Todo poder está fortemente associado a símbolos, a fim de que os súditos possam compreender melhor os acontecimentos complexos da vida política. Como o governo é uma abstração, não poderia ser transferido de uma pessoa a outra. Assim, surgiu o símbolo da faixa, que representa a titularidade do governo. E o governante que sai entregar a faixa para o que entra constitui uma metáfora de fácil percepção.
Nos últimos anos, a tradição vinha se invertendo: não havia transmissão da faixa. De um lado, pelas re-eleições. De outro, porque o mandatário de saída se recusava a realizar o ato, que certamente exige uma boa dose de desprendimento. As vaidades, os rancores e a falta de espírito democrático imperavam nessas horas.
Hélio Gueiros não passou a faixa a Edmilson Rodrigues em 1997 e nem este passou-a para... Como é mesmo o nome do cara? Aquele lá, em 2004 (se bem que, neste caso, eu endosso). A passagem da faixa governamental virou, assim, uma formalidade entre comadres do mesmo partido ou grupo político. Lamentável.
Por isso, sinto-me no dever de elogiar a atitude de Simão Jatene de passar a faixa para Ana Júlia. Longe de mim elogiar um tucano, mas com tal gesto Jatene demonstrou, mais uma vez, o temperamento conciliador que se acostumou a apresentar. Não acredito em seu discurso de "sou apenas um servidor dos paraenses", mas admito que ele se comporta de modo coerente com tal discurso. Bem diferente daqueloutro, felizmente derrotado, que não tenta e não consegue ocultar seu menosprezo por tudo que não seja o próprio umbigo.
Enfim, temos uma nova governante. Pode ser para o bem ou para o mal. E tenho muito medo desses que chegam prometendo fazer o melhor governo de todos os tempos. Já vi o filme. Mas estamos em tempo de ter esperança.
Foi muito boa essa ideia de mudar o início dos mandatos, de março para o início do ano. Os espíritos estão em festa e cheios de expectativas. Que elas não sejam vãs, como as previsões e promessas de fim de ano...
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