quinta-feira, 1 de setembro de 2011

É isso o que queremos

Detento conclui curso superior em Castanhal

O interno Ricardo Oliveira de Souza, 26 anos, que cumpre pena em regime semiaberto na Colônia Agrícola Heleno Fragoso, no município de Santa Izabel do Pará, Região Metropolitana de Belém, concluiu o curso de Tecnólogo em Redes de Computadores pela Faculdade de Castanhal (Fcat). A conquista foi possível em virtude dos projetos de ressocialização desenvolvidos na unidade penal.Quando foi preso, Ricardo tinha o ensino médio completo. No sistema penal, ele participou de vários projetos de reinserção social, deu continuidade aos estudos, prestou vestibular e foi aprovado para fazer o curso superior. Para o diretor da Colônia Agrícola, Andrés Nunez, esta conquista do interno é um orgulho. A colônia, explica, desenvolve projetos nos eixos de educação e trabalho.“Mesmo privado de liberdade ele aproveitou as oportunidades e alcançou a ressocialização. A Colônia Agrícola é a porta de saída para a liberdade. Ele é o resultado do trabalho desenvolvido aqui”, acrescentou. Para Ricardo, o ensino superior representa uma grande vitória em sua vida. O suporte educacional dentro do cárcere foi fundamental. “Eu não desisti e, mesmo privado de liberdade, consegui realizar meu sonho”, afirmou.O titular da Superintendência do Sistema Penal (Susipe), Francisco Bernardes, ressaltou que o objetivo é mudar o conceito de unidade prisional existente. Uma das maiores preocupações é proporcionar o máximo de oportunidades pela educação e formação profissional para os detentos. “É preciso investir nas pessoas, pois essa é uma forma de mostrar que elas são importantes para nós”, reforçou. (Ascom Susipe)

O mais das vezes, quando se fala em ressocializar o criminoso, na verdade se deveria falar em socializá-lo, porque nunca antes teve a oportunidade de ser socializado. Numa perspectiva ou em outra, contudo, esse dificílimo objetivo só pode ser alcançado (ou pelo menos tentado) se houver uma parceria honesta entre o detento e o Estado.
No caso aqui relatado, o protagonista já era privilegiado por ter podido concluir o ensino médio. Teve a sorte (no Brasil, é sorte, mesmo) de cumprir sua pena numa casa penal que lhe deu várias oportunidades, inclusive a especialmente relevante e incomum do ensino superior. Também deu sorte de estar numa cidade onde havia uma instituição de ensino superior e de ter sido capaz de pagar a mensalidade. A matéria não esclarece como, mas se ele trabalhou, ou se a família pode ajudar, ou ainda se utilizou o ProUni, em todos os casos isso é uma grande sorte.
Quando Ricardo extinguir sua pena, terá uma vida totalmente pela frente. Uma vida que pode virar a página dos seus erros e lhe permitir recomeçar de forma plena, como todos merecemos. Mas se ninguém apostasse nele, o resultado seria o mesmo de sempre.

7 comentários:

Anônimo disse...

Ótima notícias para começar o mês. Fico muito feliz com o desfecho, que, sabe-se lá como o rapaz conseguiu superar os não poucos desafios. Você sabe qual foi o delito pelo qual ele preso? Para não ofuscar o brilho da reportagem, um fato dito pelo diretor merece uma investigação rigorosa, que ela é a porta para a saída; de fato, é sim: mas a colônia heleno fragoso é um antro de fugas que eu nunca ouvi falar em outro sistema prisional no país. São corriqueiras as notícias de detentos que fogem de lá, muitas mesmo. Você tem notícias sobre isso, ou já parou pra observar o sanguinolento noticiário policial? Ainda não soube de esatístiticas, mas notícias de recapturados não faltam. Para esse rapaz, uma boa sorte nessa nova etapa da vida e, caso ele se sinta à vontade, passar a explicar sua experiência de vida a outros detentos.

Liandro Faro disse...

Prezado,

Mesmo diante da falta de oportunidades, e "do acreditar" nas pessoas, penso que, antes disso, a pessoa precisa acreditar em si mesma e no seu potencial de recuperação, acreditando numa vida menos dolorosa.

Sei que o sistema não ajuda, mas nós mesmos não nos ajudamos, também. Aí fica difícil.

Abs

Frederico Guerreiro disse...

Boa! E sem retoques teus comentários.

Daniel Giachin disse...

Excelente post Yúdice.
As chances desse cidadão reincidir caem drasticamente quando ele é (re)socializado.

Precisamos urgentemente de mais iniciativas como essa, são as que dão mais resultados práticos na diminuição da criminalidade, porém, são as que dão mais trabalho e exigem maior esforço do Estado.

Infelizmente nossa sociedade vingativa não está pronta para ações em massa como essa. Poucos acham que os presos merecem tratamento humano e oportunidades, afinal, devem pagar pelo seu crime com a desumanidade, terror e brutalidade do sistema prisional.
Essa lógica (que é ilógica) ainda domina a maioria das mentes de nós brasileiros.

Não conseguimos enxergar que a desumanidade e (des)soclialização do sistema prisional é que GARANTE que os presos, ao serem libertos, voltarão a cometer crimes.

Um abraço!

Anônimo disse...

Yudice, resta saber o nível do curso e do formando e o local onde le vai trabalhar. É bonito o texto e a analise do conteudo porém, quais serão os resultados praticos.

Anônimo disse...

"É isso O que queremos"

Yúdice Andrade disse...

Não, das 21h40, eu não sabia que os índices de fuga na Heleno Fragoso eram particularmente ruins. Vale dar atenção a isso, para tentar saber as causas. Além disso, para lá vão presos de outros Municípios, então se há fugas e esses foragidos logo cometem outros crimes, a sociedade local está com um problema que não deve ser menosprezado.
A propósito, minha primeira lembrança foi acerca do crime por ele cometido. Contudo, a reportagem não informa.

Concordo com isso no meu íntimo, Liandro. Mas convenhamos que esse tipo de pensamento exige uma pessoa com melhor desenvolvimento psíquico e sobretudo espiritual. Muitas pessoas simplesmente não acreditariam nisso.

Valeu, Fred.

Correto, Daniel. Não me admira que os meus habituais críticos apareçam por aqui criticando a notícia, dizendo que outros tantos sairão da cadeia "diplomados" para cometer novos crimes e blá blá blá. Não respondo mais a esses. O nível é baixo demais para que percamos tempo.

Quanto pessimismo, das 13h54! Talvez o rapaz nem tenha emprego ainda. Talvez ele não possa ser absorvido pelo mercado local. O que estou comemorando é ele ter-se empenhado por estudar, o que já dá mostras de um bom caráter, de seu desejo de viver honestamente. Mas, como todos, ele também aguarda as oportunidades que precisam surgir. Pelo menos, está fazendo a parte dele.

Fiz uma concessão à linguagem coloquial, das 17h43. Há postagens cujos títulos são erros gritantes de português. Mas se faz diferença, coloquei um "O" lá para você.