domingo, 17 de maio de 2009

Domingo na praça

Há muito, muito tempo eu não ia à Praça da República numa manhã de domingo, programa há anos definitivamente inscrito no rol das atividades tipicamente belenenses. Não há como negar isso, considerando o número assustador de pessoas transitando por lá. Mas hoje fui com a família dar um pequeno passeio. O dia estava ameno para os nossos padrões, tanto que uma teimosa nuvem de chuva acabou por nos mandar embora.
Caminhamos pela praça e pude constatar o estado lastimável em que ela se encontra. Destaco a imagem triste aqui apresentada (foto de celular). Apesar de que alguém já iniciou a limpeza, a maior parte do ataque continua lá, mais visível do que a própria mensagem oficial, que alude ao Presidente da República entre 23.11.1891 a 15.11.1894, Floriano Peixoto.

"Brigar p/ causas é virtude!"

Então um féla desses sai sabe-se lá de onde, agride o majestoso monumento à República, um dos mais importantes símbolos de nossa cidade, e se sai com essa: o seu vandalismo é virtuoso, porque defende uma causa.
Aliás, eu gostaria muito de saber qual a causa do vagabundo que fez essa pichação. Curiosamente, essa informação não comparece em meio a suas garatujas, justamente ela, que seria o mais importante de tudo. Ainda mais sabendo que vivemos num tempo em que a juventude não tem mais ideais e seus valores estão bastante comprometidos. Não duvido que a pichação tenha sido feita por um pilantra com uma camiseta ostentando a famosa efígie de Che Guevara, mas com os sintomáticos tênis All Star nos pés, além de acessórios metálicos comprados em alguma loja do shopping, lugar por onde deve passear bastante. Com certeza, muita virtude.
Mas a minha reclamação vai mesmo para o poder público. Não há absolutamente nada que justifique um dano desse tipo nesse local permanecer indefinidamente. No Rio de Janeiro, furtar os óculos da estátua de Carlos Drummond de Andrade é quase um esporte municipal. Mas quantas vezes levam, quantas a prefeitura manda consertar, imediatamente. Aqui, pra variar, é o descalabro.
Quem dera fosse só a pichação! O centenário piso do pavilhão está desaparecendo. Por toda parte, um fedor de urina, ainda mais terrível por causa do calor. E cocô, meus amigos. Cocô humano. A praça sempre foi usada como banheiro, mas é intolerável que continue sendo. E ainda mais que, tendo sido, ninguém se importe em mandar limpar. Complete o cenário com a grama desaparecida em vários pontos, por excesso de pisoteio, de tal modo que as ondulações do terreno, que deveriam conferir um aspecto charmoso ao parque, estão em processo de erosão. E o cimento que calça as alamedas está cedendo em alguns pontos.
Se uma reforma custa caro ainda que esse gasto seja absolutamente justificável e necessário , uma limpeza e posterior vigilância, para impedir novas incursões dos mijões e cagões, já seria de grande valia. Mas, para isso, precisaríamos ter um prefeito, coisa que... Deixa pra lá.
E depois querem que esta cidade cagada seja sub-sede de Copa do Mundo. Bom, se for copa mundial de cocô à distância, talvez sejamos o endereço mais adequado.

6 comentários:

Anônimo disse...

A realiddade da praça entristece, a educação de muitos belemenses aborrece e a administração da cidade indiguina.

A única saída é o aeroporto. Cada dia em belém, com os problemas o barulho e a sujeira - para não falar nos serviços - é um desperdício de vida.

A cidade tem muitos problemas de outras cidades, mas não tem as vantagens. Ela está estagnada no tempo e se justifica com um provincianismo reducionista fantasioso e ineficiente que, quase invariavelmente, acaba sempre com uma das poucas coisas que se pode elogiar: a culinária. Esta, entretanto, não basta, infelizmente para uma cidade tão bonita...

Roberto Barros.

Vladimir Koenig disse...

Yúdice, realmente Belém é de assustar no quesito sujeira. E olha que não sou desses que acha que "tudo o que é bom vem lá de fora" e só sabe criticar nossa bela metrópole. Mas, também não sou um ufanista. Mas, na sujeira, Belém é impressionante. E olha que a sujeira aqui não tem fronteiras! De todo o tipo e formas, vinda de todas as classes, de todos os lugares. Quanto a pichação, Belém detona! :^) Uma vez, passeando por Santiago, no Chile, notei que o centro da cidade tinha pouquíssimas pichações. As poucas, poucas mesmo, que vi eram de cunho político. Uma me chamou a atenção, porque estava em frente a um badalado hotel: "No hay paz para los ricos si no hay pan para los pobres". Em frente a sede do Partido Comunista chileno havia também uma pichação sobre o anacronismo que defendem ou algo assim (não me recordo exatamente o que dizia). Mas veja que, ainda que reprováveis, pois realmente sujam a paisagem urbana, não eram como as nossas, que são fruto do simples vandalismo, da necessidade de demonstrar que o autor do ato pode fazer o que quiser sem que nada lhe aconteça. Aliás, confesso que as pichações que vi em Santiago deram-lhe um certo charme (pelo menos para mim). Passei, também, pelos bairros mais pobres e não vi pichações que me chamassem a atenção. Pelo contrário! Vi, em todos os cantos, muitas flores, plantas e muito cuidado com as casas e passeio público. Santiago é, pelo menos nesse quesito, um exemplo a ser seguido. Abraços, Vlad.

Yúdice Andrade disse...

Esforço-me por não pensar na solução do aeroporto, Roberto. Amo tanto esta cidade que, com maior ou menor ingenuidade, conservo minhas esperanças de melhora.

Quem dera que chegássemos aos pés de Santiago, Vlad. Já estaríamos muito à frente. Aqui é só vandalismo, sujeira e oportunismo. Que lástima.

Frederico Guerreiro disse...

Isso não é só um retrato de um monumento. É o retrato de nosso povo, um retrato de nós mesmos.

Belenâmbulo disse...

Prezado Yúdice,
Eu preferiria discordar de você, porém é lamentável reconhecer toda a verdade contida em seu texto.
Bela manifestação de belenambulismo. Vou reproduzir isso lá. Não vai ser tão em breve... e sei que, infelizmente, em qualquer época que eu a publique, sua postagem será sempre atual.

Abraço, Wagner

Yúdice Andrade disse...

Deveras, Fred. Infelizmente. Desgraçadamente.

Wagner, preciso dizer que eu já belenambulava muito antes de sonhares em morar aqui. É uma velha prática. E penso ser um exercício necessário fazer essas autocríticas, que tu constrois tão bem.
Abraço.