Nesta semana, o nome de Gaby Amarantos está sendo muito divulgado nos portais de empresas de comunicação de âmbito nacional. A moça, enfim, conseguiu espaço. E conseguiu também uma plateia na capital paulista, objeto desta reportagem aqui, que tanto serve para informar sobre os rumos da carreira da cantora quanto para relembrar que São Paulo continua se achando o centro do universo. Faz-me lembrar o chiste "segurança nacional de Tubiacanga", que o Major Bentes interpretado por Lima Duarte vivia repetindo na novela Fera ferida (Globo, 1993/1994). Assim como a diminuta cidade queria ter uma segurança nacional, muitos paulistas reivindicam para si uma centralidade que faz inveja a Nova York, autoproclamada capital do mundo.
Todo mundo já sabe de minha antipatia por qualquer ritmo popularesco, ótimo para sacolejar o esqueleto e péssimo em termos de qualidade artística — seja ele o brega paraense em qualquer uma de suas 137.986.245 modalidades, seja o axé baiano (idem), seja o funk carioca e tantos outros. Por isso, não me meterei a escrever sobre qualidades musicais. Mas vendo a foto que coloquei ao lado, não posso deixar de mencionar que é exatamente isso que a imprensa local deseja: se nasceu no Pará e teve a oportunidade de aparecer na frente de uma câmera (mesmo que seja a do circuito interno de TV da sala de espera), tem a obrigação de gritar a sua procedência. Tem a obrigação de chacoalhar uma bandeira ou vestir uma camiseta vermelha cortada por uma faixa branca guarnecida por uma estrela azul. Provincianismo superlativo. Um saco.
Sei que estou sendo chato, mas não tenho a menor paciência com regionalismos encruados. Não à toa, minhas tentativas de ler Jorge Amado sempre restaram infrutíferas. Na minha opinião, o melhor livro dele é O gato malhado e a andorinha Sinhá: uma história de amor, obra infantil onde a Bahia de todos os santos, todas as raças e todos os credos não tem a menor importância.
Desejo boa sorte a Gaby Amarantos porque, afinal de contas, trata-se de um trabalho honesto. Mas se eu viajo para outro Estado e, mencionando ser do Pará, alguém me relaciona ao brega, dá vontade de sorrir educadamente e desaparecer.
4 comentários:
Adorei a parte da obrigação de mostrar sua procedência. A mídia e as pessoas locais parecem ter mesmo necessidade de ver um conterrâneo na TV para elevar sua autoestima.
Vejo isso atualmente com o jogador Paulo Henrique Ganso. Como sei que não acompanhas futebol, explico: Ganso é jogador do Santos desde os 15 anos e agora, com 20, é a grande sensação da Seleção Brasileira, tendo sido um dos mais exigidos pela torcida para a Copa do Mundo, pedido não atendido pelo técnico Dunga.
Anteontem, em sua estréia na seleção, Ganso jogou bem, mas a imprensa paraense já o chama de "Maestro da Seleção". Ainda publicaram uma matéria sobre todos os paraenses que já passaram pela equipe principal, que totalizam, salvo engano, doze.
Matérias como essa, ao meu ver, só demonstram nossa mediocridade. Tendo três clubes centenários na capital, só emplacamos doze, até agora? Temos quantos cantores de nível nacional? Atores? Escritores? Pesquisas científicas? Políticos de destaque (positivamente)? Não devemos passar de dez, em nenhum dos campos.
Ah, sim, voltando ao Ganso, no final da Copa do Brasil, semana passada, ele pediu autorização para tirar a camisa da equipe, com o nome dos patrocinadores, na hora da premiação, para subir com a camisa do Pará. Foi a glória da imprensa paraense, mas acho meio desnecessário, afinal, os outros atletas também não tem procedência? Precisam ficar jogando confetes sobre isso? Ou não deveria ser simplesmente algo natural?
Agradeço a preocupação didática, Luiza, mas como costumo acompanhar os portais de notícias, estou ciente da atual condição de Paulo Henrique Ganso. E, claro, é de fato um ótimo exemplo daquilo que critiquei. Quando se fala de Romário, Robinho e tantos outros, costuma-se associá-los ao Estado de origem? Que eu saiba, não. Costuma-se citar os times.
Nas outras áreas se dá o mesmo. O cantor mais endeusado do Brasil é Roberto Carlos, que qualquer fã sabe ter nascido no Município capixaba de Cachoeiro do Itapemirim. Mas quem não é fã, como eu, precisa procurar na rede o seu local de nascimento. Muita gente pensa que ele é paulista. A naturalidade do cantor só costuma ser mencionada quando se trata de um baiano.
Tão cansativo, isso...
Chama-se soberba, arrogância, empáfia, presunção, o tal "orgulho de ser do Pará" de um certo canal de tevê e jornal.
Pior que ser arrogante, é ser arrogante e pobre culturalmente. E não me venham com essa de dizer que o brega faz parte da riqueza cultural do Pará, que isso é o mesmo que nivelar a cultura paraense por baixo.
Que vá rosnar lá na...
Por diversos contatos anteriores, Fred, sabemos que estamos do mesmo lado da discussão.
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