Como convém à imprensa, o caso do Hangar, portentoso centro de convenções de Belém, está sendo tratado de modo banal. Como sempre, falta uma visão mais abrangente do caso, que pudesse mostrar à população a importância da boa escolha de seus governantes.
Obviamente, os indicativos de superfaturamento, o custo excessivo da estética paulochavista e, principalmente, a inexistência de recursos, no orçamento do Estado para 2007, para sua conclusão, constituem aberrações a provar, sem margem a dúvidas, que estávamos sob um governo no mínimo irresponsável. Mas agora pensem comigo: assumindo um governo de pessoas totalmente diversas, todas essas mazelas vieram à tona. E se o governo fosse apenas uma continuidade do anterior? Se os tucanos tivessem entrado no ano 13, como seria?
Se os tucanos continuassem no poder, o Hangar seria dado como "quase pronto", faltando somente umas besteirinhas. Se a inauguração demorasse, não faltariam desculpas "técnicas", dada pelo secretário de cultura. O jornal do PMDB destacaria todo santo dia os atrasos, os abusos e custos da obra. O jornal oficial destacaria todo santo dia sua grandiosidade e os impactos imediatos e maravilhosos sobre o turismo e a arrecadação tributária.
Em síntese, a gigantesca máquina tucana — que envolvia Executivo, Legislativo, empresariado, imprensa e outros setores do poder público, que deveriam ser isentas — daria um jeito de tudo parecer normal.
O que mais me impressiona é que, se é verdade que o orçamento não contém recursos para a conclusão da obra, como os tucanos pretendiam terminá-la em 2007? A resposta mais provável é: remanejando verbas de outros setores para isso. Aí cabe perguntar: e que setores seriam prejudicados? A propaganda evidentemente que não. Será que os tais hospitais regionais seriam adiados para o ano eleitoral de 2010?
Concluo afirmando o que falei diversas vezes: abstraindo-se os protagonistas, a alternância no poder é essencial à democracia. Enquanto os governantes de diferentes matizes não se alternam, a sujeira só vai de um lado a outro de sob o tapete. É por isso que, mesmo olhando com certa intranquilidade os primeiros dias do governo Ana Júlia, quero acreditar que, em alguma coisa, já melhoramos um pouquinho.
5 comentários:
Dou um exemplo de um setor prejudicado: apesar de devidamente orçados desde o primeiro semestre de 2005, mais de 50% dos precatórios judiciais do Estado simplesmente não foram quitados pelo governo Jatene. E isso por um grupo político que se jactava do Pará ser um dos poucos Estados da federação que mantinha suas dívidas judiciais em dias.
O governo passado, de uma tacada só, desrespeitou ostensivamente o Poder Judiciário e seu próprio orçamento, deixou a ver navios diversos servidores que já haviam sido orbigados a recorrer à Justiça para ter seus direitos reconhecidos e, por fim, jogou no lixo o bom nome que a Procuradoria Geral do Estado construiu a duras penas.
Em lugar de pagar débitos inscritos em seu orçamento desde mais de um ano antes, o ex-governador preferiu dar andamento à sandice faraônica de seu secretário de Cultura. Para completar, a obra não foi acabada e sobre ela os meios de comunicação acusam suspeitas de superfaturamento. O que ainda falta descobrirmos?
Muito obrigado pela lúcida contribuição, Francisco. E quanto ao que ainda falta descobrirmos, é só pensar que doze anos não se revelam em sete dias...
Yúdice, o custo de operar um hospital e´enorme. Gasta-se mais,por ano, do que o que foi gasto para construí-lo.
Isso explica essas inaugurações de hospitais inconclusos em final de governo derrotado nas eleições. Se houvesse ganho, os hospitais não seriam inaugurados, ate´as próximas eleições, e a grana iria para o PCzão!
De fato, só a compra de equipamentos envolve valores astronômicos. Depois, a manutenção dos mesmos, a compra de medicamentos - muitos com preços inacreditáveis -, a realização de exames - muitos idem -, etc., fazem um hospital ser um empreendimento hercúleo. Mas mesmo sabendo disso não tinha olhado pelo ângulo apresentado. Muito obrigado por me fornecer essa clareza.
Esse Paulo Chaves achava que era.
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