sexta-feira, 2 de abril de 2010

Chico Xavier

Sou espírita há mais de 21 anos. Cheguei à União Espírita Paraense, ou mais exatamente ao Departamento Fonte Viva, em março de 1989, quando alguns dos meus leitores sequer haviam nascido. Fui levado por meu irmão, que frequentava há um ano, movido sobretudo pela curiosidade. Considerava fascinante a visão de mundo e as explicações sobre a vida, o universo e tudo mais que a doutrina oferecia e que me chegavam através de meu irmão, sempre sequioso de compartilhar comigo as coisas que aprendia. Devo a ele uma boa parcela do pouco de cultura geral que possuo. Enfim, cheguei à casa espírita sem precisar atravessar a porta da dor.
Com dificuldade para assimilar mudanças, dizia-me católico, porque até então era tudo o que eu conhecia em matéria de religião. Cheguei um pouco desconfiado, mas fui ficando, gostando, aprendendo. Fiz ali, e naquela época, algumas das mais autênticas amizades que possuo. E fui me encantando particularmente com a possibilidade de, pela primeira vez, ver-me livre de dogmas, livre do Diabo em que há muito não acreditava, poder questionar o que diziam os livros inclusive as Obras Básicas de Allan Kardec , e compatibilizar minhas convicções religiosas com a ciência. A ciência! Para mim, sempre foi um deleite ler o frontispício de O Evangelho segundo o Espiritismo: "Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade."
Tenho uma pequena lista de as escolhas certas que fiz na vida. Tornar-me espírita foi uma delas, aliás a primeira, numa classificação por ordem cronológica.
Como espírita, nada mais natural que tenha um enorme carinho pela figura de Francisco Cândido Xavier (Pedro Leopoldo, MG, 2.4.1910 Uberaba, MG, 30.6.2002). O mais famoso médium do Brasil que por sua vez é o maior país espírita do mundo participou de minha trajetória através dos livros e mensagens que psicografou, mas acima de tudo através de seu exemplo. Um exemplo que, reconheço, eu seria incapaz de seguir, mesmo que de longe.
Hoje é o centenário de nascimento de Chico. Em alusão a isto, justamente hoje ocorre o lançamento do filme biográfico dirigido por Daniel Filho, uma produção mais cara do que a maioria dos filmes brasileiros, inclusive com a garantia de distribuição internacional e a estreia numa quantidade de salas maior do que o padrão. A indústria está funcionando de carona em um personagem real que sempre soube vender alucinadamente, sem no entanto guardar para si os louros e os lucros desse sucesso. Além do filme, as revistas estão se multiplicando nas bancas.
Engana-se, porém, quem supõe que isso seja apenas marketing. Chico Xavier foi um dos brasileiros mais extraordinários que já existiu. E suas ações, independentemente de enfoque religioso, serão lembradas para sempre, assim como as de Zilda Arns ou as de Herbert José de Sousa, o Betinho. Ou Gandhi, num nível internacional. Porque foram brasileiros regidos, acima de tudo, por um amor desmedido pelo semelhante, capazes de dedicar uma preocupação constante em relação às mazelas do mundo. Uma preocupação que não se externava em discursos e protestos vazios, mas num amor ativo e proativo, que vem a ser o que chamamos de caridade. Felizmente, um amor capaz de arregimentar soldados.
Como espírita, não sou proselitista. Não me interessa seduzir as pessoas para a minha religião. Não me interessa construir templos, sentar à mesa das autoridades ou perseguir vagas nos poderes executivo e legislativo. Interessa-me apenas que Chico Xavier seja lembrado como um homem bom, que fez a diferença por seu trabalho na concretização dos ensinamentos de Jesus. Os aspectos sobrenaturais (vocábulo que rejeitamos) relacionados à mediunidade ou ao outro mundo não são o mais importante e podem ser deixados de lado. Porque o trabalho no bem se faz aqui, neste mundo, por homens e mulheres de carne e osso.

Um comentário:

Fernanda disse...

Professor, confesso que não esperava e que fiquei bastante surpresa com sua revelação sobre ser espírita.

O espiritismo é algo maravilhoso, em minha opinião. Devo à doutrina espírita e às reuniões que frequento em determinado centro as grandes mudanças (para melhor) que sofri em minha vida, inclusive superando inúmeras dificuldades.

Espero que o senhor continue sendo guiado pelos bons valores que lhe são oferecidos.

Que os Espíritos de Luz lhe protejam!

Fernanda