Chegava em casa por volta das 22h50 de ontem, fazendo um trajeto um pouco diferente. Seguia pela Pedro Álvares Cabral no sentido Entroncamento-Júlio César. Quando me aproximei do confluência com a Tavares Bastos, o sinal ficou amarelo. Reduzi a velocidade por isso e também por avistar um indivíduo atravessando a rua, na faixa. De repente, o sujeito desviou na minha direção e, pondo-se quase na frente do meu carro, fez um gesto ameaçador com o braço esquerdo, mandando-me parar. A mão direita estava escondida às suas costas.
"Isso não está acontecendo!", foi tudo o que pude pensar. E antes que qualquer outro pensamento me viesse, engatei a marcha e pisei no acelerador, virando à direita na Tavares Bastos para fugir. A meu lado, minha esposa olhava para a frente, muda. E eu sentia como é plausível a expressão "coração na garganta". Só nesse momento comecei a pensar em tudo que poderia ter acontecido.
Raciocinando com mais clareza, depois, concluí que o assaltante estava na cara dura. Queria render vítimas na base da intimidação, porque com certeza não estava armado. Se estivesse, teria exibido a arma desde logo, inviabilizando uma reação. Mas, pelo que pude perceber, ele não teve nenhuma atitude quando fugi. Mas saber, mesmo, nunca saberei.
Perto de minha casa há uma unidade móvel da Polícia Militar. Parei lá e pedi providências. Forneci a descrição do sujeito — moreno, magro, camisa azul e bermudão vermelho — e o policial me disse que pegaria a moto e iria com o colega averiguar. Não sei se foi nem no que deu. Só sei que, quase uma hora mais tarde, dando o leitinho noturno de minha filha, agradeci a Deus por estarmos ali com ela, em paz.
Até que o sono me vencesse, a imagem do criminoso me vinha à mente de vez em quando. Assim surgem os terrores urbanos. Afinal, não há meios de evitar situações assim. Podemos até minimizar riscos, evitando certas ruas e horários. Mas não podemos ir além. Portanto, como dizem os Tribalistas, fé em Deus e pé na tábua.
13 comentários:
Dia desses me dei conta do quanto é fácil desenvolver uma síndrome do pânico nos dias de hoje.
Se parássemos pra pensar em tudo o que pode nos acontecer com uma simples saída de casa, iríamos surtar, sem dúvida.
Pensei no quão frágil é a nossa vida e o nosso corpo e que, de repente, aquela podia ser a minha última noite, ou a última em que eu andava, que tinha pais, irmãos, namorado. Mórbido, eu sei, mas é a realidade. No dia seguinte, em um segundo, tudo podia mudar e acontecer uma fatalidade comigo ou com eles, que acabasse com as nossas vidas ou as limitasse.
Pra mim, só há uma forma de viver em paz, sabendo de todas essas possibilidades: acreditar que qualquer coisa que vier vai ser para o meu crescimento pessoal e vai durar muito pouco, perto da eternidade da nossa existência. Se não fosse isso, acho que entraria em pânico.
Então, é isso aí, "fé em Deus e pé na tábua"...
Amigo, impossível te repreender ou chamar a atenção. O bandido podia ter sacado uma arma e atirado? Podia! Mas na hora, com tua mulher do lado, tua filha te esperando em casa, a única reação é de fuga, de desespero e sobrevivência. O ideal seria manter a calma, segurar as pontas... mas nem sempre o ideal é igual ao real, no meio da Pedro Álvares, de noite. Fique bem e cuidado.
Amigo, graças a Deus estás bem. Mas teu coração tem que ser menos cidadão algumas vezes. Eu nunca paro em sinal nesse horário. No máximo reduzo, por precaução (não sem antes olhar para todos os lados, visando avistar suspeitos), mas sigo em frente.
Infelizmente, é esta lei da selva que impera por aqui. Estamos muito longe de ser uma civilização.
Abraços.
Tens toda a razão, Luiza. De certa forma, penso que saio um pouco beneficiado pelo hábito que tenho de pensar em como seria a minha morte ou se me acontecessem coisas ruins. Todos me criticam por isso, inclusive dizendo que "atrai", o que considero uma bobagem. Penso que esse tipo de reflexão drástica me ajuda a encarar certas coisas com mais serenidade do que eu teria se jamais pensasse nelas.
Minha maior sensação, agora, é justamente a de que o episódio serviu de termômetro para mostrar como eu provavelmente reagiria diante do perigo. Isso me preocupou, porque fui impulsivo. Mas fiz o que julguei (se é que eu julguei, mesmo) mais seguro para mim e minha esposa.
Eu não me descuido, Fernando. Tento não me descuidar jamais. Tanto que, mesmo no escuro, avistei o sujeito a uma certa distância. Só não podia imaginar o que ele pretendia.
Com certeza, o fato me levará a redobrar as cautelas.
Francisco, eu não parei exatamente por cidadania. É que eu pretendia seguir em frente e não podia avançar o cruzamento pura e simplesmente, pois poderia colidir com algum veículo que viesse pela Tavares Bastos. Reduzi apenas para me certificar de que poderia cruzar com segurança, pois da posição em que me encontrava era impossível ver a transversal. Mas foi o suficiente para o criminoso.
À noite, evito parar e recomendo que as pessoas o façam. O que precisamos, mesmo, é de polícia na rua.
Pôxa, cuidado amigo! Qualquer coisa ligue que a gente, ou sai correndo atrás do ladrão, ou sai correndo do ladrão! Tamojuntos!
O Bem(meu marido) morre de medo que eu seja assaltada (nunca fui), pois na minha cabeça de vento, eu jamais deixaria um filho da puta levar meu carro.
Ouço sempre os policiais dizerem à população que não reaja.
Eu tenho quase certeza que reagiria, mas dizem que só sabemos de nossas ações quando realmente passamos pelo fato.
Fico feliz que, apesar do grande susto, vocês ficaram e estão bem.
O que eu acho mais curioso naquele cruzamento é que os lavadores de para-brisas só aparecem à noite, e ficam apenas na Pedro Álvares Cabral, justamente no pedaço mais escuro.
Ainda bem que estás bem.
Na saúde e na doença, Lafa!
Definitivamente, Ana, nunca sabemos como será a nossa reação. Confesso ter me surpreendido ao me dar conta de que arrancara com o carro, embora sempre tenha imaginado que, diante do perigo, tentaria resistir.
Verdade, wagner, é o trecho mais escuro. Vou me lembrar de evitá-lo, se for preciso passar por aquele cruzamento.
Obrigado a todos pela preocupação.
Sinceramente não sei onde esta cidade vai parar, Yúdice.
Em três dias, duas pessoas próximas a mim foram vítimas de assalto (ou de tentativa).
Sei que falar que Belém está pra lá de violenta pode parecer ridículo porque estou morando fora da cidade. Mas muito me entristece ver que a minha cidade está jogada às traças. E mais, que pessoas podem morrer por causa disso.
Lamento muito por teres passado por esta experiência traumática.
Bjs
Tônia.
Se algum dia passares por cima, me liga que eu te ajudo na legítima defesa putativa.
Antes ele do que tu (vocês).
Já pensaste se o put... estivesse armado e resolvesse atirar...?
Imagino o terror que vocês passaram. Eu, meu marido e minha filha já fomos assaltados e ficamos sob mira de revólver na cabeça. Felizmente nada nos aconteceu.
Mas o Fernando Rocha tem razão: eu também não paro em sinal à noite, apenas reduzo para evitar acidentes.
E que Deus nos proteja!
Abraço fraterno e bom fim de semana a todos.
Como não houve maiores implicações, Tônia, até consigo esquecer o assunto. A coisa volta à mente mais quando estou na rua, à noite. Obrigado pela preocupação e, no mais, todos lamentamos o rumo descendente que esta cidade tomou.
Fred, sempre cogitei a possibilidade de atropelar o cara, numa situação dessas. Como especulação. Mas na hora que me vi no sufoco, confesso que ela nem me passou pela cabeça. Juro que não passou. Só fui pensar nisso quando me deitei para dormir e fiquei rolando um tempo. No final das contas, não temos mesmo como saber qual será a nossa reação.
Franssi, é muito bom que, a despeito do que aconteceu às nossas famílias, continuamos aqui para trocar ideias e até nos esbarrar na rua, de vez em quando. Graças a Deus!
Que bom que estás, camarada!!!
Nossa!!!
Como dizia minha avó, benza Deus!
beijos na família!
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