Uma das cenas mais interessantes do filme A rede social, na minha opinião, mostra os irmãos Winklevoss e Dyvia Narendra contratando Mark Zuckerberg para criar uma rede social para eles. Expostos os termos do pedido, Zuckerberg pergunta qual seria o diferencial da rede, se ela, enquanto conceito, não seria muito distinta de outras, já existentes. Agastado, um dos gêmeos responde:
— Harvard.edu!
Com isso, deixa claro que o essencial era a tal rede funcionar como um clube privê para a elite intelectual estadunidense, sediada na celebérrima Harvard. Era a ideia original, mas não foi assim que as coisas permaneceram. Aliás, o Facebook não se tornaria uma empresa altamente lucrativa se permanecesse restrita ao universo acadêmico, mesmo que da poderosa Harvard, ainda mais considerando que Zuckerberg não quis abrir o capital e nem torná-la acessível a qualquer tipo de publicidade.
O fato é que, hoje, qualquer pé rapado pode ter uma conta no Facebook e é exatamente o que está acontecendo. Graças a isso, o outrora onipresente Orkut está virando uma espécie de rede social de pobre, enquanto as coisas acontecem de verdade no Facebook. De repente, começa a ficar claro para mim por que tanta gente que conheço, e sei que navega muito na Internet, não tem atualizado seus perfis no Orkut. Até uns meses atrás, quando acontecia de tirar fotos com amigos por aí e pedir para me mandarem por e-mail, respondiam-me que elas seriam publicadas no Orkut. Copiei várias fotos assim. Esta semana, contudo, uma ex-aluna me disse, com naturalidade:
— Tens Facebook? As fotos da formatura estão lá.
Estou convencido de que esse fenômeno tem relação direta com o sucesso de A rede social. A sofisticação original do Facebook seduziu gente por toda parte e é mais quem quer se sentir perto de Zuckerberg. Se Orkut Büyükkokten não tivesse batizado sua criação com o próprio prenome, já estaria num negro esquecimento.
Faz tempo que recebo convites para aderir ao Facebook. Sempre ignorei todos, por um único motivo: não quero ter conta em diversas redes sociais. Sou econômico, gosto de parcimônia. Se tenho conta no Orkut e ela atende aos meus objetivos, não preciso de outra. Acho ridículo gente que tem conta no Orkut, Facebook, Badoo e sei lá mais quantas porras dessas e convida as mesmas pessoas para todas elas! O cara precisa de minha amizade em quantos mundos virtuais, Jesus Cristo?!
Some-se a isso que há muito tempo tornou-se raro eu acessar o Orkut. Nunca me desliguei porque ainda é o meio pelo qual reencontro antigos amigos, mando mensagens de aniversário, enfim, acompanho de longe a vida de pessoas queridas. Não vejo vantagem em criar um segundo perfil que raramente será utilizado. A menos, é claro, que no final das contas os proveitos que ainda tiro do Orkut acabem de vez e não me reste alternativa senão aderir a um mundo que deveria ser majestático como Harvard, mas que hoje é apenas mais uma farinha de feira.
3 comentários:
A meu ver, os irmãos Winklevoss tinham toda razão. Nos EUA, a febre era o MySpace, o Friendster etc., quando surgiu o Facebook, que estava associado à elite universitária e que, por isso mesmo, de repente se tornou um diferencial de status. No Brasil, a febre era o Orkut, que, no seu início, só podia ser acessado mediante convite e estar nele também era um fator de status. Quando ele se popularizou, tornando-se, numa feliz expressão do twitter, "o baile funk" da internet, em que todo tipo de gente pode ser encontrada, eis que surge o Facebook como alternativa "civilizada", onde a pessoa da classe média encontra aquelas pessoas com quem ela sairia, a cujos aniversários ela iria, com quem ela falaria se encontrasse na rua. Lá ela não vai ler, com caracteres bizarros e os mais assustadores erros de português, que "Sua inveja faz o meu sucesso", que "É fácil falar de mim, difícil é ser eu" ou "Solteiro, sim, sozinho nunca", e coisas do tipo. Pelo menos por algum tempo. De repente, o Facebook se tornou a Wandenkolk, para não dizer o Leblon ou a Vila Madalena da grande Cosmópolis virtual, o lugar em que eu não vou ver e posso fingir que não existem exatamente aquelas pessoas que são invisíveis também na minha cidade, no meu país, aquelas pessoas cuja falta de educação, de estilo e de status me ofendem pessoalmente, aquelas pessoas que eu quero deixar no gueto, na favela, na invasão que eu agora considero que é o Orkut. Pelo menos até que os invisíveis se tornem visíveis também nesse novo espaço e me obriguem a buscar um novo espaço privado e bem guardado, um Atalanta ou um Greenville em que eu me sinta seguro com os meus de novo. Por isso, os irmãos Winklevoss nunca tiveram tanta razão. Eu uso o Facebook, porque estar numa rede social é estar onde as pessoas que você conhece estão e onde você pode saber delas, manter contato com elas, ver suas fotos e seus recados. Mas sei que numa rede social virtual, assim como numa rede social real, status e preconceito andam de mãos dadas e a suposta democratização da internet só funciona para quem fecha os olhos para a formação de elites e círculos virtuais restritos. As pessoas que usam o Facebook são, em sua maioria, as mesmas que só se reúnem com seus iguais e que banem qualquer incômoda diferença para trás das cortinas de seu mundo cor-de-rosa. Não seria de esperar que fizessem diferente quando estão on line.
Preciso, como sempre. Vou destacar. Abraço.
Eh...eh...eh...
Então eu sou menos que "pé rapado", pois nem orkut tenho.
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