quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Quem manda é "ela"

A famosa e bela fotografia de Luís Braga: Praça da Sereia sob chuva


Nesta época do ano, o belenense típico costuma usar expressões que sempre me pareceram curiosas, coisas do tipo "tá na hora dela", "hoje o dia é dela" ou similares.
Quem é essa entidade, tratada como se fosse uma coisa viva, dotada de consciência, personificada? Quem é essa quer exerce tanto poder sobre todos, a ponto de as pessoas definirem o seu dia, os seus interesses e necessidades, com base no que ela permite?
Ela é a chuva — essa maravilha da natureza, fonte de vida no exato sentido da expressão (que o digam os sertanejos). Essa delícia que mata o calor fustigante desta terra, que influencia o regime da pesca, que interfere nas safras de nossas saborosas frutas. Essa bênção que cai e escorre na pele, dando-nos uma sensação de paz. Esse brinquedo divino da garotada.
Para mim, chuva é uma das melhores coisas do mundo. Dá para imaginar um clichê maior do que um beijo de amor intenso trocado sob a chuva que encharca os corpos amantes? Há maior imagem de fracasso do que um vilão derrotado, caído sob a chuva?
Chuva é em tudo superlativo. Inclusive nos efeitos devastadores que pode causar. Nem falo das plantações arrasadas e inundações. Basta pensar que a mesma chuva que me anima o espírito invade as casas de muitos concidadãos meus, deixando-os sem nada. Assim, quando o céu fica chumbo e se enche de sons apavorantes, penso naqueles que não comemorarão como eu.
A sabedoria popular já o diz. Ela cai quando quer e faz o que quer. A hora é dela. Que possa ser uma boa hora.
Feliz chuva, irmão.

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