quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A escola (II)

Ao chegarmos em frente à unidade de educação infantil da Escola Santa Emília, a primeira coisa que me chamou a atenção foi o controle do portão ser feito, naquele momento, por uma avozinha, que nos disse trabalhar ali há 44 anos. Ou seja, quando eu nasci, ela já era funcionária há 9 anos. Um dos quesitos que se deve avaliar na escolha de uma escola para seu filho é a estabilidade dos corpos docente e funcional. Nesse quesito, pelo visto, a avozinha bateu todos os recordes.

Vale lembrar que a escola em si existe há 47 anos, portanto é tradicional e tem seu histórico e sua credibilidade sedimentados no universo educacional desta cidade. Aliás, há um aspecto curioso no modo como as pessoas se referem a ela. Quando perguntávamos a nossos amigos e informantes o que achavam das escolas de seus filhos, se satisfeitos, eles se mostravam animados ora com projetos, ora com atitudes, ora com a infraestrutura. No caso da Santa Emília, contudo, as pessoas costumavam falar com carinho. Elogiavam o que houvesse para elogiar depois, mas a primeira reação era de ternura. Naturalmente, passei a me interessar pelos motivos dessas respostas tão emocionais, mas terei a paciência de viver os próximos anos para descobrir.

A segunda coisa que me chamou a atenção quando entramos lá pela primeira vez foi observar que há livros à disposição da criança por toda parte. Elas são naturalmente convidadas a ler quando passam por esses espaços, descompromissadamente. A oferta fácil de livros era outro aspecto que tínhamos listado para observar e assim mais um ponto foi somado antes mesmo de encontrarmos a primeira professora.

Sem dúvida alguma, a Santa Emília sabe receber um casal de pais. A Profa. Luciana, uma das coordenadoras pedagógicas, parou o trabalho que fazia e gastou mais de uma hora de seu tempo conosco, passeando pela escola, explicando o que acontecia nas salas de aula e por fim respondendo ao nosso longo questionário, sem jamais mostrar pressa, cansaço, desinteresse ou aborrecimento. Mostrou-nos agendas de alunos, trabalhos feitos em sala de aula, recursos pedagógicos, explicou procedimentos, etc. A Profa. Cristina veio depois e igualmente nos dispensou toda a atenção. Gosto de destacar que toda essa boa vontade foi demonstrada sem que elas pudessem ter a menor garantia de que botaríamos nossos pés lá, novamente.

Devo admitir que chegamos à Santa Emília já tocados pelos depoimentos de tantas pessoas que adoram a escola (uma amiga nossa, também professora, e que tem dois filhos lá, é tão apaixonada que parece uma amiga da escola exclusiva; reagiu com emoção quando lhe contei que matriculáramos Júlia). Mas sem dúvida que fomos conquistados na calorosa e humana acolhida que nos foi dada. Fomos convencidos de que nossa filha seria também acolhida nos corações daquelas pessoas, até mais do que em seu trabalho.

Fizemos nossa sabatina e aquele questionamento ético que mencionei na postagem anterior foi respondido de maneira categórica: disse-me a professora que se os pais se recusassem a compreender as posturas da escola quanto à cidadania, inclusão e solidariedade, que preferia perder um ou outro aluno em nome de valores que são mais importantes para a instituição. Fiquei impressionado. Era mais do que eu esperava ouvir. "Não abrimos mão de nossos valores", ela afirmou. E com isso, quem não se enquadrar, que procure uma instituição mais adequada ao seu perfil. A essa altura, a Profa. Luciana me ganhou. Polyana já estava seduzida antes mesmo disso.

Saímos da Santa Emília com a certeza de que voltaríamos. Mantivemos nossos planos e ainda fizemos uma última visita, mas a comparação, a essa altura, já era altamente desfavorável. Só precisávamos confirmar aquilo em que já acreditávamos. Júlia foi matriculada numa sexta-feira, dia de festa de aniversário, numa situação atípica: algumas assistentes tinham uma prova para fazer na faculdade e isso deixou as professoras sobrecarregadas. Esbaforidas, quando as coordenadoras nos viram de novo lá, disseram que nossa presença lhes injetava um novo ânimo num dia complicado e agradeceram, emocionadas, estarmos lhes "entregando" nossa filha, manifestando o desejo de estar à altura dessa confiança.

Enfim, o pacto está feito. Depois de amanhã, sábado, a escola nos receberá, juntamente com os demais pais de crianças novatas, para a primeira reunião. E segunda-feira é dia de mudar as vidas de nossos pequenos.

Face ao elevado interesse que tenho pelo assunto, daqui por diante, postagens sobre a Escola Santa Emília serão frequentes. Quero compartilhar experiências com outros pais de estudantes extremamente jovens, nessa inquietante fase da vida (para nós). Vamos testar nossos planos, acertar e errar, se Deus quiser acertar mais vezes. E aprender com tudo.

5 comentários:

Ramon Bentes disse...

Caro Yudice,

E quanto ao aspecto da religiosidade?
Visitei o site e observei informações acerca de 1ª eucaristia, missa, etc.
A escola é religiosa?
Lembro de vc ter abordado este quesito nos posts anteriores.

Abçs e Feliz 2011 à Família.

Ramon Bentes

Anônimo disse...

Yúdice,
Bom dia, tem turma de bebê? Sempre ouvi falar muito bem dessa escola, e como fica praticamente no quintal de casa, é uma ótima opção para socialização do Bernardo.
Abração,
Bruno Brasil.

toniachalu disse...

Caro Yúdice, posso dizer que tenho uma prima que estudava lá no Santa Emília. Frequentei bastante as festinhas e posso confirmar o que você disse: é uma das melhores escolas de Belém, em todos esses quesitos muito bem levantados pela sua postagem.
Parabéns pela excelente escolha.
Tônia.

Yúdice Andrade disse...

Apesar do nome, Ramon, a escola é laica. Pelo que entendi, as atividades religiosas mencionadas parecem ser extracurriculares, algo que a escola oferece aos interessados, o que considero por sinal simpático. Questão de escolha pessoal. No planejamento dos trabalhos e no material didático, não observamos nada de cunho religioso.
E o bebê, como vai?

Não tem, Bruno. Aproveita para conceder ao Bernardo dois maravilhosos anos entregue à educação e ao carinho da família, apenas. Isso, claro, se a tua esposa concordar.

Tônia, algo curioso no Santa Emília é o fato de que, nesses meses de investigação, encontramos levas e levas de pessoas que tinham relações com a escola. Havia ex-alunos (como a Profa. Luciana Freitas, p. ex.), pais de ex-alunos e pais de alunos. E todos com o mesmo entusiasmo e aprovação. Isso nos impressionou.

Anônimo disse...

Yudice, desculpe. Como leio por aqui sei que te empenhas muito na educação de tua filha e de teus alunos e portanto sei termo vovozinha parece carinhoso, entretanto acho que as crianças deveriam ser ensinadas a chamar as pessoas pelo nome. Isto é so para não ficar naquela de tia... vovo...