Domingo assistíamos a um episódio da sétima temporada de Plantão médico. Nele, uma criança dá entrada na emergência inconsciente, vinda da escola. Sofre uma punção lombar, para investigação de meningite, com resultado negativo. A certa altura, contudo, um médico percebe manchas na pele que antes não estavam evidentes e cogita da possibilidade de ser sarampo, o que deixa todos assustados.
— Você já viu sarampo? — pergunta a Dra. Chen, surpresa, que não cogitara dessa hipótese.
— Ninguém viu sarampo! — responde o Dr. Carter, que pede a um assistente para ir buscar uma espécie de vade mecum (não sei exatamente como se chamam esses livros que médicos usam para identificar sintomas e definir diagnósticos). Nele, por manchas no interior da boca da criança, confirma a hipótese.
A partir daí, todos ficam atônitos. O paciente é posto em isolamento e uma mensagem é mandada à escola, para que todas as pessoas que tiveram contato com o doente fiquem retidos, até a confirmação de que foram vacinados, assim como todas as pessoas com quem elas mesmas tiveram contato.
Ambientado no primeiro mundo, onde as péssimas condições de trabalho das quais os personagens se queixam, às vezes, parecem piada para os padrões brasileiros, o seriado mostra o abismo que existe entre nós e eles. Para que um caso de sarampo apareça em Chicago, duas explicações são dadas: a criança tinha feito uma viagem a Europa (pelo menos não foi ao Brasil), contraindo a doença em algum lugar do Velho Continente; e os pais eram dois tipos malucos, que acreditavam serem as vacinas uma conspiração de empresas e governos para enfraquecer o sistema imunológico dos povos, por isso não vacinavam seus filhos. Só mesmo num contexto assim, absurdo, uma doença dessas pode ocorrer.
Não posso falar do sistema de saúde americano, por desconhecimento. Posso apenas dizer que a célebre série de TV sugere que a vacinação nos Estados Unidos é muito eficiente, só tendo aparecido um caso devido a uma postura individual de gente excêntrica. E mesmo sendo improvável haver mais gente sem vacina, medidas enérgicas de prevenção são tomadas. Os médicos tinham autoridade para reter crianças na escola. Fosse aqui, o sujeito logo ia buscar seu filho, dar uma carteirada e dizer que ninguém diz onde seu filho pode ou não ficar.
O fato é que este planeta está dividido em um hemisfério norte repleto de países ricos e um sul, onde campeia a pobreza. Apesar de haver pobres no norte e ricos ou quase isso no sul (Brasil e África do Sul, p. ex.), é certo que o lado de baixo do Equador sempre esteve em piores condições. Basta que se veja que o Brasil, com a economia fortalecida e controlada, com PIB crescente e indicadores favoráveis continua sendo um país tipicamente pobre, onde a renda é concentrada, os governos se regem pela corrupção e o povo paga a conta, morrendo até hoje de doenças inaceitáveis, como sarampo, febre amarela, dengue, diarreia.
As doenças da pobreza.
2 comentários:
As manchas na parte interna da boca, Yúdice, chamam-se manchas de Koplick (não sei se se escreve exatamente deste jeito), e são patognomônicas de Sarampo.
Tive-o com 27 anos e sei bem o que é isso. Aliás, só agora aos 46, posso dizer que tive todas as doenças da chamada "quadra infantil".
Rsss...
Quanto ao hemisfério sul, é melhor nem pensar muito nisso.
:-)
Exatamente, Bar. No episódio, eles mencionam o nome que você referiu e, com base em tais manchas, confirmam o diagnóstico. Gosto muito de aprender sobre essas coisas.
Postar um comentário