Diariamente, em meu local de trabalho, vejo grandes quantidades de habeas corpus, por isso sei do que estou falando.
Se um pobre é pego afanando bens alheios, acaba no xilindró. Mesmo que seja um crime cometido sem violência, normalmente é difícil recobrar a liberdade. Os juízes homologam os flagrantes e se recusam a conceder a liberdade, no que são auxiliados pelo Ministério Público. Os argumentos para isso se repetem: o réu não tem emprego, é possível que fuja, pode ser que obstrua o andamento processual, etc. No final das contas, o sujeito acaba preso não exatamente pelo crime em que se envolveu, mas porque o seu perfil não inspira confiança. E não inspira confiança não exatamente por atitudes ou escolhas pessoais, mas pelas contingências de sua vida.
Mas quando um estilista famoso, acostumado a vestir a high society brasileira, entra num cemitério para afanar dois vasos de cima de uma sepultura, isso é apenas consequência de um problema de saúde que será "revelado oportunamente", para não expor a intimidade do pobrezinho.
A história é a mesma de sempre: se for pobre, é ladrão; se for rico ou famoso (mesmo por sua atuação em algo de duvidosa utilidade, como a moda), é apenas alguém em um momento de dificuldade pessoal, que será superado com o apoio dos amigos e da família. E do judiciário, também, que o soltará (como soltou, no caso concreto) rapidamente.
É óbvio que não desejo ver as pessoas encarceradas. Só gostaria que essa brandura se estendesse aos pobres coitados, em vez de ser um mimo apenas para as criaturas deslumbradas que ficaram loucas por vasinhos e, para tê-los, até passar por cima do cadáver alheio vale.
PS — Aos críticos de plantão, não tenho o menor respeito pela indústria da moda. Poupem-me de suas tentativas de me convencer de sua importância. Não me venham com aquela do "gera muitos empregos", porque muitas atividades ilícitas o fazem, também. Moda é a indústria da futilidade. Ponto final.
2 comentários:
Rico, é "cleptomaníaco". Pobre é "inegavelmente" ladrão.
Imaginava que isso fosse uma lenda urbana mas, pelo seu post, pude ver que á a pura realidade.
Lenda urbana? Quem dera. Ficarias de cabelo em pé se visses o que vejo nos processos. É a institucionalização do preconceito. E o que é pior: com força de verdade absoluta e a mão do Estado para assegurar.
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