terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Belém da Memória

Anos atrás, quando Hélio Gueiros era prefeito, havia um projeto que acredito ser da prefeitura em parceria com alguma universidade (confesso que não me recordo mais), chamado "Belém da Memória", que consistia em investigar a origem dos nomes de logradouros públicos, ao menos os do centro da cidade. Colocavam-se bonitas placas nas esquinas, com o nome do logradouro e a explicação pertinente. Lembro-me que foi assim que eu, adolescente, aprendi a importância de algumas datas e soube quem eram algumas personalidades históricas. Duvido que alguma dessas placas ainda esteja no local.
Agora tomo conhecimento pelo jornal da existência de um grupo que quer resgatar a memória da Cabanagem, alterando o nome "Rua 13 de Maio", no centro comercial. Fiquei irritadíssimo no dia que soube que tal rua tinha esse nome não em alusão à abolição da escravatura (que imagino seja a primeira ideia que passa pela cabeça de qualquer um), mas numa referência grotesca à derrota e ao massacre dos cabanos pelas forças imperiais. Uma comemoração do poder constituído português sobre os ideais nativos de liberdade. Uma ode ao fim do único movimento da História do Brasil que resultou num governo verdadeiramente popular não efêmero. Um deboche dos governantes e seus paus mandados, jactando a si mesmos.
Voto pela mudança desse nome para "7 de Janeiro", como proposto pelo grupo que se inspira em Guilherme Tell. Tal denominação evoca a data em que os cabanos saíram do Murutucu e tomaram Belém — um feito que poderia ter levado a uma outra realidade no Pará, hoje.
E vou além: sugiro que sejam substituídos outros nomes, que nada significam para a cidade ou que apenas bajulam os parentes, amigos e aderentes de ex-vereadores ou membros do Executivo (ou, o que é pior, para homenagear a si mesmos, como no imoralíssimo caso da Escola do Governo), por outros realmente expressivos, que aludam, por exemplo, à guerrilha do Araguaia (desde que a premissa não seja louvar os vencedores, claro).
Tais mudanças deveriam fazer parte de um movimento organizado de resgate da memória paraense e local, ficando isso bem claro para que, amanhã, nenhum vereador cretino venha propor que uma dessas ruas seja batizada com o nome de algum empresário da comunicação ou líder de curral eleitoral seu, para com isso angariar benesses ou votos.
Ao final, seriam instaladas as placas explicativas de cada nome. Eu ficaria feliz numa Belém assim.

2 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Bravo, Yúdice!
Daqui a pouco vão querer "liberalizar" os nomes das ruas de Belém e difamar os moradores delas.

Yúdice Andrade disse...

Posso assegurar que, quando trabalhei na Câmara Municipal, ouvi comentários de que a rua que leva o nome do patriarca daquela família era muito pequena, mixuruca, e que ele merecia homenagem mais à altura. O que podemos esperar?