A sociedade brasileira tem o que comemorar, ao menos por enquanto. É que o Tribunal Superior Eleitoral concluiu, ontem, o primeiro julgamento no qual se discutia a aplicabilidade da "Lei da Ficha Limpa" já para as eleições deste ano. Por 5 votos contra 2, prevaleceu o entendimento que pode ajudar a recuperar a representação política neste país.
Mas os políticos não precisam fazer sacrifícios de sangue para salvar suas peles. É só levar a questão ao Supremo Tribunal Federal onde, tudo indica, a presunção de inocência continuará dando as cartas.
Esta minha ironia pode parecer estranha aos leitores que conhecem o meu viés declaradamente garantista. Mas sempre faço questão de destacar a diferença que há entre aplicar penas sobre um indivíduo e estabelecer critérios de escolha para funções essenciais à democracia. Além disso, os pruridos em questão ignoram o fato de que todos nós, para escolhermos um empregado doméstico, um estagiário, um sócio e até mesmo um parceiro amoroso, fazemos triagens. Um dos critérios a analisar bem poderia ser a idoneidade e a aparência de idoneidade.
Como já escrevi em uma outra oportunidade, dada a imensa fragilidade do eleitor brasileiro médio em termos de consciência de cidadania, posto que vende seu voto por qualquer ninharia (a classe baixa), ou vota no candidato de olho em algum carguinho ou favorecimento (a classe média), ou ainda participa das grandes chicanas contra o erário (a classe alta), os canalhas sempre serão eleitos e reeleitos. A menos que morram — mas vaso ruim não quebra (a única exceção é aquele coronelzão do axé) — ou que sejam eliminados de outra forma. E a "Lei da Ficha Limpa" cumpriria essa função. Ou ela é aplicada ou nunca nos livraremos dos vadios e seus sucessores.
2 comentários:
Estimado Yúdice, admiro-lhe bastante. A leitura dos seus textos é bastante agradável, apesar de nem sempre guardar concordância ao que escreves. Temos amigos em comum, mas não nos conhecemos e acredito que isso seja suficiente para merecer a credibilidade dos elogios que lhe faço, vez que não estão cobertos pela paleta da amizade, como poderias supor. :) Espero que algum dia eu possa convence-lo a ser mais benevolente com o "Brega". Voce já ouviu Lia Sophia? Abraços, uma admiradora, Symonne
Agradeço imensamente, Symonne, a sua generosa avaliação, ainda mais considerando as nossas divergências de opinião. E lhe adianto que posso ser mais benevolente com o brega, sim. Como sou com o brega de antigamente, aquele que era só romanticão, meloso, enjoado. Até cantarolo essas coisas no chuveiro. Mas esse de hoje está difícil, já que os cantores insistem em ser fanhos, a musicalidade foi substituída por aquelas papagaiadas de efeitos sonoros e os temas frequentemente propõem questões vulgares.
Mas se eu tivesse que escolher entre aturar o brega, o tecnobrega, o melody ou qualquer uma dessas coisas, e o funk, o hip hop, o rap ou qualquer uma dessas coisas, eu ficaria com o ritmo local. Seria um castigo menos indigno!
Já ouvi algumas interpretações de Lia Sophia, mas curiosamente não se tratava de brega.
Espero conhecê-la um dia. Será um prazer conversar, inclusive sobre o brega. Abraços.
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