quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Já que...

Compreendo as paralisações que os médicos fazem, no atendimento aos usuários de planos de saúde, para forçar negociações com as seguradoras. Os valores pagos por consultas e procedimentos é vexatório e, pior ainda, a relação é desigual e desrespeitosa, na medida em que as empresas abusam do direito de glosar valores, atrasam pagamentos e criam embaraços para a realização de exames mais complexos e cirurgias.
A relação com os consumidores também não é das melhores, porque sofrem com as negativas a pretensões justas, muitas vezes precisando recorrer ao Judiciário para ter acesso a certas coberturas. Sem falar no tormento que é, hoje, conseguir atendimento ou mesmo marcar consulta, a menos que seja particular.
Mas é preciso deixar claro que, ao interromper o atendimento aos planos, os médicos acertam muito diretamente os consumidores, sem maiores consequências para as empresas. Afinal, no dia do vencimento a fatura terá que ser paga na íntegra. Ou seja, as empresas não sofrem prejuízos econômicos, mas o cidadão pagou por um dia de contrato no qual não teve acesso a atendimentos, sem culpa própria.
Por isso, faço uma sugestão aos médicos: que encampem imediatamente a ideia de que a categoria deve se mobilizar para que o Congresso Nacional aprove, com urgência, uma lei determinando que a suspensão do atendimento aos usuários de planos de saúde, por circunstâncias alheias à vontade destes, deve obrigatoriamente ser compensada por meio de desconto dos dias respectivos, na fatura do mês subsequente.
Penso que essa é a única forma de fazer as empresas temerem de verdade essas manifestações. Afinal, a interrupção de um único dia, sem atingir os serviços de urgência e emergência, irritam o consumidor, mas este não se dará ao trabalho de fazer exigência à operadora, até que se sinta concreta e pessoalmente afetado. Logo, é preciso que haja a certeza prévia de um prejuízo às empresas, que assim podem até se antecipar, negociando, para evitar a paralisação.
Que acham?

5 comentários:

Anônimo disse...

É um pensamento coerente. Os planos de saúde são ajustados constantemente (salvo engano, essa correções se dão anualmente na maior parte dos contratos) pelos índices de inflação e os valores pagos aos médicos não, esse ano, assisti uma reportagem na qual o sindicato dos medicos pedia uma reajuste de 80% dos planos de uma vez, posto que estavam há mais de 8 anos sem receber nenhum reajuste, o representante dos planos alegava que eles não dispunham de recursos pra arcar com tamanho aumento de custos de uma vez e ofericia algo como 15%.
Surge então uma questão: por que diabos eles corrigem os valores anualmente e passam 8 anos sem reajustar os valores pagos aos médicos?
O que acaba acontecendo é uma greve que assim como a greve dos funcionários da construção civil, prejudica especialmente ao "cidadão comum" e minimamente os (maus) empresários.

Yúdice Andrade disse...

Pois é, meu caro. Tudo cai na conta das despesas operacionais, mas os números concretos não são conhecidos, apenas a versão dos próprios empresários.
Se é verdade que, numa cidade como Belém, um dia na UTI pode custar 5 mil reais, também é verdade que a grande maioria dos clientes pouco usa os serviços. Eu, p. ex., cliente de plano de saúde há mais de uma década, fiz tão poucas consultas e exames nesse período que sempre brinquei dizendo que devem ter a minha foto na parede, como cliente ideal.
E considerando que os valores pagos aos médicos estão abaixo dos preços de mercado (cobrados do particular), a desculpa dos custos realmente não cola.

Anônimo disse...

Caro Yúdice

Discordo de você no tocante ao "valor vexatório" das consultas. Os médicos recebem em torno de R$ 40,00 por consulta, que, em geral, não demora mais do que 10 minutos.

Façamos as contas : em uma hora serão 6 consultas, o que dará R$ 240,00 por hora. Se o médico trabalhar 4(QUATRO) horas por dia, então teremos R$ 240,00 X 4 horas = R$ 960,00/dia.

Multiplicando-se os R$ 960,00/dia por 20 dias úteis ao mês, teremos um total, mensal, de R$ 19.200,00.

Atente-se que, além da consulta, quase sempre os médicos realizam procedimentos nos próprios consultórios, como endoscopias, cardiogramas, ultrasom, etc, etc. , e que são procedimentos onde recebem valores mais, digamos assim, substanciais.

Assim, ainda que eu reconheça que são as operadoras que ficam com a parte do "leão", os médicos certamente ficam com a parte da "onça". Ganhar R$ 19.600,00 para trabalhar 4 horas por dia é - creio eu - um excelente vencimento.

Kenneth Fleming

Cléoson Barreto disse...

Olá!
Considerando que um médico receba R$-40,00 por uma consulta pelo plano de saúde, e que ele demora mais de 30 dias pra receber esse valor e ainda corre o risco de sofrer as glosas da operadora do plano de saúde, não seria mais interessante que ele cobrasse esses R$-40,00 diretamente do paciente? E se ele aceita esse valor do plano de saúde, por que cobra R$-150,00, R$-200,00 por uma consulta particular?
Um abraço.

Yúdice Andrade disse...

Caros amigos Kenneth e Cléoson, não tenho nenhum interesse em advogar a causa dos médicos, neste momento. Mas pondero que eles costumam ter zilhões de empregos, para manter um nível decente de renda. Nem todo médico está bombando em SUV importado.
O cálculo que você fez desconsidera variáveis como as despesas operacionais, para manter os consultórios funcionando. Eu realmente não acho que médicos ganhem mais de 19 mil por mês por apenas quatro horas de trabalho.
Outrossim, os custos elevados das consultas particulares é uma forma de se compensarem dos valores baixos pagos pelos plano de saúde. Convenhamos, meu amigo, 40 reais por um atendimento especializado é pouco. Um eletricista ou encanador cobra mais do que isso.
Pessoalmente, não recrimino quem bota preço alto no próprio trabalho. O condenável é não corresponder a isso e atender mal. Se o médico fica só 10 minutos com o paciente e nem lhe olha na cara, merece ser reprovado por isso.