sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Em São Paulo se morre

Ontem à noite assisti a pedaços de alguns telejornais. No geral, ainda estão dominados pela tragédia no Haiti. Reservam, contudo, uma parte do tempo para as tragédias domésticas e passam a falar da situação de São Paulo, a capital econômica do Brasil, que por causa das chuvas vem sofrendo, há várias semanas, o drama de se ver quase como um arquipélago isolado do resto do país.
Inundações, deslizamentos, desmoronamentos, mortes. Gente desabrigada, proliferação de doenças, incapacidade do poder público de lidar com a situação. Caos e sofrimento. Mas em meio a tudo isso um enorme sorriso se abre na cara dos jornalistas-âncora e eles continuam falando da cidade, mas da São Paulo Fashion Week, aquela baboseira que mobiliza as atenções de meio mundo, como se moda fosse algo realmente importante. Ao dizer isto, acabei de me condenar à execração pública. Eu choro! Leiam o nome do blog, ora pois!
Mas é claro que não me rebaixarei ao ponto de escrever sobre moda. Meu interesse é outro: a magreza repugnante das modelos. Já tratei disto anteriormente:
Mais uma vez, as modelos esquálidas subiram à passarela e, segundo algumas matérias localizáveis através do bom e velho Google, até os fashionistas (que diabo é isso?!) se espantaram.
O problema é que as ideias em torno do assunto continuam erradas. Em um dos jornais que vi, salvo engano o da Band, a apresentadora falava o tempo todo em "tipo de beleza". Ela dizia que as modelos têm um tipo de beleza praticamente impossível de ser alcançado por pessoas comuns. Céus! Quem pode ver beleza nisto?
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A primeira ainda passa, mas a segunda é a própria expressão de um campo de concentração nazista. Por isso usei o termo "repugnante". É feio de se olhar e mais feio ainda se pensar que existe uma indústria submetendo seres humanos a isso. E seres humanos que buscam isso por vontade própria; que vão a isso com seus próprios cambitos.
Enquanto gente lesa continuar dizendo que já algum rudimento de beleza nessa sandice, nada poderá ser feito para mudar a conjuntura. E a única coisa que faz as modelos não serem pessoas comuns é o fato de que conseguem sobreviver subnutridas e se impõem tais sacrifícios mesmo quando riquíssimas.
Não podemos nos esquecer de que todos os conceitos sobre beleza são absolutamente artificiais. Há alguns anos, nem tantos assim, as top models mais famosas e ricas eram mulheres hoje consideradas gordas (!!!). Tinham um índice de massa corporal dentro do aceitável e não 46 quilos para sustentar 1,77 de altura! O que mudou? A ciência? A natureza? Não. Apenas a calhordice de gente louca.
Isso vira a minha cabeça. Posso até me esforçar para entender pessoas cometendo violências contra si mesmo para ficar bonito. Mas fazer isso para ficar feio é demais para mim.
Em São Paulo se morre, meus caros. De inundação, de desmoronamento e de fome, voluntária inclusive.
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8 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, eu também nunca compreendi esse tal mundo fashion com aquelas roupas de Flash Gordon e as modelos com perna tuiuiú. Modelo de quê? De pássaro?
Mas, afinal, se desfile de moda é para mostrar novas tendências, quem, raios, sairia que nem um andróide pelas ruas a não ser no bloco do Caveira?
É para vender roupa ou promover a anorexia?
Às vezes fico torcendo que o andar cruzando as pernas acabe logo em aterrissagem na Terra. Imagine um galope desse no apartamento de cima. Ah, já tinha chamado de eguinha pocotó.
Ademais, se for por causa das modelos, esse padrão de beleza, pelo menos para mim, está fora de cogitação, pois deve doer os ossos da bacia transar com uma mulher tuiuiú, que anda que nem um cavalo (trota, na verdade). Tem umas que dá para bater o prumo, que fica mais reto que um pilar, ou mais parecem uma régua de desempenar reboco.
Êta mundo louco...

Ana Miranda disse...

E o que é pior caro Yúdice, morre -se de fome, não por falta de comida, mas por falta de inteligência.
Será que elas, as modelos, ao olharem-se nos espelho, sentem-se bonitas?
Será que há homens que sentem prazer em estar com mulheres "caveiras"???

. disse...

Olha, Ana, acredite: eu conheco homens que têm total tesão por caveirinhas.

Até 7 anos atrás, eu pesava 49kg, com meus 1,65m. Todo mundo elogiava meu corpo e achava o máximo.
Mas bom mesmo é hoje sentir que tenho "sustância", como diz minha mãe, com meus 63kg.

Ana Miranda disse...

Eu, no início do ano passado estava com 49 kg, depois de muito correr, eu meço 1,57.
Meu marido reclamou pra caramba e me fez engordar.
Hoje estou com 55 kg e estou a-do-ran-do.
Quando comecei a correr, pesava 62 kg. Juro que emagreci só correndo, não fiz dieta. Faz 2 anos que eu corro.

Cléoson Barreto disse...

Olá!
Pra mim existem dois tipos de mulheres: as bonitas e as modelos! :-)
Um abraço.

Frederico Guerreiro disse...

Aterrissagem na Terra foi ótimo, Fred.

Yúdice Andrade disse...

Já fiz todos os esforços para entender a dinâmica desse mundinho louco da moda, Fred, mas é impossível. Vende-se um produto imbecil num mostruário ridículo. E vende! Dá para pensar em algo assim?
Quanto à "aterrisagem na Terra", foi ótimo, sim! ;)

Posso te assegurar, Ana, que homem não gosta de caveiras ou de ossos. Gostamos de carne, de curvas e de volume. Gostamos de uma pele macia, que não tenha um osso logo por baixo. Por isso a minhas perplexidade.

Mas é claro que existem homens assim, Waleiska. Mas penso que a exceção confirma a regra. Também sei de gente que sente tesão por anãs, por idosas, por cadáveres, etc.

Uma síntese fantástica, Cléoson!

Anônimo disse...

Tenho a seguinte teoria (minha mulher que é linda mas tem lá as suas , adora):"mulher sem uma celutetizinha ou é traveco ou boneca inflável sueca". Nós homens amamos uma imperfeiçãozinha cá , acolá , é importante para o equilíbrio.Vai que ela começa a reparar na barriguinha etílica , nos meus dentes separados , minha cabeleira cada vez menos vasta e por aí vai.
Quem mandou bem nesse fashion week foi o Dicró , convidado meio estranho no ninho , que disparou a seguinte pérola:"As meninas são tão magrinhas que dá vontade de comprar uma quentinha pra elas"
definitivo!
Abraços
Tadeu