domingo, 15 de outubro de 2006

Dia do professor, claro

Minha amiga Alana Barboza me mandou uma mensagem via Orkut, dizendo: "dia dos professores, dia de Santa Teresa D'ávila, dia da alegria, dia de quem se doa sem troca, dia do amor".
Procurava alguma coisa especial para escrever sobre o dia do professor, pela razão óbvia de que desejo encher a bola de nossa categoria. Mas vou dispensar as citações grandiloquentes, embasadas em nomes célebres. Vou-me embasar na Profa. Alana, que todos os dias entra num barco e se dirige à Ilha do Combu, onde ficam as escolas onde leciona. Escolinhas de madeira, em meio a muito verde, onde meninos de pé no chão passam se lambuzando em frutas colhidas por ali mesmo. O ritmo frenético da cidade substituído pela tranquilidade do mato e da beira do rio.
Pensam que vou descrever um cenário idílico? Na verdade, a Profa. Alana tem a obrigação de alfabetizar famílias que, de tão arraigadas àquele mundinho, muitas vezes nem sequer estão convencidas de que escola é importante. Essa coisa de desenvolver a plenitude das capacidades intelectuais e espirituais do ser humano não lhes diz nada, às vezes. A mera sobrevivência é sempre prioridade.
Contou-me Alana, certa vez, que precisou se esforçar para convencer uma família a permitir que uma criança, com suspeita de hidrocefalia, frequentasse a escola. Envergonhados, eles não queriam expor o garoto. Depois se descobriu que o menino não tinha aquela moléstia. Era subnutrição da braba, mesmo. Com cuidados especiais, ele melhorou bastante, mas tem os déficits previsíveis das crianças que não são corretamente estimuladas no momento adequado, seja quanto às necessidades biológicas, seja quanto às afetivas.
Alana é uma professora de verdade. Abnegada, sabe que seu ofício lhe exige muito mais do que cuspir informações. Sabe que ser professor exige um envolvimento ímpar com os seres humanos que estão ali para aprender. E, no seu caso, esse envolvimento vai a níveis inimagináveis para mim, que leciono numa faculdade particular, para jovens bem articulados que chegam, muitos, de carro e cujas preocupações cotidianas são as datas das provas — jamais o que comer.
Feliz dia, Profa. Alana! Em teu nome saúdo cada membro de nossa classe, em especial os professores das redes municipais e estadual de ensino, escorchados dia a dia em jornadas de trabalho impossíveis, sem a menor condição de estudar, de fazer uma pós-graduação, de comprar livros, de ter um computador, de viajar para um seminário, etc.
Felizes vós, seres humanos, que adotaram o magistério, em qualquer um de seus níveis, não como um bico ou como escape de sua vaidade pessoal. Que o adotaram como uma escolha de suas vidas, ao preço de se sacrificar as horas que deveriam ser de repouso, horas essas nunca verdadeiramente remuneradas pelos vencimentos abaixo do devido.
Ajudar na construção de ao menos um homem de bem já deve ser o pagamento maior de nossas vidas.

5 comentários:

Ivan Daniel disse...

Parabéns, professor Yúdice! Parabéns a todos os professores!

Marco Aurélio disse...

Yúdice

Parabéns a todos os meus colegas de profissão. Que as coisas em relação a educação mudem neste país.

Um abraço

Marco Aurélio

Frederico Guerreiro disse...

Parabéns por hoje!

Yúdice Andrade disse...

Grato pelas felicitações. Caro Marco Aurélio, novo pelas minhas bandas, volte sempre.

Anônimo disse...

Parabéns a você pela data significativa de ontem (15/10/06)! E à profª Alana tb!!!
Assim como a toda a sua categoria! :)
Um forte abraço.
Michelle Teles (sua ex-aluna)