Membro da Igreja Universal volta novamente a meter a colher na devoção dos paraenses. Dizia ele ontem que a fé na Virgem Maria, que classificou de 'idolatria', é 'o maior câncer do Pará', e atribuiu a isso o fato de o Estado ser cheio de riquezas, mas 'com um povo pobre'. Ora, tão pobre, mas cheio de catedrais ricas da Igreja Universal.
Gostaria de saber o que tanto perturba os evangélicos, em especial os dessas igrejas surgidas de uns anos para cá, na devoção da maior parte dos paraenses a Nossa Senhora de Nazaré. Porque, se ninguém me responder, vou achar que é por causa do potencial de arrecadação que um maior número de fieis proporcionaria.
Há complicações no trânsito, as pessoas deixam de trabalhar, abre-se campo para a Igreja Católica reafirmar o seu poderio sobre a espécie humana, etc. Concordo que o Círio produza efeitos capazes de irritar muita gente. Mas não posso aceitar que, num mundo cada vez mais cruel, não se deva ser grato — a Deus ou a quem se queira — pela oportunidade de ver todo um povo unido em oração, por um mundo melhor.
Digo isso pensando nas pessoas que se entregam ao Círio de coração aberto. Sempre vejo as reportagens em que se entrevistam populares — gente de verdade, que quer dar sua mensagem e não desfilar em colunas sociais ou arrebanhar votos. Suas declarações são sempre emocionadas, plenas de gratidão e esperança — a única esperança que não nos trai.
Não comungo da fé católica. Mas acho maravilhosa a capacidade de ter fé e transformá-la em ações concretas, por nós mesmos e por cada um daqueles que, assim, passamos a reconhecer como nossos irmãos.
De novo, um feliz Círio a todos.
3 comentários:
Também queria saber o que tanto os incomoda, mas acho que vais ficar "no vácuo", Yúdice.
Eheh...é só uma questão de mercado, prezado professor.Um abraço de Feliz Círio.
O que separou a igreja católica de sua dissidência, chamada protestante e agora evangélica, foi (simplista perde!) uma divergência entre fé e ação. Para a igreja católica a salvação vem pela fé em Deus e pelas obras praticadas em prol da humanidade. Para os evangélicos, a Palavra é tudo (tanto que eles as espalham a mancheias e gritos!). Mas não basta dizer Senhor! Senhor!, falou o Cristo e nesse aspecto, ponto para os católicos. Enfurnados em seus templos, atados ao Velho Testamento e ao formalismo judaico tão combatido por Jesus e Paulo de Tarso, os evangélicos chamam de idolatria a fé do povo, primária, porque carece de símbolos e imagens, mas fé. Idolatria também significa amor exagerado e é isso o que nos move na procissão do Círio. O amor incondicional à mãe de nosso Mestre, representada pela pequena imagem, pelas flores da berlinda, pela corda. O fundamentalismo evangélico não consegue ver isso nem que estão eles próprios mergulhados no sentido egóico de salvação própria e dos seus pares pelo convencimento e mudança de valores que, de fora pra dentro, não tem como se manter.
Lembram que anos atrás havia out-doors pela cidade dizendo que o bom era "segurar na corda de Jesus"? Tolos! Que berrem e toquem seus bumbos na praça! eles vão entender tarde demais que não fazer o mal não basta. É imprescindível FAZER o bem!
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