sábado, 26 de abril de 2008

"A senhora jurou sobre a cruz"


O grande Honoré de Balzac (Tours, 20.5.1799 — Paris, 18.8.1850, advogado e um dos maiores expoentes do romantismo francês) legou ao mundo obras maravilhosas, aclamadas pelo público e pela crítica. Destaco A comédia humana, coleção de contos, novelas e romances escrita entre 1829 e 1848. Dentre os contos, figura um chamado "A Grande Bretèche", que conheço numa tradução de Celina Portocarrero, parte integrante do livro Os cem melhores contos de crime e mistério da literatura universal, organizado por Flávio Moreira da Costa (Rio de Janeiro: Ediouro, 2002).
Tentei encontrar uma versão digitalizada dele, na internet, em português, mas não foi possível. Em inglês, fica acessível, porque a obra de Balzac, de domínio público, faz parte do acervo da biblioteca digital do Projeto Gutemberg.
Tentando evitar qualquer informação que possa estragar o prazer da leitura desse instigante conto, direi apenas que narra a grande desventura da Senhora de Merret, casada com um homem que não amava e que vivia viajando, deixando oportunidades abertas para que a infeliz esposa conhecesse algum outro homem.
Quando li o conto, anos atrás, senti que podia lhe dar uma utilização maior do que a do deleite da literatura. Em função das circunstâncias narradas, levei-o para minha sala de aula. Mandei que os alunos lessem o texto que lhes dava, pois seu conteúdo seria utilizado na prova. Supuseram que eu lhes fornecia um trabalho técnico e se surpreenderam quando se depararam com o conto. Teve gente que me perguntou se era o texto certo. Era, claro. Entendendo ou não minhas razões, a obra foi lida e, no dia da prova, apareceu a questão perguntando se certo personagem havia ou não cometido um crime e, em caso positivo, se tinha sido doloso ou culposo. Aí fez sentido e alguns alunos, dentre eles o valoroso Ricardo Dib Taxi, agradeceram a oportunidade de conhecer a obra em questão (ele até comprou o livro depois).
Há alguns dias, voltei a utilizar "A Grande Bretèche", desta feita com um grupo menor de alunos. Ainda não corrigi seus trabalhos. Mas me sinto feliz de apresentar Balzac para a grande maioria deles. Mais ainda por lhes mostrar que a literatura pode nos fornecer um riquíssimo e vasto material para nossa formação jurídica. Tenho uma esperança de lhes estimular o gosto pela leitura.
Semana passada, durante o V Congresso da Associação Brasileira de Ensino do Direito, uma palestrante falou sobre a importância de usarmos a arte, em todas as suas formas, em nossos cursos de Direito. Explicou que a arte sensibiliza e prende a atenção do aluno como poucas coisas seriam capazes de fazer e, assim, motiva-o aos estudos que dali se podem originar.
Dei um pequeno passo. Agora meu interesse é avançar para o teatro.

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