sábado, 6 de janeiro de 2007

O Hangar como exemplo

Como convém à imprensa, o caso do Hangar, portentoso centro de convenções de Belém, está sendo tratado de modo banal. Como sempre, falta uma visão mais abrangente do caso, que pudesse mostrar à população a importância da boa escolha de seus governantes.
Obviamente, os indicativos de superfaturamento, o custo excessivo da estética paulochavista e, principalmente, a inexistência de recursos, no orçamento do Estado para 2007, para sua conclusão, constituem aberrações a provar, sem margem a dúvidas, que estávamos sob um governo no mínimo irresponsável. Mas agora pensem comigo: assumindo um governo de pessoas totalmente diversas, todas essas mazelas vieram à tona. E se o governo fosse apenas uma continuidade do anterior? Se os tucanos tivessem entrado no ano 13, como seria?
Se os tucanos continuassem no poder, o Hangar seria dado como "quase pronto", faltando somente umas besteirinhas. Se a inauguração demorasse, não faltariam desculpas "técnicas", dada pelo secretário de cultura. O jornal do PMDB destacaria todo santo dia os atrasos, os abusos e custos da obra. O jornal oficial destacaria todo santo dia sua grandiosidade e os impactos imediatos e maravilhosos sobre o turismo e a arrecadação tributária.
Em síntese, a gigantesca máquina tucana — que envolvia Executivo, Legislativo, empresariado, imprensa e outros setores do poder público, que deveriam ser isentas — daria um jeito de tudo parecer normal.
O que mais me impressiona é que, se é verdade que o orçamento não contém recursos para a conclusão da obra, como os tucanos pretendiam terminá-la em 2007? A resposta mais provável é: remanejando verbas de outros setores para isso. Aí cabe perguntar: e que setores seriam prejudicados? A propaganda evidentemente que não. Será que os tais hospitais regionais seriam adiados para o ano eleitoral de 2010?
Concluo afirmando o que falei diversas vezes: abstraindo-se os protagonistas, a alternância no poder é essencial à democracia. Enquanto os governantes de diferentes matizes não se alternam, a sujeira só vai de um lado a outro de sob o tapete. É por isso que, mesmo olhando com certa intranquilidade os primeiros dias do governo Ana Júlia, quero acreditar que, em alguma coisa, já melhoramos um pouquinho.

5 comentários:

Anônimo disse...

Dou um exemplo de um setor prejudicado: apesar de devidamente orçados desde o primeiro semestre de 2005, mais de 50% dos precatórios judiciais do Estado simplesmente não foram quitados pelo governo Jatene. E isso por um grupo político que se jactava do Pará ser um dos poucos Estados da federação que mantinha suas dívidas judiciais em dias.
O governo passado, de uma tacada só, desrespeitou ostensivamente o Poder Judiciário e seu próprio orçamento, deixou a ver navios diversos servidores que já haviam sido orbigados a recorrer à Justiça para ter seus direitos reconhecidos e, por fim, jogou no lixo o bom nome que a Procuradoria Geral do Estado construiu a duras penas.
Em lugar de pagar débitos inscritos em seu orçamento desde mais de um ano antes, o ex-governador preferiu dar andamento à sandice faraônica de seu secretário de Cultura. Para completar, a obra não foi acabada e sobre ela os meios de comunicação acusam suspeitas de superfaturamento. O que ainda falta descobrirmos?

Yúdice Andrade disse...

Muito obrigado pela lúcida contribuição, Francisco. E quanto ao que ainda falta descobrirmos, é só pensar que doze anos não se revelam em sete dias...

Anônimo disse...

Yúdice, o custo de operar um hospital e´enorme. Gasta-se mais,por ano, do que o que foi gasto para construí-lo.
Isso explica essas inaugurações de hospitais inconclusos em final de governo derrotado nas eleições. Se houvesse ganho, os hospitais não seriam inaugurados, ate´as próximas eleições, e a grana iria para o PCzão!

Yúdice Andrade disse...

De fato, só a compra de equipamentos envolve valores astronômicos. Depois, a manutenção dos mesmos, a compra de medicamentos - muitos com preços inacreditáveis -, a realização de exames - muitos idem -, etc., fazem um hospital ser um empreendimento hercúleo. Mas mesmo sabendo disso não tinha olhado pelo ângulo apresentado. Muito obrigado por me fornecer essa clareza.

Anônimo disse...

Esse Paulo Chaves achava que era.