domingo, 29 de outubro de 2006

A tal biografia (parte 2)

Ok, a votação ainda nem terminou, mas ninguém pode esperar, a sério, uma surpresa diante dos prognósticos trazidos por todas as pesquisas divulgadas desde o primeiro turno. Dentro de algumas horas, Lula será declarado re-eleito e, com isso, dá novo alento a sua biografia, sobre a qual elucubrei em postagem de 15 de outubro passado.
Como eu dizia, perder este pleito implicaria em arruiná-lo no cenário político nacional, já que sua imagem ficaria associada a escândalos de corrupção, à incapacidade de assumir responsabilidades, à falta de aptidões intelectuais dada sua insistência em nunca saber de nada, além de outros problemas. Acima de tudo, seria a maior decepção política da história brasileira e uma das maiores do mundo. Lech Walesa, famoso líder sindical que acabou presidente da Polônia em 1990 (além de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz em 1983), também não fez um bom governo, não sendo re-eleito em 1995. Com isso, teríamos dois ex-líderes sindicais fazendo governos pífios e sendo rejeitados pelo povo, em contextos sócio-político-geográficos diferentes, em períodos diferentes. Creio que isso acirraria as dificuldades de sucesso de outro político com perfil semelhante.
Ocorre que Lula é um fenômeno. Cercado de lama por todos os lados e abandonando seus amigos e aliados um a um, quando preciso, gera para si uma firme imagem de inconfiabilidade: nem o povo nem seus tradicionais companheiros podem esperar muito dele. Sem demonstrar nenhum interesse por estudar e insistindo em seu jeitão de aprendi-com-a-vida-e-isso-basta, falando bobagens em seus improvisos, cometendo gafes atrás de gafes, fazendo gastos duvidosos (o "Aerolula") ou indecentes (os cartões de crédito corporativos), tomando decisões polêmicas e inúteis (como no caso do jornalista Larry Rotter), metendo-se em alianças sórdidas (com o PMDB e seu Sarney), há incontáveis motivos para se falar mal de seu governo e dele mesmo, como pessoa.
Lula, porém, segue vitorioso. Sua re-eleição lhe dá força para persistir como está. As primeiras análises que li sugerem que a oposição será obrigada a baixar o tom nesse segundo mandato, pois não adianta fustigá-lo: o povo o aprova. Bater nele representa prejuízos graves — que o diga Antônio Carlos Magalhães. Então o jeito vai ser fazer oposição mas, na hora de dizer não, terão que dizer "não, obrigado".
A única explicação que encontro para esse sucesso, contra tudo e todos, é que Lula tem mesmo a cara do povo. De algum modo, é isso. Quem escolhe é a maioria e a maioria, neste país, tem necessidades básicas, como comer e arrumar um trabalho. Quem transita nesse estágio não tem condições de se preocupar com ideologias e nem mesmo com ética. Não se esqueçam que este é o país do rouba, mas faz.
Desaprovo o governo Lula, mas votei nele. Incoerência? Não. Meu ódio imarcescível pelo PSDB e por qualquer partido de tradicional direita nesta país me parece coerente. Faço o que for preciso para impedir que retomem o poder. Para mim, ruim com Lula, pior sem ele. Se não posso impedir que oligarquias mandem neste país, tentarei derrotar as que sempre se locupletaram dele. Quero ver os poderosos humilhados. "Os reis caminhando nus com a ira das potestades", como canta Zé Ramalho.
O duro é pensar que o PT se resume a Lula. Em 2010, não haverá nome para a presidência que sobrepuje todas as mazelas em que o partido se envolveu. Então os nomes mais fortes serão novamente do PSDB: Serra, Aécio Neves e o próprio Alckmin. Agora é esperar que eles se engalfinhem pela candidatura e se implodam. Mas muita água ainda vai correr...

Acréscimo em 8.9.2011
Os principais nomes do PT foram caindo... envolvidos em escândalos de corrupção. Mas o fenômeno Lula fez sua sucessora. Era um fenômeno maior do que se pensava.

2 comentários:

Ivan Daniel disse...

As apostas pra 2010 estão abertas! Mas, 'pera lá! O governo chega em 2010? Se o PT e a oposição deixarem...

Anônimo disse...

A única explicação que encontro para esse sucesso, contra tudo e todos, é que Lula tem mesmo a cara do povo. De algum modo, é isso.

Leonardo-Ortega y Gasset ficaria impressionado com o Brasil. Explico: o homem-massa habita entre nós. Até um tempo atrás, o povo votava em pessoas mais cultas e instruídas do que ele, pq queriam ser melhor representadas. A idéia de uma cultura elitista ainda existia no Brasil, o que fazia ao menos, o povo se esforçar a votar nos menos piores. Mas como as classes intelectuais de botequim deste país odeiam a cultura superior e erudita, e como querem ser governados pelos faxineiros analfabetos, (já que para estes marxistinhas, a história vingará os malvados bem sucedidos), só restou ao povo votar nos piores, pq odeia os melhores. Lula não é uma personificação da cara do povo, mas uma idéia mítica de uma elite de botequim. uma idéia mítica do homem-massa, do homem inferior de intelecto, que diz representar um país, pq o país se sente agradecido por não ter intelecto.


Quem escolhe é a maioria e a maioria, neste país, tem necessidades básicas, como comer e arrumar um trabalho.

Leonardo- Convém dizer, o grande problema da democracia é sempre a maioria. Ela é a pior ameaça que há na democracia, já que na massa, sempre há o conformismo. O socialismo é uma ideologia estupidamente idiota: ela preconiza na revolução, o que é, na prática, um processo brutal de conformismo social: o conformismo das aspirações absolutistas e tirânicas da massa contra o indivíduo independente. E a democracia, sem os valores individualistas, liberais e elitistas que norteiam o grave processo do igualitarismo democrático, acaba por ser minada pela demagogia e pelo conformismo, senão pela ditadura. A maioria do povo se conforma por um prato de comida, tal qual um animal bestial. A grandeza da democracia está nas elites pensantes e ousadas, livres para criar, e não no povo ignaro, cultuado como um bezerro de ouro. A única vantagem da democracia é a liberdade individual e civil dos súditos. Porque a democracia, enquanto regime da maioria, é o mais completo absolutismo político, a mais completa tirania, a maior apologia do governante demagogo e do Estado onipotente.

Quem transita nesse estágio não tem condições de se preocupar com ideologias e nem mesmo com ética. Não se esqueçam que este é o país do rouba, mas faz.

Leonardo- Se o Brasil já sofria um problema de virtudes e da fragilidade de uma cultura tradicional fragmentária, todavia, a destruição moral do conceito das elites acabou por eleger os piores. É por isso que Lula está no poder. Pq a intelectualidade pernóstica que o admira e o promove, acabou por destruir os critérios morais, intelectuais e éticos de se eleger um governante. Mas é claro que a maioria dos intelectuais deste país odeia o conceito das elites. Pq eles representam o pior que uma elite pode personificar, o mais abjeto grupo que já existiu nesse país. Levianos, irresponsáveis, tagarelas, invejosos, despeitados e marginais, camuflam, no discurso de ódio às elites, o desejo de poder. Mas não é isso que ocorrem nas democracias, há pelo menos uns 200 anos, desde a Revolução Francesa?


Desaprovo o governo Lula, mas votei nele. Incoerência? Não. Meu ódio imarcescível pelo PSDB e por qualquer partido de tradicional direita neste país me parece coerente.

Leonardo- Coerência ideológica é, às vezes, um terrível pecado. Será que qualquer ódio ideológico justifica a cumplicidade com um governo, que se mostra mil vezes pior que toda a maldade tradicional da direita? Um governo comprometido com grupos terroristas, crime organizado e admirador nababesco de ditaduras totalitárias, capaz, inclusive, de destruir a frágil democracia brasileira, pode ser motivo justificável de tanta admiração ideológica?. É curiosa a dissociação intelectual do militante de esquerda, quando não consegue ver causalidade e efeito nas suas idéias: ele luta pela servidão, pela consagração da ditadura. É impressionante a legião de indivíduos que são inimigos da liberdade humana: Lula, Heloisa Helena, Zé Dirceu, PSTU. E todos eles, em nome do tal conceito de “justiça” que só existe na cabeça deles, rendem loas aos piores tiranos. É um problema sério: o pessoal não sabe dissociar os seus gostos da realidade. Confundem realidade com opiniões. Vai entender. . .


Faço o que for preciso para impedir que retomem o poder. Para mim, ruim com Lula, pior sem ele. Se não posso impedir que oligarquias mandem neste país, tentarei derrotar as que sempre se locupletaram dele. Quero ver os poderosos humilhados. "Os reis caminhando nus com a ira das potestades", como canta Zé Ramalho.

Leonardo- Sr. Yúdice, meu querido professor, que planeta vc vive mesmo? Vc promove a classe política mais poderosa do país e ainda acha que está combatendo os poderosos? E convenhamos, dizer que o PSDB é de direita é brincadeira. PSDB é primo da mesma elite Uspiana do PT. É Rômulo e Rêmulo disputando a mamata, vindo da mesma loba. Eu já me convenci de que PSDB e PT é briga de ex-companheiros: a esquerda caviar chique contra a esquerda mocotó do sindicato. Todas são adeptas da engenharia social, da revolução cultural de Antonio Gramsci, só que por métodos diferentes. Eu, que não tenho ilusões adâmicas e nem propensões divinas a mudar o mundo, e sim compreendê-lo como ele é, continuo aceitando o velho mundo, tal como ele é. Até pq mudar o mundo, quase sempre se muda para pior.