sexta-feira, 4 de abril de 2008

Coincidência ou cópia?

E mais uma criança despenca de um edifício, a partir de um apartamento onde estavam apenas seu pai e sua madrasta. Desta vez, em Cariacica, região pobre da Grande Vitória (ES). Desta vez, a vítima foi uma menina de 10 anos que, felizmente, sobreviveu, tendo sofrido fraturas num tornozelo e no quadril.
Uma das razões pelas quais a imprensa deve ter especial cautela na divulgação de crimes é o estímulo que isso pode representar para os copiadores. As reportagens, é certo, não são feitas para enaltecer os criminosos, mas a excessiva preocupação com um mesmo assunto pode despertar, nos psicopatas, o desejo por idêntica atenção, por uma estranha fama que o indivíduo associa ao estardalhaço midiático. Então ele comete um crime do gênero, para tornar-se uma espécie de celebridade (curiosamente, anônima).
No sul do país, anos atrás, um indivíduo foi preso e admitiu que seu plano era matar mais mulheres do que o "maníaco do parque". Recentemente, houve um incremento nos casos divulgados de agressões e outros delitos perpetrados por jovens, especialmente após o espancamento de uma empregada doméstica no Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, terra da maioria dos serial killers conhecidos, isso é bastante comum. No Brasil, muitos jovens quiseram seguir os passos de Leonardo Pareja, mas neste caso a imprensa tem uma culpa adicional, porque insistia em mostrar o jovem criminoso quase como um heroi, um cara dotado de poderes especiais, a ponto de fugir da polícia descendo pela parede de um edifício, sem usar nenhuma espécie de proteção!
Obviamente, esta abordagem é apenas para suscitar que as cópias criminosas existem, não para dizer que o pai de Charlene é um copiador. Jamais faria isso. Sobre ele, o que tenho a dizer é outra coisa.
No caso de Isabella, cinco dias se passaram entre a morte da criança e a prisão do pai e da madrasta. Foi uma prisão temporária, alegadamente para garantir as investigações. Podem estar livres dentro de alguns dias, mesmo que continuem suspeitos. Podem responder ao processo em liberdade e se entregaram após negociações entre seus advogados e a polícia. Estão em celas individuais, mesmo não havendo uma ala específica para isso no prédio (no feminino, exatamente). Mas são de classe média e têm acesso a alguns benefícios legais.
Já o pai de Charlene, motoboy, foi preso em flagrante e está recolhido a uma cela comum. Mesmo alegando que a filha caiu, por acidente, e mesmo diante do depoimento de sua companheira, segundo a qual a própria Charlene teria admitido que caiu, ao tentar fugir de uma briga do casal, que não a tinha como alvo. Preso em flagrante, será muito mais difícil conseguir liberdade provisória, se conseguir. Melhor ele rezar para que a filha o inocente (se for o caso), pois do contrário sua situação será a pior possível.
Fica a mensagem, indesmentível por qualquer pessoa de boa fé: os fatos podem ser muito parecidos, mas o tratamento dado aos suspeitos, indiciados ou réus não se baseia na lei, como apregoado pelas autoridades e pelos lesos em geral. Baseia-se, na prática, no critério fortuna. Como sempre foi e nunca deixou de ser.

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