sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Cinema era a maior diversão

Vi hoje a notícia sobre o fechamento dos cinemas Nazaré I e II e soltei um longo suspiro. A cada casa de projeção que fecha, reportagens são feitas centradas apenas num certo ar de nostalgia, na saudade que muitas pessoas sentirão, nos bons momentos vividos que não se repetirão, etc. O lado mais dramático dessa conjuntura, porém, não está sendo visto ou corretamente interpretado. A cada casa que fecha, ficamos mais e mais submetidos ao monopólio de uma desgraça chamada Moviecom.
Quando o Shopping Castanheira anunciou — não me lembro há quanto tempo — a abertura dos primeiros cinemas digitais em Belém, nós, amantes do cinema, exultamos. Isso porque não sabíamos o que nos esperava.
Veio o Moviecom com uma tecnologia e um visual inéditos, que nos seduziu. Mas não demorou para percebermos que essa turma de Campinas só estava mesmo a fim de se dar bem em cima dos silvícolas paraenses. Vocês se lembram que, a princípio, foram inauguradas apenas quatro salas? Eles estavam pesquisando o mercado. Mas nem bem o cinema abriu e as três últimas salas foram inauguradas, num contrato de vinte anos. Eles perceberam que estavam num negócio rentável. Quem perdeu fomos nós.
O Moviecom — a par de ser drasticamente inferior ao Cinemark e até mesmo aos Cinemas Box, que funcionam por exemplo em São Luís — é, em si mesmo, um lixo. Nos últimos tempos, reconheço, deu uma melhorada, talvez devido ao excesso de reclamações. Mas quem não se lembra das interrupções diárias dos filmes, alegadamente por problemas elétricos no shopping? E do ar condicionado desligado?
No plano operacional, o Moviecom homenageia a imbecilidade. Tem quatro guichês na bilheteria, mas só abre o segundo quando a fila está imensa. Aí deixa a fila crescer para abrir o terceiro e etc. Seus funcionários são incompetentes, grosseiros e nunca resolvem nada. Os seguranças não coíbem as furadas na fila (porque são um "problema cultural"), mas impedem terminantemente que nos aproximemos da sala da administração.
Reclamações são inúteis. Alegadamente, os funcionários respondem diretamente à sede, em Campinas. Ou seja, em Belém só cabe reclamação ao bispo, que por sinal não está nem aí para o caso.
Certa vez, a idiota do caixa (que se dizia gerente) recebeu de meu irmão uma nota de 50 reais e pôs na cabeça que era de 20. Recusou-se a nos dar o troco. Como reclamamos, parou o atendimento e fez um ridícula e demorada conferência do caixa. Contou até a última moeda e, ao final, não encontrou "nenhuma diferença". Sentenciou que não precisava daquele valor. E nós precisávamos?
Além das sete salas do Castanheira, o Moviecom explora agora os antigos Cinemas 1, 2 e 3, que sobreviverão até a inauguração das cinco salas do Iguatemi. Já se especula que o futuro Shopping Formosa terá cinemas. Adivinha quem está sondado para explorar? Uma verdadeira desgraça!
Sem concorrência, os campineiros farão da caboclada de Belém o que bem entenderem. Quem gosta de cinema e quer frequentá-lo em paz precisa reagir. Reclamar impiedosamente, ir a público e confrontar esses maus profissionais. Ou isso, ou estará definitivamente perdida a nossa antiga maior diversão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice,
de modo muito apropriado, relatas reais problemas sofridos por quem tenta ir, atualmente, ao cinema em Belém.
Porém, o maior deles, para mim, é outro: o fato é que a programação dessas bombas chamadas Moviecom é simplesmente ridicula! Como só têm compromisso com o lucro, esses cinemas limitam-se a exibir "blockbusters", por imposição das grandes distribuidoras. Não se permite mais qualquer sessão alternativa, diferenciada. O tempo das matinées dos Cinemas da S.Pedro, definitivamente, acabou. Para os filmes fora do circuitão, ficamos na dependência do Líbero Luxardo (cuja programacao, porém, é errática e bissexta) e das locadoras de vídeo - sendo que ver um filme na telinha, evidentemente, não é a mesma coisa que ir ao cinema.

Yúdice Andrade disse...

Nos Cinemas 1, 2 e 3, aliás chamados de Cinemas de Arte do Pará, vi dois filmes de Andrei Tarkovski e preciosidades como "Os vivos e os mortos" e "A festa de Babette"; estive em matinês de "A felicidade não se compra" e de "O grande ditador". Passei quatro horas vendo "Lawrence da Arábia", com direito a intervalo.
Agora, para onde vai tudo isso? Para o DVD, claro. Tudo agora é comércio.
Quanto ao Líbero Luxardo, pensei que nem funcionasse mais, há anos. Que lástima!