Esta manhã, numa concessionária de automóveis, enquanto eu comprava uma borracha para limpador de vidro traseiro por 16 reais, um amigo fazia uma pesquisa de preços. Vai comprar um carro novo para seu irmão, que possui síndrome de Down e do qual é tutor. A condição de portador de Down dá direito a comprar automóvel sem pagar o imposto sobre produtos industrializados (IPI). Ele me mostrou o resultado do levantamento.
O modelo mais barato por ele pesquisado (o Honda Fit mais simples) custa 7 mil reais a menos sem o imposto. E o mais caro (um Civic), 17 mil reais mais barato!
Todos sabemos que a carga tributária brasileira é extorsiva e criminosa, como criminosa é a utilização que se lhe dá depois. Mas ser confrontado com a realidade desse abuso, assim, em números reais, nos dá uma dimensão catastrófica do país em que vivemos.
Como contribuinte sem acesso a isenções, eu me senti roubado. Aliás, esfolado, já que no próximo dia 30 tenho que deixar, mais uma vez, a minha contribuição cidadã para a vindoura campanha eleitoral.
Esta época do ano é insuportável. Coitado do brasileiro.
9 comentários:
O economista Marcio Pochmann, da Unicamp, ainda está tentando compreender o que se pode deduzir desses números.
E em relação à carga tributária, que em percentual, diminuiu?
Por força desse novo PIB a carga tributária cai. O sentido é diferente da expectativa do debate. A expectativa é a de que as pessoas estão pagando mais imposto e que o tributo cresce mais do que a variação do PIB. Agora é o contrário, as pessoas estão pagando relativamente menos. Em 2002, a série antiga mostrava a carga tributária de 34,9%. Pela série nova, está em 32,3%. Não estou duvidando dos números, só estou tentando interpretar o que os números indicam. E há evidências muito distintas daquelas que foram constituídas pela opinião pública.
Mas ainda é pouco, se compararmos com outros países latino-americanos...
Mas já não é o menor do mundo. Além disso, não é uma economia que está engessada porque o Estado está crescendo, a carga tributária está aumentando, não é isso. Não é verdade que haja o aumento da financeirização que está contaminando a economia produtiva.
Mas houve crescimento do setor de serviços...
A literatura que trata da questão do setor terciário diferencia o serviço em quatro níveis: os serviços de produção, de distribuição, pessoais e sociais. Evidente que os serviços de produção e distribuição estão vinculados à produção. Se esses setores aumentam, é sinal de uma economia mais forte.
Assunto sumamente rotineiro e que não merece qualquer atenção dos leitores do blog. Manda outra.
Só espero, prezado Zahlouth, que a intenção do economista não seja ver algo de positivo nessa suposta redução de carga tributária. Para começar, dependendo do imposto, seus efeitos dóem diferenciadamente no contribuinte. Por isso, se é que houve alguma redução, quem se beneficiou dela? E quanto?
Obrigado por trazer boas luzes sobre o assunto.
Anônimo pé-no-saco, como estou satisfeito com os peixes que comprei hoje, vou lhe dar a atenção que você pede, porque sua mamãezinha está ocupada com outra coisa e lhe provocou essa carência toda.
1. O texto diz que todos sabemos que a carga tributária brasileira é extorsiva. O assunto não tem nada de original, inédito ou extraordinário. Como você não percebe as coisas sozinho, deixe-me informar que a proposta do blog não é fornecer furos de reportagem, até porque nem josnalista eu sou.
2. Pelo visto, na sua opinião, eu jamais poderei escrever, p. ex., sobre o Natal, porque é um assunto "sumamente rotineiro". Tem todo ano.
3. Você telefona para as emissoras de TV se queixando que, todo ano, fazem aquelas reportagens idiotas sobre o "primeiro bebê nascido este ano"?
4. Se o assunto "não merece qualquer atenção dos leitores do blog", por que mereceu a sua? Por que você me escreveu? É do controle de qualidade dos blogs? Isso parece confirmar a minha premissa acima. Rapaz, saia da frente do computador e vá para a rua, ver gente, interagir com seres humanos, preferencialmente mostrando a cara. Isso é importante para a saúde mental.
5. Ao menos o Carlos Zahlouth discorda de sua opinião sobre o desinteresse absoluto do tema. E olha que ele é um homem muito ocupado.
6. Numa das colunas sociais do Diário do Pará, hoje, a colunista escreve que a nova moda entre as "mulheres granfinas" da cidade é fazer brunch aos domingos. Encomendam comida, chamam uma manicure e botam as fofocas em dia. E conclui: "legal né?" Cara, faz um favor para mim: descobre o e-mail dessa colunista e esculhamba com ela. Antes ela escrevesse sobre o excesso de tributação no Brasil...
PS - Eu não mandarei o e-mail. Se não gosto do que ela escreve (até porque odeio qualquer coluna social), faço como você deveria fazer: ignorar. É mais bacana e saudável, para você mesmo.
7. Por que você acha que eu tenho a obrigação de "mandar outra"? Para você, eu não mando nada. Tenho mais o que fazer. Escutar as minhas tripas funcionando, p. ex.
Pronto! Gastei vários minutos do meu tempo com você! Satisfeito, agora? Pode ir ver se o seu gagau já está pronto.
Caro Yúdice, esta realidade infelizmente é muito dura e indignadora.
Gênios da economia já realizaram cálculos, chegando a resultados assustadores: aproximadamente 4 (quatro!) meses de salário do trabalhador por ano é para pagar impostos, e estes são deveras redundantes (p. ex.: o que você paga no IRPF, paga novamente no pão, no arroz, na gasolina, na pasta de dente, no computador, na linha telefônica, nos hospitais, nas farmácias, nas escolas etc.).
Coitado do brasileiro? Em partes.
Há um artigo , escrito por um blogger brasileiro, que fala um pouquinho do porquê o Brasil tem esses problemas. (O artigo é um pouco pesado, mas vejo como um ponto de vista revoltado da triste realidade. Portanto, respeito.)
E, na minha opinião, talvez o termo correto não seja "coitado dos brasileiros", mas sim "coitado dos honestos".
Um abraço,
Alexandre (Cps/SP)
PS - Não sinta raiva deste mancebo, que nem nome tens a coragem de informar (estás esperando uma filha, lembra?), mas sim pena, desprezo ;-)
Diga-me qual a contrapartida que o Estado dá a tão grandiosa mordida tributária. Se tivessemos saúde, educação e cultura públicas de qualidade garanto que acharia a carga tributária devida, porém , apenas engordar o bolso dos apaniguados do poder não acho justo.
28/04/2008 - 17h00
Brasileiro terá de trabalhar 4 meses e 27 dias para pagar tributos este ano
SÃO PAULO - O dinheiro que o contribuinte brasileiro ganhar por meio de seu trabalho até o próximo dia 27 de maio será totalmente destinado ao pagamento de tributos, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) nesta segunda-feira (28).
No ano passado, para pagar todos os impostos, taxas e contribuições exigidos pelos governos federal, estadual e municipal, o brasileiro teve de trabalhar 4 meses e 26 dias (146 dias). Na década de 1970o cidadão trabalhava 2 meses e 16 dias para pagamento dos tributos; na de 1980, 2 meses e 17 dias e, na década de 1990, 3 meses e 12 dias.
Comprometimento da renda
Segundo o levantamento, ao pagar os tributos, o cidadão brasileiro comprometerá 40,51% de seu rendimento bruto em 2008. Em 2003, este comprometimento era de 36,98%; em 2004, de 37,81%; em 2005, de 38,35% e, em 2006, de 39,72%.
A tributação incidente sobre os rendimentos (salários, honorários) é formada, principalmente, pelo Imposto de Renda Pessoa Física, pela contribuição previdenciária (INSS, previdências oficiais) e pelas contribuições sindicais. Além disso, ainda existem as tributações pelo consumo (PIS, Cofins e outros) e pelo patrimônio (IPTU, IPVA).
Faixa de renda
O levantamento ainda mostrou que a classe média - rendimento entre R$ 3 mil e R$ 10 mil - é a que mais precisa trabalhar para pagar os tributos: 157 dias, comprometendo 42,83% da renda bruta.
A classe alta (rendimento superior a R$ 10 mil por mês) tem de trabalhar 153 dias, comprometendo 41,72% da renda, e a classe mais baixa (rendimento de até R$ 3 mil), 141 dias e 38,63% da renda.
Outros países
Enquanto no Brasil se trabalham 147 dias para conseguir pagar os tributos, nos vizinhos Argentina (97 dias) e Chile (92 dias) não se trabalham nem cem dias. A título de comparação, o levantamento do IBPT ainda mostrou que na Suécia são necessários 185 dias, na França, 149, na Espanha, 137, e nos Estados Unidos, 102 dias.
Alexandre, trouxeste o tema à baila e o Zahlouth confirmou: não são quatro meses, são quatro meses e 27 dias, ou seja, quase cinco meses!
Para que trabalhamos, então? Somos, literalmente, burros de carga, carregando oportunistas nas costas.
E não, anônimo, não adianta pensar em contrapartida. Quem puder, que contrate plano de saúde e se matricule em escola particular. Assim é.
Metade da vida para pagar impostos? Inacreditável, não? Pois é, Yúdice. Este artigo, publicado ontem, confirma isso de uma forma, digamos, mais dolorida ainda.
Ontem, no almoço, o tema foi exatamente este, que tratamos aqui. Concluímos que pagamos pelos serviços públicos duas vezes, pelo menos. Pagamos pela saúde, mas se você precisa do serviço de um hospital, terá de pagar novamente. Pagamos pela educação dos nossos filhos, mas se você precisa do serviço de uma escola, terá de pagar novamente.
SUS? Escolas estaduais? Não, não é bem isso que queremos para nós. E por isso temos de pagar um órgão privado, que possua a competência que necessitamos, para uma melhor qualidade de vida. De novo. E de novo. Soa como tapas na cara dos cidadãos honestos.
Quando penso em colocar um filho neste mundo, sinto medo. Medo que ele tenha de sofrer as injustiças deste mundo. Ou será que as gerações futuras serão melhores que as de hoje?
Do fundo do coração, espero que sim.
Saudações,
Alexandre (Cps/SP)
O artigo realmente enche a cabeça de pensamentos, Alexandre. É angustiante. Mas, por enquanto, como você, acalentarei alguma esperança quanto ao futuro. Essa esperança é uma necessidade de sobrevivência.
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