domingo, 4 de fevereiro de 2007

História dos vencedores e dos idiotas

Dando um tempo na política local, retomo aqui a postagem de alguns dias atrás, sobre a História que aprendemos (alegadamente) na escola. Fiquei devendo comentários sobre a História do Brasil. Ei-los.

Invocando novamente o grande Renato Russo, reporto-me agora à canção "Perfeição", na qual alude ao "nosso passado de absurdos gloriosos" — uma felicíssima expressão da falácia descarada que nos foi empurrada goela abaixo ao longo de décadas e décadas.
O que foi que aprendemos? A Princesa Isabel era "A Redentora". Tiradentes, "o mártir da Inconfidência". Dom Pedro I, um heroico defensor apaixonado pelo Brasil, que quis libertá-lo do jugo de uma nação exploradora. Getúlio Vargas era o "pai dos pobres".
Fiz convênio em 1991, época em que ainda existia a divisão por áreas e eu era do CH. Nossas aulas enfatizavam História e Geografia. E foi nas aulas de História daquele ano, através do talento do grande (inclusive fisicamente) Prof. Haroldo Trazíbulo, que aprendi um pouco dos abusos teóricos e distorções covardes a que fomos submetidos.
Princesa Isabel não aboliu a escravidão por misericórdia aos negros, mas apenas porque a Inglaterra exigiu isso, a fim de ter, no Brasil, maior contingente de trabalhadores assalariados, consumidores para os produtos que exportava. Tiradentes era um cara bem intencionado, mas que quando bebia — coisa que fazia muito — revelava por aí os planos dos inconfidentes. Dom Pedro I foi um precursor dos playboys de hoje — endinheirados, galinhões, violentos, sem nada na cabeça —, mas que literalmente pegou um bonde na História e se deu bem. E Vargas foi um ditador.
Há inúmeros exemplos de distorções. Naturalmente, uma criança de 5 anos não consegue assimilar abordagens históricas com complexas orquestrações geopolíticas, mas daí a romancear tudo e transformar crápulas em herois vai uma longa distância, que jamais deveria ter sido transposta. Além disso, a absoluta falta de criticidade chega a ser criminosa. Não me esqueço de Trazíbulo perguntando: Já repararam que a independência foi proclamada por um membro da família real? Que a república foi proclamada por um monarquista (isso mesmo, Deodoro da Fonseca, que nem sabia o que estava fazendo quando mandaram que subisse no cavalo e puxasse a espada)? Que nossas revoluções não vêm do povo, mas de grupos socialmente poderosos?
Em suma, o Brasil é um país de ponta-cabeça, inclusive historicamente. Deve ser por isso que é tão difícil consertar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice, nossas instituições têm que ser fortalecidas(prerrogativa para os países subdesenvolvidos). Você, mais do ninguém, sabe que tudo passa pela Justiça, daí...
Beijos, Cris Moreno.

Frederico Guerreiro disse...

Excelente comentário, mestre! Foi isso mesmo!
Da mesma forma, o tempo se encarregará de desnudar a verdade sobre os dias atuais.