Desde ontem a imprensa tem explorado mais um episódio lamentável de violência urbana, ocorrido para variar no Rio de Janeiro: dois jovens, um deles adolescente, sequestraram uma senhora que trafegava em seu veículo acompanhada da mãe e da filha, um bebê. Cinegrafista amador ajudou a dar maior dramaticidade ao caso. Durante a perseguição policial, troca de tiros e o cidadão comum, mais uma vez, ficou entre o fogo dos criminosos e a frigideira da polícia.
Uma bala — obviamente disparada pelos policiais que perseguiam o automóvel roubado — atingiu o portamalas e se alojou no encosto do assento traseiro. Alojou-se, mas podia tê-lo atravessado e, se o fizesse, atingiria uma ou mais das vítimas, que ali se espremiam em desespero. Escaparem incólumes foi a vontade de Deus.
Por muito pouco não se repete a tragédia de a polícia, que deveria proteger o cidadão, não acabar com ele, à semelhança da insanidade ocorrida aqui em Belém, nem faz tanto tempo, quando o produtor de eventos Carlos Gustavo Maia Russo, refém, foi fuzilado pela polícia (fato recentemente lembrado pelo amigo Frederico Guerreiro, primo da vítima).
O Comando da Polícia Militar carioca já determinou a abertura de sindicância para apurar se — destaque para o "se" — os policiais cometeram algum excesso. Sem dúvida que eles alegarão estrito cumprimento do dever legal e bradarão aqueles argumentos heroicos de que engravatados não conhecem a verdade das ruas, onde os verdadeiros policiais arriscam suas vidas diariamente. E, claro, dirão que as vítimas foram salvas ilesas e os criminosos, presos.
Menos mal. Porém, isso não muda o fato de que ninguém, em sua sã consciência, pode efetuar disparos, no plural, contra um automóvel em cujo interior estão três reféns. Ignorar isso é despreparo, incompetência e sandice, muito ao contrário do bom senso e do sangue frio que se exige de um policial.
Mas acredito que a culpa maior não seja desses doidos uniformizados e armados. E sim dos burocratas e políticos que, desviando os recursos da segurança pública, impedem que a sociedade disponha de uma polícia bem treinada e equilibrada.
2 comentários:
Yúdice, é como eu disse antes, em comentário a outro post teu: em nosso país, devido aos índices sociais centro-africanos (ou haitianos, como se queira adjetivar), a violência está intimamente ligada à pobreza. Isto vale tanto para os bandidos, quanto para os policiais, que moram no mesmo lugar, sobrevivem com os mesmos tostões e foram criados na mesma realidade social dos marginais.
Realmente. Já li alguns textos sobre a condição dos policiais brasileiros, submetidos às mesmas injunções dos que se tornam criminosos. Seria a primeira explicação para o fato de não conseguirmos separar as duas categorias com clareza, com uma freqüência constrangedora.
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