domingo, 1 de outubro de 2006

Daqui a onze, treze anos...

Bem que tentei não falar de eleições nesta primeira postagem do mês, mas acho que seria ficar fora da realidade e, seja como for, só duas coisas estão na minha cabeça neste momento: as eleições e um sentimento de solidariedade pelas famílias das vítimas do voo 1907 da Gol. Mas não quero falar em políticos ou candidatos, então me concentro em algo que vi quando fui votar.
À minha frente, em minha seção eleitoral, estava uma senhora com seu filho, um garoto de cerca de cinco anos. Sempre tive raiva dessa coisa de levar criança para seção eleitoral. Em geral, atrapalha e faz o mala sem alça demorar ainda mais, atrasando quem aguarda na fila. Eu, por exemplo (Lei de Murphy: estão sempre na minha frente, nunca atrás). Hoje, fiquei aborrecido mas, quando a jovem senhora passou ao meu lado, vi que segurava pela mão um menino muito sorridente. E lhe disse, afetuosamente: "Viu como é fácil?"
Não sei se ela levou a criança por desejar mostrar-lhe o ato de votar ou se apenas não tinha com quem deixá-lo. Seja como for, ela aproveitou para dar ao garoto uma lição, adequada a sua idade, de que em algum momento somos todos chamados a tomar uma decisão. Daqui a alguns anos, quando ele for capaz de compreender o que significa um pleito, lembrar-se-á de já haver estado numa seção eleitoral e se divertido com isso. Talvez sua curiosidade e satisfação, hoje, lhe inspirem um sentimento de expectativa pelo dia em que ele poderá votar.
O menino desta manhã votará daqui a onze, treze anos. O que terá mudado nesse meio tempo? Teremos eliminado ao menos alguns dos criminosos políticos de hoje? Teremos aprendido a duvidar de propagandas, pesquisas e jornais locais? Teremos entendido que o Estado não existe para ser cabide de emprego? Teremos assimilado que vícios políticos nunca são pequenos o bastante para que os ignoremos? Teremos compreendido que quando inimigos ferrenhos se tornam aliados isso não pode ser bom para a sociedade?
Teremos acabado com as polarizações partidárias? Terá a sociedade civil deixado de ser tão inerte.
Qual será o futuro daquele menino de sorriso orgulhoso desta manhã? E do filho que eu pretendo ter e que, pela minha vontade, nascerá durante o mandato do presidente e do governador com maior sucesso nas urnas hoje e, talvez, daqui a mais alguns dias?
Perdi a capacidade de ter esperança. Mas rezo por este país.

Observação: O final da postagem foi eliminado por ser piegas e não espelhar o meu sentimento. Acho que não estava muito bem naquele dia.

Um comentário:

DE-PROPOSITO disse...

Os desfavorecidos da sorte não têm aceeso à NET.
Manuel