domingo, 1 de outubro de 2006

Fanatismo


Já que estamos no primeiro dia de um novo mês — e um mês especial, devido ao clima do Círio, na próxima semana —, decidi fazer algo em relação a que já estou muito atrasado: uma homenagem a minha esposa Polyana, que é quem me ajuda a mexer nesse tal de HTML. Aliás, é quem me ajuda a viver feliz, pois sem ela este nosso mundinho maluco seria bem sufocante.
Escolhi um soneto da Florbela Espanca, que significa muito para nós, devido a certos acontecimentos felizes. Pelo amor de Deus, não digam que essa é a letra da música do Fagner! O cantor pernambucano, anos atrás, gostava de gravar canções feitas sobre poemas de grandes nomes, como Cecília Meireles e seus Canteiros e, mais recentemente, a duvidosa Borbulhas de amor, cuja versão em português foi composta por Ferreira Gullar que, em todo caso, tem o meu respeito. Fanatismo é apenas outro exemplo.

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.Meus olhos andam cegos de te ver!Não és sequer a razão do meu viver,Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...Passo no mundo, meu Amor, a lerNo misterioso livro do teu serA mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."Quando me dizem isto, toda a graçaDuma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,Que tu és como Deus: Princípio e Fim! ..."

Florbela Espanca foi uma poetisa trágica, bem ao gosto da época. Nasceu em Vila Viçosa, no Alentejo. Sua poesia foi ignorada por toda a sua vida e espelhava o que era essa vida (ou o que ela pensava ser sua vida: sofrimento, solidão, desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito, segundo site a ela destinado). Morreu antes de completar 36 anos, de uma "doença que ninguém entendeu", provavelmente nevrose, como consta de sua certidão de óbito. Mas na verdade, ela padeceu do mal dos românticos: suicidou-se ritualisticamente da noite de 7 para 8 de dezembro de 1930, nas palavras de Maria Lúcia Dal Farra, que organizou uma antologia para a Martins Fontes.
Nada como a poesia romântica dos desesperados. Viva o amor!

2 comentários:

DE-PROPOSITO disse...

Uma mulher que viveu 'já muito além do seu tempo'. E naquele tempo não perdoavam, nem a própria religião católica.
Manuel

Yúdice Andrade disse...

Mais razões para admirá-la, além de sua poesia maravilhosa.