Começou a fase coercitiva da operação da CTBel destinada a disciplinar o estacionamento na cidade. Presumo que 9 em cada 10 proprietários de veículos e/ou motoristas será contra. Mas a CTBel está coberta de razão e isso nada tem a ver com a decantada "indústria de multas".
Sou um motorista nervoso. O trânsito me tira do sério, mas procuro andar dentro da lei. Não corro, não faço manobras perigosas nem sequer bruscas, sinalizo com o pisca-pisca, respeito a sinalização. Furar sinal, só à noite, para evitar os assaltos — risco altamente provável na cidade. Mas não é o que vejo. Raros são os dias em que não me irrito com atrocidades no trânsito, muitas das quais me colocam em perigo.
Conhecendo outras cidades, posso afirmar que o motorista de Belém pediu para ser mal educado, egoísta e abusado e entrou na fila várias vezes. Acredito que a principal característica seja mesmo o egoísmo. Isso explica os estacionamentos em fila dupla ou em lugares inadequados (um Mille vermelho na frente do meu prédio me obriga a desviar para a esquerda na subida da rampa da garagem, mesmo eu tendo que dobrar para a direita, além de bloquear minha visão, num local em que sempre existe uma bicicleta na contramão). Explica a negativa de passagem para ambulâncias e a agressividade com que todo motorista sociopata reage quando recebe uma crítica. Quando mais errado, mais virulento.
O belenense não aprende com pedagogia. Tem que ser na peia, mesmo. Então que venha a peia. Desde que me tornei motorista, sempre tive a consciência de que, se não há lugar para estacionar, tenho que ir mais longe. Se eu tiver que andar três quarteirões, quatro, cinco, paciência. É o ônus de viver numa cidade em que se disputa espaço. O que não posso, sob qualquer argumento, é penalizar pedestres e donos de imóveis com as minhas conveniências.
Ainda não consegui ser cara de pau desse jeito.
3 comentários:
Yúdice, realmente, o paraense de um modo geral, é muito mal educado no trânsito. É muita barbeiragem!Não é só em Belém que temos estes problemas. No interior também é complicado. Sou funcionário do TJE, lotado em Concórdia do Pará, e dirigo com o máximo cuidado, fazendo tudo para não bater em ciclistas e motoqueiros desavizados. Nas áreas críticas próxima a feiras, principalmente, o motorista de carro que não queira colidir com alguém deve fazer malabarismo, pois a quantidade de ciclistas que invadem a pista não é brincadeira. Isso acontece em todo o Estado. Com a palavra o DETRAN.
Yúdice, quero meter minha colher neste angú. Vou dar uma de advogado do diabo, na qualidade de mero usuário do trânsito, e suscitar alguns pontos de reflexão:
1. A CTBEL trabalha dissociada da Secretaria de Urbanismo (ou de Economia, ou a que o valha). Apesar de exigir a regularidade nos estacionamentos (coisa muito correta, aliás), os órgãos municipais exigem do pequeno e médio comerciante, empresário ou profissional liberal que, na instalação de seu local de trabalho, provejam um determinado número de vagas de estacionamento, em local privado, para não impedir a trafegabilidade da área. O mesmo se impõe aos condomínios, residenciais ou não, verticais ou horizontais. Pois bem: à miríade de faculdades e universidades particulares da cidade, para ficar só neste exemplo, não se obriga a mesma providência. Próximos de mim, posso citar a Faculdade Ipiranga, na Henrique Gurjão, e a FABEL, nas instalações do Colégio Dom Bosco, na Aristides Lobo, como antimodelos de regularidade neste campo. Obviamente, existe quem tente seguir a norma; mas não creio que os estacionamentos da CESUPA, para ficar em um exemplo do centro da cidade, sejam suficientes para a quantidade de seus potenciais usuários.
2. As áreas destinadas a filas de táxi pontuam na cidade. Multiplicam-se de modo virulento, verdadeiramente privatizando áreas originariamente públicas, que poderiam ser utilizadas para estacionamento. Ocorrem, obviamente, próximo ou em frente a prédios de grande atração - órgãos públicos, na maioria das vezes. Em contrapartida, não se cobra dos taxistas qualquer espécie de tributo, ou o que quer que seja, pelo uso destes espaços. E o particular, que paga IPVA por inteiro, além de vários outros tributos embutidos no preço e na manutenção de seu carro, fica a ver navios, ou a procurar vagas mais e mais difíceis de encontrar.
3. Usar o transporte público como substitutivo do automóvel particular? É melhor nem falar desta hipótese.
Concordo com a iniciativa da CTBEL, de dar cabo da usurpação do espaço do pedestre pelos donos de automóveis particulares. Mas estes também merecem solução para seus problemas de trânsito. Afinal, todos somos cidadãos, apesar de, como sempre costumo dizer, existir em média cinco imbecis no trânsito a cada quarteirão da nossa pobre Belém.
Márcio, realmente no interior a coisa é igualmente séria, com a peculiaridade é que, nessas cidades, é corriqueiro o uso de motocicletas - e aí impera o pragmatismo: até crianças trafegam pelas ruas, sem qualquer fiscalização. Não à toa, em Santarém, p. ex., aumenta drasticamente o número de acidentes de moto.
Francisco, suas sempre lúcidas contribuições permitem um olhar diferente sobre o tema, que deixa de ser uma simples questão de educação para o trânsito e passa a ser vista, também, como um problema de gestão do espaço urbano pela Municipalidade. É essencial sermos capazes de perceber essas outras nuanças. Ainda mais numa Municipalidade sem prefeito...
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