sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Desesperada necessidade de atenção

Vendo ontem o episódio "A Internet é para sempre", da quinta temporada do seriado Criminal Minds, no qual um assassino estrangula mulheres e exibe as imagens em tempo real pela rede mundial de computadores, deparei-me com uma sequência interessante.
Nela, o veterano Agente Rossi admite sua ignorância quanto às redes sociais (onde as vítimas eram selecionadas) e lê coisas como "hoje vou almoçar tal coisa" ou "meu chefe é um saco", etc. Postagens extremamente rápidas, na linha Twitter. O respeitado pesquisador se pergunta — creio que com uma certa dose de desdém — quem, afinal, pode achar que haja pessoas interessadas em saber coisas daquele tipo. O Agente Morgan lhe responde que, talvez, ninguém se interesse, mas há pessoas que precisam desesperadamente acreditar que alguém se interessa.
Trata-se, portanto, de uma técnica de autoengano. Só consigo pensar que agir dessa forma expressa uma profunda carência emocional somada à inabilidade para relações sociais, ou seja, o indivíduo tem uma necessidade de ser amado acima da média (todos temos tal necessidade), mas não sabe como obter admiração e afeto na relação direta com seres humanos. E o interessante é que essa inabilidade pode ser percebida mesmo em pessoas que dispõem de todos os recursos para se fixar em grupos de afinidades — na escola, no trabalho, etc.
Quando escrevi postagem rejeitando o Twitter para mim mesmo, tinha navegado um tempinho no microblog e ficado um tanto impressionado com a quantidade de textos banais, exatamente nessa linha. "Já vou para a academia", "estou pensando em pegar um cineminha", "me sinto bem hoje", etc. Naquele momento já me perguntava para que isso. Refletindo a respeito após ver a cena acima descrita, volto a pensar no imenso paradoxo de nossos dias: há cada vez mais gente no mundo, mais formas de interação física ou virtual e, mesmo assim, as pessoas parecem cada vez mais solitárias e tristes. Realmente, isso me parece por demais contraditório. E me entristece, também.

6 comentários:

Rita Helena Ferreira disse...

Caríssimo Yúdice,

Acho que sua abordagem alcança somente as pessoas que utilizam as redes sociais exclusivamente com esse fim! Isso porque, a meu ver, sintetizar a utilização das redes a esse aspecto seja um ato um pouco simplista...

Vou falar com base no twitter, única rede que uso, de fato, atualmente, embora tenha contas no face e no orkut.

Eu o utilizo por vários motivos. Por exemplo: compartilhar uma informação que considero interessante; expressar um momento de felicidade para amigos que me seguem; comentar um programa de tv e receber vários comentários divertidos em troca; fazer com que o tempo da esteira passe mais rápido - por sorte, tenho essa habilidade de acessar a internet móvel sem me desequilibrar, rs; desabafar; conversar sobre assuntos diversos...


Então, para mim, assim como para muitos, a necessidade de atenção não chega a ser um fim em si mesmo, embora esteja, claro, implícita em muitas dessas ações... Pelo menos é o que penso...

Enfim, creio que eu tenha absorvido as mil e uma utilidades da ferramenta, fazendo com que ela seja mais um instrumento de lazer na minha, vida, dentre muitos outros.

Por certo, o excesso deve ser evitado, mas isso não vale apenas para o twitter, não é? Afinal, a virtude está no meio termo...

Abraços e bom final de semana!

Luiza Montenegro Duarte disse...

O Twitter é mais legal quando você segue o @FlanarBarretto e o @tantotupiassu, para vê-los namorando.

(Será que eles entram aqui?)

sociologando disse...

Minha filha considera que o twitter e uma maneira de informação rápida, mesmo com muita bobagem, erros, notícias chegam lá primeiro e essa dimensão é bem interessante. Por exemplo, quando houve a queda do prédio, assim que ouviu o barulho ela ligou o twitter e a TV. Nesta, o filme Godzilla passava e vez por outra havia inserções da notícia. No twitter já havia se espalhado, com opiniões, fotos... Foi muito útil. Agora, com certeza, há nessa rede, como em qualquer meio social, necessidade de aparecer e de sentir "seguido" e relacionado com outros, sentir que alguém se interessa pelo que diz.

Ana Miranda disse...

Eu não tenho twitter, nada contra, mas não tenho paciência para ficar dando ou lendo informações o tempo todo.
Não vejo o twitter como um ato solitário, vejo mais como uma maneira de informar "trocentas" pessoas ao mesmo tempo sobre os assuntos. Alguns totalmente inúteis e outros até interessantes, principalmente quando informam sobre o trânsito, onde há congestionamento, etc...

Anônimo disse...

Me lembrei de uma foto das pérolas do orkut, onde aparecia um rapaz e seus amigos numa piscina estranha. Na descrição dizia: “eu e us mano tomando uma breja”. Culturalmente fantástico.

Alexandre

Yúdice Andrade disse...

Naturalmente, Rita e Maria Cristina. Minha intenção não foi dizer que os usuários do Twitter são limitados assim, mas que gente limitada recorre ao Twitter por considerá-lo mais condizente com suas necessidades. Temos que admitir que há grandes utilidades para ele, em termos de informação rápida, desde que útil.

Eles entram, Luiza. Fiquei curioso por alcançar a profundidade do comentário...

Essa utilidade quanto ao trânsito é uma de minhas favoritas, Ana, mesmo não tendo o hábito de acessar pessoalmente.

Devia ser uma visão do inferno, Alexandre. Us inferno.