sábado, 29 de janeiro de 2011

Quando perto de nós

Naturalmente, não farei nenhuma postagem jornalística sobre o desabamento do Edifício "Real Class", na tarde de hoje, aqui em Belém. Para isso existem os jornalistas, através dos sítios informativos (âmbito nacional, como p. ex. na home page do Globo.com, destaque que prosseguiu no dia seguinte), e diversos blogueiros locais, que estão postando a respeito, inclusive o Carlos Barretto, companheiro de Flanar, onde postou fotos da mesma paisagem, uma mostrando o edifício e outra, já sem ele.
Sempre digo que os acontecimentos extraordinários nos provocam efeitos mais intensos quando perto de nós. O fato de o desabamento ser em minha cidade já me causaria maior impressão, mas há mais do que isso.
Eu me dirigia ao supermercado quando tomei conhecimento do sinistro. Meu irmão, que sabia de minha movimentação, telefonou para minha esposa, a fim de nos prevenir quanto à obstrução do trânsito. Mas tão logo estacionei no supermercado — e de onde estava podia ver claramente os três edifícios, onde deveria haver quatro —, telefonei para um amigo, antigo morador do Edifício "Blumenau", o mais próximo do desastre e o único já habitado. Não sabia que ele já se mudara de lá, o que me deixou aliviado quando o próprio me deu a notícia, muito tenso, pensando nas amizades que por lá deixou.
O alívio é relativo, porém, porque tenho um casal amigo no "Blumenau", pais de um bebê mais novo que minha Júlia.
Impossível ignorar, também, que passei pela Rua 3 de Maio, bem na frente do "Real Class", cerca de quatro horas antes de ele se tornar um montanha de escombros. Naquele momento, eu conversava com Polyana, dizendo-lhe que uma colega nossa de docência vai se mudar no próximo mês para um desses edifícios aí. Não sabia qual deles. No supermercado, sem o telefone da colega, afligia-me pensar que ela poderia ter perdido o seu futuro lar. Agora sei que não, posto que o "Real Class" só seria entregue em dezembro. Mas não creio que algum morador de edifício esteja se sentindo confortável hoje. E essa sensação ruim não deve diminuir enquanto não se conhecerem as causas reais da tragédia. Seja como for, mudar-se para um prédio ao lado do que caiu não deverá ser, também, no contexto, tão bom assim.
Além do mais, se a minha colega não perdeu seu futuro lar, outros tantos perderam. Lamento por eles e espero que tenham a assistência necessária para recomeçar.
Uma última palavra: como pai, não posso deixar de estremecer um pouco pensando que o prédio poderia ter desabado exatamente no instante em que passávamos, com nossa filha dentro do carro. Pensar nela em perigo maltrata, mesmo que, neste momento, ela esteja dormindo tranquilamente em sua cama.
Infelizmente, esta noite alguns pais passarão a noite sem notícias de seus filhos. E sem chance de tê-los novamente.

2 comentários:

Ana Miranda disse...

Assim que eu vi a notícia, sabia que teria um cometário coerente seu aqui no blog, estava só esperando para ler.

Yúdice Andrade disse...

Não sei se esta postagem foi "coerente", mas ao menos tentei exprimir uma sensação bem pessoal.