlos Barretto  disse...

Para alguns casos é possível falar de tolerãncia. Mas para este não. Definitivamente não.
Há que se impor policialmente mesmo a ordem e destinar politicamente outro espaço para a atividade informal.
Ponto!

Anônimo disse...

Em se falando de público e de privado, a prefeitura de Belém está construindo novas calçadas e jardins em frente ao Liberal e só em frente a ele, na 25 de Setembro!
E o restante da rua, prá lá, até a Dr. Freitas e prá cá, até a Antônio Baena, como ficam, chupando o dedo?

Anônimo disse...

Ou o dedo ou o dudú!