sexta-feira, 11 de abril de 2008

Aprender para criticar

O senador José Nery, do PSol, guindado ao Senado com a eleição de Ana Júlia ao governo do Estado, chegou mostrando serviço. Sua atuação no caso do famigerado Renan Calheiros e seu empenho contra o trabalho em condições análogas à escravidão no Pará (que o colocou em confronto com parlamentares estaduais e federais que lutaram arduamente para inocentar os escravagistas, em mais um capítulo vergonhoso da política local) deram-lhe notoriedade e respeitabilidade. A boa imagem construída, porém, acaba de ser arranhada, desde que o senador compareceu ao sul do Pará, a fim de se reunir com líderes do Movimento dos Sem Terra, para apoiar a causa.
De imediato, críticas vorazes surgiram. Nos blogs, hoje, duas manifestações pretendem esclarecer acerca do sentido real dessa atitude. Uma delas, da assessoria de imprensa do próprio senador, outra da advogada Mary Cohen, assinando como presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA.
O tema não é fácil. Já não é em si mesmo e fica ainda mais complicado com a exploração midiática tendenciosa, vinculada a setores econômicos, que insufla na população ódio aos movimentos sociais do gênero.
Antes que me atirem pedras, pessoalmente não sou favorável à atuação do MST e, como inimigo da violência, não posso de modo algum admitir os meios cada vez mais sórdidos empregados. Tenho que me preocupar com o fato de pessoas se infiltrarem num movimento legítimo com pretensões outras que não a reforma agrária, de obter um trampolim para proveitos pessoais ou para obter meios para criminalidade organizada, pura e simplesmente. Tenho que me preocupar com os fins e os meios.
Mas seria prova de demência ignorar que movimentos como o MST surgem por causa das lacunas do Estado, do Direito ou do próprio espírito de sociedade. Quem nada tem, e precisa sobreviver mesmo assim, lançará mão dos meios de que dispuser. Se a História do Brasil não fosse caracterizada pelo permanente confronto entre uma casta privilegiada e uma multidão deliberadamente prejudicada (nobreza x povo; senhores x escravos; empresários x trabalhadores; militares x civis; católicos x demais religiões; autoridades públicas x cidadão comum; políticos x todo mundo), provavelmente o MST não teria encontrado espaço para se tornar o que se tornou. Ou seria, única e exclusivamente, uma organização criminosa.
Em 1849, o filósofo e ensaísta americano Henry David Thoreau escreveu A desobediência civil, um texto clássico e famosíssimo, que deveria ser discutido nas escolas. Não podemos simplesmente criticar quem se opõe às regras do Estado se este mesmo Estado insiste em não cumprir as finalidades para as quais foi constituído. E não se trata de simples omissão, não. É o Estado a serviço de poucos, porque estes poucos assim o querem. Vale lembrar que, originalmente, a desobediência civil era definida como um movimento pacífico, daí ter inspirado lideranças como Mahatma Gandhi e Martin Luther King.
Enfim, sou professor de algumas centenas de jovens que, tendo acesso ao ensino superior privado, na maior parte dos casos não têm o perfil de quem precisa preocupar-se com a sobrevivência. Por isso, é importante levá-los a refletir sobre o mundo real, visto sob diferentes perspectivas, não somente pela medíocre visão da classe média brasileira. Assim, se quiserem criticar o MST e afins, que pelo menos antes procurem conhecer suas origens e objetivos, suas lideranças, saber o que mudou de 1984 para cá. Aí podemos confirmar ou mudar nossas impressões iniciais.
Mas, pelo amor de Deus, não formem opinião com base na grande imprensa. Isso não é mostra de bom senso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Yudice, o movinento dos sem terra (MST)já há algum tempo deixou de lado suas teorias de classe e principios de igualdade social , para se tornar um movimento de bandidos, que pregam o desrespeito ao Estado de Direito, pregando o pensamento do "QUANTO PIOR MELHOR", hoje a luta inicial se esvaiu num desempenho econômico melhor e numa distribuição de riqueza mais justa, o socialismo pregado por seus comandantes só pode ser absorvido nos livros de história mofados pelo tempo de idiosincrazias que representa.
A socieade não aceita mais o desrespeito as leis e a ordem, que subjulga os investidores e os verdeiros trbalhadores que buscam atráves do binômio trabalho/remuneração o avanço social do país.
O “Abril Vermelho” planejado para os próximos dias pode resultar num movimento equivocado do MST. Ele não dispõe do mesmo respaldo popular de antes, quando o PT era oposição e a classe média urbana pouco tinha sentido no bolso os benefícios das medidas liberais adotadas na economia. Agora, ficou mais fácil enxergar nas ações do MST a violação de regras, o desrespeito à propriedade e a ameaça a empresas que geram empregos e ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Na cidade de Estreito, fronteira entre Maranhão e Tocantins, militantes do MST e do Movimento dos Atingidos por Barragens ocuparam, em março, o canteiro de obras da usina hidrelétrica que começou a ser construída em 2007. A usina está incluída nas obras do PAC e terá capacidade instalada de 1.087 megawatts.
É assim que os componentes deste movimento que nem memso possuem a coragem de se identificarem buscam a solução para seus problemas.
Ammigo ou vivemso num etado de direito ou isso vira uma bagunça, que acaba originando os "SEM TETO', "SEM TORA', 'SEM CALÇADA', 'SEM ESTUDO' E FINALMENTE OS "SEM VERGONHA".
abraço.
Adolfo Junior.
advogado e blogueiro.

Yúdice Andrade disse...

Caro Adolfo, não tenho como discordar do seu ponto de vista. A minha postagem foi feita com a intenção, apenas, de alertar as pessoas, sobretudo os mais jovens, para não se limitarem a repetir o que escutam falar. Que procurem conhecer melhor os fenômenos sociais para, então, firmar um posicionamento, que pode ser igual ao nosso ou até mais radical. Interessa é que se tenha conhecimento de causa.
Como cidadão que se esforça para cumprir suas obrigações, mesmo se sentindo, por vezes, idiota ao fazê-lo (refiro-me a pagar impostos, especialmente), não poderia discordar de seu opinião sobre a necessidade de preservar os instrumentos de um Estado Democrático de Direito. Só não fecharei os olhos quando esse Estado não for democrático nem baseado no Direito.
Um abraço e volte sempre.