sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Brincadeirinha...

O brasileiro é um povo cheio de qualidades e defeitos tão horrorosos quanto. Dentre estes, a mania de achar que aqui tudo é festa e, em nome dessa alegria genética, pode-se fazer tudo. Uma das demonstrações disso são esses trotes universitários que todos os anos se repetem, sem que nenhuma providência concreta seja tomada, capaz de coibir tais práticas.

Agora foi na Universidade Cidade de São Paulo — UNICID, no curso de Odontologia, onde uma caloura de 17 anos foi atacada a tesouradas por veteranas do mesmo curso, que cortaram as suas roupas, inclusive sutiã e calcinha. Com os seios desnudos, foi obrigada a engatinhar e chamada de prostituta. Também havia rapazes no grupo e alguns deles teriam passado a mão na moça que, compreensivelmente, encontra-se emocionalmente arrasada. Consta que 28 calouros foram retirados da sala de aula, amarrados uns aos outros e algumas das moças passaram por vexame semelhante.

Ao menos no caso da caloura aqui relatado, houve registro de ocorrência policial, por iniciativa da própria família. Existe, no caso, um crime de constrangimento ilegal (coagiram a jovem, mediante violência física, a fazer algo que a lei não permite), que pode ser punido cumulativamente com eventuais lesões corporais. (Considerando a Lei n. 12.015, de 2009, portanto posterior a esta postagem, hoje estou mais propenso a classificar o fato como crime sexual e não simplesmente contra a liberdade individual.)

Consta que a UNICID emitiu nota "lamentando o ocorrido". Só isso? Lamentou o ocorrido? Lamentou tanto que a nota sequer pode ser encontrada em seu site. Mas ao invés de demonstrar toda essa contrição, o que deve fazer a tal faculdade é instaurar investigação interna (alegaram tê-lo feito) e, identificados os marginais/bandidos/delinquentes/meliantes/sociopatas que se envolveram na brincadeira, mover contra eles processo disciplinar destinado a expulsá-los.

Expulsão é a mínima punição que essa canalha merece. Uma instituição séria não precisa desse tipo de pagadores de mensalidades. E apoio institucional às vítimas também é uma providência essencial.

Os qualificativos redundantes acima escritos servem para que nos questionemos, considerando a sociedade maniqueísta em que vivemos: esses acadêmicos são cidadãos de bem ou simplesmente criminosos?

4 comentários:

Val-André Mutran  disse...

Sou da paz Yúdice, mas, nesse caso resolveria a parada na bala. Desse no que desse.

Yúdice Andrade disse...

Faz sentido o cidadão comum pensar dessa forma, Val-André. Todos já carregamos o sentimentos de que é a única forma de obter compensação por nossas dores, já que justiça só a de Deus.

Anônimo disse...

É repulguinante tal atitude dessas pessoas, o trote universitário é comum, mas algumas Entidades Importantes tem interesse e se preocupam com essas coisas, criando comissoes de trotes, E não aceitando trotes nos arredores da Universidade, mas com a comissão se certificam de evitar tais problemas. A ingestão de alcool é um fator importante. Isso acontece com frequencia durante o trote, ja em outros lugares como a citada o dinheiro é arrecadado para festas posteriores e manutenções de centros acadêmicos. Tem que haver punições para que todas as Universidades previnam da mesma forma esses casos

Yúdice Andrade disse...

De acordo, anônimo. Não podemos tolerar que as instituições de ensino fiquem inertes, sob qualquer argumento, inclusive de que os fatos se deram fora de suas dependências. Não importa. Foram "alunos da faculdade X". É isso que a sociedade anotará. Se houver reação à altura, tais trotes, com o tempo, devem acabar.
Não é sintomático que, aqui em Belém, esse tipo de barbárie não aconteça? Aqui, a moda são os trotes solidários. Graças a Deus.