Pensaram que eu tinha esquecido? Jamais.
Neste país, político é um cara que se acredita dotado de uma espécie de dom, que o capacita naturalmente a tomar decisões pelos outros. É como se o mandato viesse junto com poderes supramundanos, algo de infalibilidade. Daí resulta que não gostam de escutar ninguém, especialmente os destinatários de suas ações.
Durante oito anos, e antes de cair em descrédito por conta do governo federal(*), o PT administrou esta cidade em meio a uma avalanche de críticas, umas tantas merecidas. Todavia, quero centrar-me em algo que apenas mentes muito reacionárias podem negar que seja um grande mérito: a adoção de uma política de participação popular na tomada de decisões. Era uma velha prática do partido, nos locais onde governava. Começou com o orçamento participativo e evoluiu para o Congresso da Cidade. Tinha lá grandes senões, sem dúvida, mas existia. O atual governo do Estado adota prática semelhante, o tal PTP.
Quando a cidade ficou sem prefeito, em 2005, a participação popular foi extinta sumariamente. Automaticamente, como se tal extinção fosse algo óbvio. Não posso dizer sequer que a aboliram "por decreto", porque decreto é um ato formal. Neste caso, ninguém deu a menor explicação. Simplesmente não se falou mais do assunto. O que me causou mais revolta, na época, foi que ninguém protestou. Os setores mais ou menos organizados, que antes participavam do Congresso da Cidade, aceitaram servilmente. Estava reinstaurada a política tradicional do eu-mando-e-você-obedece-calado. As consequências estão aí.
Se o infeliz desgoverno tivesse escutado alguém, a ruinosa operação de compra do Hospital Sírio-Libanês poderia ter sido evitada. A briga com os moradores do Conjunto do BASA, em relação à abertura de acesso à Av. João Paulo II, poderia ter sido resolvida, em vez de engavetada. A confusão por conta das obras da Duque de Caxias, que acabaram envolvendo medidas jurídicas, teria sido prevenida. E o caos na Pedro Álvares Cabral desta semana, por conta da implantação do binário, quem sabe não existisse.
Afinal, custa tanto assim escutar o que a população tem a dizer? Mesmo que o projeto seja tecnicamente irrepreensível, é natural que as pessoas fiquem receosas. Qualquer um teme o que não conhece. Se as pessoas soubessem o que de fato terão de ônus e de bônus, bem menos protestos ocorreriam. E o próprio governo se desgastaria menos. Mas até para perceber isso são inábeis.
O recado, contudo, foi dado: obras de impacto na cidade, iniciadas sem que a população receba algum tipo de esclarecimento concreto, vai acabar em transtornos, dos quais todos nós seremos vítimas.
(*) Para esta assertiva, abstraiam-se os índices de popularidade de Lula.
4 comentários:
Yúdice,
Você esqueceu de mencionar a inexplicável retirada da passarela para travessia de pedestres em frente ao novo prédio do Tribunal de Justiça do Estado, na avenida Almirante Barroso. Graças a mais essa "brilhante" idéia da prefeitura, aumentou-se o tempo do sinal vermelho na esquina da Júlio César e um gigantesco engarrafamento se forma todos os dias no trecho (de apenas 1,5km) que vai da Tavares Bastos ao novo TJE. É um verdadeiro inferno!
Sem falar no prometido Pórtico Metrópole, pomposo nome da passarela em frente ao shooping Castanheira, que o nefasto prefeito anuncia há mais de três anos e nunca iniciou as obras.
E o túnel do Entroncamento (no sentido Ananindeua-Belém) que termina num ridículo e inútil semáforo em frente ao Cidade Folia? Uma passarela deveria ser construída ali urgentemente.
É desgastante conviver com tamanha incompetência do atual gestor municipal. Mais desgastante é saber que, mesmo com a cidade mergulhada no caos, ainda há muita gente que vai votar para reeleger o nefasto.
Melhor parar por aqui.
Um abraço,
Adelino Neto
É isso aí, Adelino.
Realmente, as soluções para o entroncamento, carecem de obras complementares, possivelmente de baixo custo, que serviriam para minimizar o transtorno observado naquele trecho todos os dias.
Quando preciso passar por lá (e felizmente passo pouco) sempre tenho a impressão de que a cidade não deseja que eu saia.
Funciona como um verdadeiro obstáculo ao livre escoamento de pedestres e veículos.
Todos saem perdendo na atual configuração.
A avenida Almirante Barroso deveria ser uma via expressa, em continuação com a BR 316, favorecendo o escoamento.
Mas parece que a opção é colocar semáforos. Mais e mais.
E agora, estão investindo em semáforos "modernos" e de gosto duvidoso.
Que bela idéia, não?
Aaarrg!
Alargar ruas não é e nunca foi a solução para o trânsito de cidades em crescimento como Belém. Muito pelo contrário, associada a precariedade do transporte coletivo, tal prática revela-se rapidamente obsoleta, pois motiva a todos aqueles que o possam, a aquisição de um transporte particular.
A deficiência do transporte coletivo faz com que cada pessoa com possibilidades econômicas opte por ter um automóvel, oque nenhuma cidade do mundo, nem mesmo com as mais lergas avenidas como Paris ou New York, suporte.
Quanto à incrível logística da prefeitura de Belém - que altera o fluxo de vias importantes e não apenas não informa eficientemente a população, como coloca tal mudança em prática sem a presença de quardas de trânsito ou de oferta de transporte público organizado aos moradores locais - trata-se de algo, se contado entre administradores sérios (ou mesmo entre moradores de cidades organizadas), com nível, preocupados com eficiência e não deslunbrados com o exercício vulgar, banal e hipócrita do poder - existem tais pessoas, basta eleitores exigentes - seria uma coisa até mesmo difícil de acreditar.
parabéns pelo nível do Blog
Roberto Barros
Meu caro Adelino, já desisti de listar os desatinos desse desgoverno, por isso sempre encontrarás umas tantas coisas que não citei.
Por isso, e já acolhendo as manifestações do Barretto e do Roberto, fico feliz que possamos, todos juntos, ao menos diagnosticar esses problemas e, por meio do que dizemos, quem sabe sensibilizar alguém que caia por aqui e leia nosso bate papo. Se alguém o fizer e entender que esse cara deve ser escorraçado da prefeitura, terá valido a pena.
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