terça-feira, 6 de setembro de 2011

Preparadíssimo

A equipe íntima de Duciomar Costa tem a cara de Duciomar Costa. Em entrevista publicada hoje no Diário do Pará, o faz-tudo Sérgio Pimentel — que era dado como nome certo à sucessão do indigitado até ter sua prisão preventiva decretada em um dos incontáveis escândalos da Secretaria Municipal de Saúde — mantém sua pretensão de candidatura e se declara preparado para o cargo, citando como argumento o grande, o imenso, o fabuloso trabalho que a atual administração vem fazendo na cidade, com inúmeras obras magníficas e etc. Um dos argumentos, contudo, me chamou mais a atenção:

O prefeito vai fechar o mandato com praticamente três mil ruas asfaltadas. Isso nenhum prefeito fez, nem Antônio Lemos.
Para começar, essa mania de invocar Antônio Lemos como referencial para gestões atuais é um clichê pra lá de tosco. Mas o pior mesmo é pensar em Antônio Lemos asfaltando três mil ruas ao tempo que governou a cidade.
Lemos se tornou intendente de Belém no ano de 1897 e permaneceu no poder até sua deposição em 1912. Faleceu em 1913, já no Rio de Janeiro. Governou, como todos por aqui deveriam saber, na fase da Belle Époque, quando Belém era rica, bela e moderna. Mas era minúscula, rural e suas ruas, quando tinham calçamento, eram calçadas com pedras, como ainda se vê em trechos do Centro Histórico e da Cidade Velha. Suponho até que Lemos nunca mandou asfaltar uma rua sequer, simplesmente porque não era o material então utilizado.
Abstraindo o fato de que na contagem da prefeitura entram aquelas passagenzinhas minúsculas, assim como a qualidade do serviço feito, sugerir que Duciomar Costa superou Antônio Lemos por causa do número de ruas asfaltadas é como um cardiologista dizer "Já realizei 100 mil angioplastias. Isso nenhum médico fez, nem Ivo Pitanguy".
Mas qual a surpresa?

5 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, eles não falam para pessoas como nós. A sociedade e o eleitor já estão divididos pela política de interesses. Eles não querem dizer "asfaltamos como nunca antes", mas "fizemos mais que todo mundo"; e "por isso merecemos permanecer no poder". É diferente.
Asfalto, para o povão, a massa eleitoral, tem muito mais visibilidade que a escola, o posto de saúde e a água que chega às torneiras. É apenas uma questão de estratégia político-eleitoral. Essa gente não consegue mais pensar sem ser no voto.
Para que essa e outras cidades passem a ter melhor administração pública, seriam necessárias medidas impopulares. Um Fred como prefeito certamente seria impichado do poder, por não fazer parte daquela classe que representa o pensamento de massa, isto é, o pensamento mais conveniente.
Esse tal "rei do lixo" já se vai em pouco tempo. E que não volte mais, a não ser que o pensamento dominante supere a previsibilidade.

Anônimo disse...

Realmente defender a administração do DUDURISSIMO é missão ingrata, porém, esse capiroto esta novamente pronto para dar o bote. Hoje a imprensa divulgou a compra de mais de 20 equipamentos "ARARA" e similares para logicamente aplicara variadas multas nos motoristas que circulam neste trânsito infernal, é logico que já preparando o caixa de campanha para a eleição do ano vindouro. O pior de utosd é que aind avai ter alguns bucefalos que vão cair novamente na conversa do nosso inigualavel alcaí de e votar em seu candidato. Por favor para tudo que eu quero descer.
Adolfo Alves.

Yúdice Andrade disse...

É verdade, Fred. Asfalto é, curiosamente, a moeda que mais pesa no mercado da captação dos votos de uma farta parcela da população manobrada como inocentes úteis. Estou ciente de que o argumento tem endereço certo. Mas quero crer que o cenário está mudando.

Adolfo, sem a menor dúvida que isso tem a ver com o caixa de campanha. Contudo, não creio que o malsinado faça seu sucessor, porque o eleitorado é tão despreparado que isso, às vezes, funciona contra o mau candidato. É que os eleitores costumam ser personalistas: votam num péssimo candidato, que está no poder, porque já o conhecem, mas não votam num bom sucessor, por não o conhecer.
O primeiro caso explica como o próprio Duciomar conseguiu se re-eleger (além do uso da máquina, claro). E o partido não tem qualquer nome apresentável. Este é o momento propício para resgatar a cidade dessa canalha. Resta saber em quais mão jogá-la.

Francisco Rocha Junior disse...

Duciomar poderia dizer: fiz 1.000.000 de cirurgias de catarata. Isso nem Santa Luzia fez.

Yúdice Andrade disse...

Simplesmente magnífica, Francisco!