sábado, 10 de julho de 2010

Redescobrindo o mito

Gostando ou não da figura, não há como negar ainda mais em tempos de filminho emo bombando nos cinemas pelo mundo todo que os vampiros despertam um fascínio grandioso e imorredouro sobre as pessoas. Não há quem não tenha ouvido falar de Drácula, embora a lenda tenha sufocado a realidade.
Muita gente ignora ou até não acredita que existiu realmente um Conde Vlad Tepes, na Transilvânia, região da Romênia, Europa Oriental, local até hoje dado a crenças no sobrenatural e no assustador. Imagine-se então na Idade Média!
Não é difícil entender como esse tipo de dinâmica funciona. Aqui no Pará, até hoje existem pessoas que acreditam, pela fé da mucura, na existência das criaturas míticas da floresta. Uma tia falecida contava, com enorme convicção, do encontro que seu pai teve com a Cobra Grande. Em suma, o imaginário popular dá um jeito de transformar as lendas numa curiosa espécie de realidade alternativa, que funcionou em níveis superlativos com o Conde Drácula.
Agora, uma exposição no Museu Nacional de Arte da Romênia, em Bucareste, pretende estudar a fundo, e com seriedade, a lendária biografia de Vlad Tepes. A intenção é demonstrar que ele não era mais do que um nobre de sua época, lutando pela defesa do território de seu povo contra turcos e húngaros. Nada de sobrenatural. Nada além do trivial daquele momento histórico. E segundo as leituras atuais, Vlad era sanguinário, sim, mas nada além do que se podia esperar, considerando as práticas da época. Modifica-se, assim, uma antiga assertiva de que a lenda de Drácula teria recaído sobre Vlad Tepes por ele ser particularmente cruel.
Revisionismo histórico, com método científico e sem prevenções. Lamento profundamente que Bucareste seja tão longe.

4 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Mas, Yúdice, que diferença há entre alguém que jura pela fé da mucura que viu a Cobra Grande de alguém que diz ter encontrado JC? Será que as lendas do Oriente Médio são mais críveis que as nossas? Deveriam fazer uma revisionismo histórico nestes casos, também.

Yúdice Andrade disse...

Creio que seja um consenso entre os historiadores que Jesus Cristo de fato existiu, Fred. Ele está muito longe de ser uma lenda. A polêmica pode girar em torno de seu papel histórico e de outros aspectos, que foram arbitrariamente instituídos pela Igreja Católica em sua sanha por poder. Se ela não tivesse inventado essa história de ser homem e ser Deus, de Maria virgem e de um monte de outras impossibilidades materiais, a análise histórica de Jesus seria bem mais simples e metódica. E mesmo assim não faltaram bons e sérios pesquisadores tratando do assunto.

Francisco Rocha Junior disse...

Caros,

Acho que estamos confundindo alhos com bugalhos.
Uma coisa é o estudo histórico dos personagens, seja Jesus Cristo, Vlad Tepes, Maomé, ou outro que tenha existido.
Outra, totalmente diferente, é o imaginário popular, que gera lendas a partir de entes que tenham ou não existido, e que têm sua própria forma e validade de ser estudada. Ou alguém vai negar valor às nossas lendas, ou à que Bram Stoker transformou no sucesso literário do Conde Drácula?
O terceiro ponto, também completamente diferente dos outros, é a crença em entidades superiores ou o respeito a instituições religiosas que, a par aquilo que o fanatismo e a intolerância podem fazer para pessoas que não professam os mesmos ritos, devem ser respeitados.
Portanto, perdoem-me, mas misturar crenças religiosas com crendices populares é despropositado, da mesma forma como o é desmerecer lendas populares por causa de sua falta de cientificidade.
Abraços.

Yúdice Andrade disse...

Caríssimo Francisco, o Fred se apresenta como "ateu", não podendo eu avaliar o limite de tolerância com questões de cunho religioso. Já eu sou espírita e, como tal, cristão, de modo que reconheço não apenas a existência, mas como o imenso e incomparável valor que a passagem de Jesus pela Terra teve. Não adoto conceitos como "profeta", "Messias" e outros, originários da religião judaica ou construídos posteriormente pelo catolicismo. Nem acho isso de fato relevante, porque o essencial é mesmo a doutrina que ele nos legou, devidamente exemplificada pela vida que teve.
Creio que a minha resposta ao Fred não confunde estudo histórico de personagens reais ou não com lendas, nem desmerece o papel destas como traço cultural dos povos.
E se eventualmente o meu texto transpareceu desrespeito a instituições religiosas, não foi a minha intenção. Devo dizer em minha defesa, contudo, que os historiadores já demonstraram que boa parte (se não a maior parte) dos fundamentos do catolicismo foram arbitrariamente decididos nos diversos concílios realizados durante a Idade Média. Sabemos, faz muito tempo, que a Igreja decidiu transformar o homem Jesus em filho de Deus (o que, aliás, somos todos) e criou (daí o verbo "inventar", que utilizei) o conceito de "Espírito Santo". Sabemos, também, que a virgindade de Maria e sua ascensão aos céus sem morrer também foram criados, por conveniência.
Por último, sabemos que a motivação para tudo isso nada tinha de religioso e era, sim, sanha por poder, o que custou incontáveis vidas inocentes e atraso ao desenvolvimento da humanidade.
Isto, meu caro, não é ofensa: é fato.