sexta-feira, 4 de junho de 2010

Se fosse coisa boa, não daria ibope

Os mais chegados já devem saber que eu fujo de tudo que é massificado. Não gosto de modas ou tendências e isso se estende até aos assuntos eleitos para o blog. Assim, se está todo mundo falando do rebolation ou baculation (que diabo é isto?) imposto por policiais a três adolescentes que, até o presente momento, nem sequer sei se realmente cometeram alguma transgressão, meu interesse logo se desvanece. É como se estivéssemos numa profusão de vozes. Por que alguém escutaria logo a minha?
Neste caso em particular, fico ainda mais desmotivado diante da constatação — tão triste e lamentável quanto verdadeira — de que é impossível colocar o debate em termos, já que o nível dele é inevitavelmente tão baixo, rasteiro e medíocre, que aspirar a um mínimo de racionalidade é se expor ao ridículo: as pessoas tendem a ridicularizar aquilo que simplesmente não estão aptas a compreender. Que o digam as risadinhas no cinema, em meio a um filme que é tudo, menos uma comédia.
Como já escrevi em outra ocasião, a minha política de tolerância tem limites definidos hoje em dia. Escuto, comento, analiso e até respeito opiniões diametralmente opostas às minhas, desde que tenham um mínimo de fundamento ou lógica. Mas há um nível abaixo do qual eu simplesmente me recuso até a conversar. Frases de efeito ou expressões clichê são um bom sintoma de que não vale a pena perder tempo. Repetição de ideias prontas sobre as quais claramente não se refletiu, idem.
No caso de um tema como este, se o sujeito menciona "o pessoal dos direitos humanos" (sic), interrompo a comunicação imediatamente. É um caso perdido, assim como quando escuto alguém dizer que não vota em certo candidato porque "ele é comunista" ou que "no tempo dos militares era melhor". Eu abstraio essas afirmações como se os seus autores (rectius: reprodutores) fossem apenas um delírio de minha mente após o consumo de drogas pesadas. E eu nem as consumo!
De uns tempos para cá, inclusive como forma de lidar com as resistências que meus alunos trazem para dentro de sala de aula, produtos que são de nossa sociedade, tenho modificado meu discurso sobre direitos humanos. Passei a enfatizar sobretudo os aspectos técnico-legais. Falo menos de ética e mais da redação exata da Constituição de 1988 e das leis. Tais como a norma que proíbe a exposição vexatória da imagem de menores, inclusive quando delinquentes. Ou a norma que criminaliza a detenção imotivada e o retardamento da comunicação ao juiz, aos pais ou responsáveis. Ou as normas que definem como agentes públicos deveriam pautar-se quando em serviço, envergando ou não um uniforme militar.
Digo aos meus alunos que é compreensível que se deseje a mudança das leis. Mas enquanto elas estiverem em vigor, devem ser cumpridas, em respeito a algo que é maior do que a lei: os valores que presidem a organização de uma Nação, quaisquer que eles sejam. Mas isso é muito difícil de ser compreendido.
Sobretudo por quem não está nem aí.

PS — Tenho uma sugestão de punição para os policiais que fizeram essa palhaçada: eles devem cantar o Hino Nacional Brasileiro. Todinho. Sem erro. Com a mesma desenvoltura com que mandaram aquela pérola da música brasileira. Porque não se admite um policial militar que desconheça a letra do hino nacional. Caso o sujeito não saiba, deverá dançar o rebolation só de shortinho de ginástica, no pátio do quartel. Com direito a YouTube. Uma dancinha por erro.
Sou ou não sou misericordioso?

4 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Amém!

Yúdice Andrade disse...

Amém também, homem do quadradinho!

Ana Miranda disse...

Eu juro, pode até parecer sacanagem da minha parte, mas não é mesmo, mas eu nunca ouvi tal música. Nunca tive o desprazer, ouço comentários, e se passou por mim algum débil mental com o som nas alturas tocando isso, não prestei atenção, pois faço questão de desligar-me quando esses "negócios" passam por mim, esteja eu de carro ou "de a pé".
Eh...eh...eh...

Yúdice Andrade disse...

Se puderes, Ana, continua assim!