sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pobre Dalcídio

Ora, admita que você não sabe, assim só de olhar, que o rapaz da imagem ao lado é Dalcídio Jurandir Ramos Pereira. Aliás, a maioria das pessoas, por certo, lerá estas linhas e se perguntará "Mas quem foi Dalcídio Jurandir no jogo do bicho?!" (ou não, afinal este blog, graças a Deus, consegue manter leitores de bom nível!).
Pois é, Dalcídio Jurandir foi um escritor paraense, que era de Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, lá onde se faz sucesso de carimbó. Viveu entre 1909 e 1979, estudou em Belém, trabalhou no Rio de Janeiro, foi repórter, militante comunista com direito a prisões, mas ficou conhecido mesmo pelos onze livros que escreveu, alguns publicados em outros países, dos quais o mais conhecido, provavelmente, é "Chove nos campos de cachoeira" (1941).
Em 1972, recebeu da Academia Brasileira de Letras o "Prêmio Machado de Assis", pelo conjunto de sua obra. Desde 2008, seu nome designa um prêmio literário instituído pelo governo do Estado do Pará. Nem assim, decerto, tornou-se conhecido do paraense médio, falta que poderia ser minimizada com o seu nome aposto a um importante logradouro público. E foi assim que, em 2010, ao inaugurar parte do Programa "Ação Metrópole", o governo do Estado batizou de "Dalcídio Jurandir" o prolongamento da Av. Independência, no trecho que une as avenidas Augusto Montenegro e Júlio César. Bonita homenagem, certo? Pena que não durou.

A cultura e a memória paraenses valem
menos que o lobby dos privilegiados.
Desde a última terça-feira, quando o "prefeito" de Belém — aquele desinfeliz que nunca fez nada que prestasse em toda a sua vida — sancionou a Lei municipal n. 8.808, a bonita avenida deixou de ser "Dalcídio Jurandir" e se tornou "Avenida Centenário da Assembleia de Deus". Afinal, a Lei Orgânica do Município de Belém determina que a toponomástica de nossos logradouros é competência do parlamento local. Legal, né?
Mais uma vez os interesses da coletividade foram menosprezados em favor do lobby de uns poucos, em busca de autoglorificação.
Aliás, os evangélicos parecem obcecados por aquele trecho da cidade. O elevado do "Complexo Viário Júlio Cézar Ribeiro de Souza" já se chama "Daniel Berg" e a passagem de nível da avenida recém rebatizada, "Gunnar Vingren". Estes senhores foram os pioneiros, no Pará, da Assembleia de Deus, maior comunidade evangélica do Brasil.
Os evangélicos, de um modo geral, têm como parte de suas metas manter sempre uma bancada privativa em todo e qualquer parlamento, como se houvesse algum interesse público em legislar em favor de segmentos religiosos.
A mudança foi aprovada por unanimidade no Curral na Câmara Municipal de Belém e, para completar a bajulação, o outro lado da Av. Independência, que agora não existe mais, passou a se chamar "Jornalista Laércio Barbalho". Sabe como é, os Barbalho comandam Ananindeua e já que os Maiorana emplacaram uma homenagem para seu patriarca (leia aí embaixo, nos maus antecedentes), a turma do Jader não podia ficar por baixo. Nem o prefeito, claro, que amacia o cremaster de ambos os lados, para ser poupado nos jornalões.
Para manter a coerência com a marra anterior, vou morrer chamando a avenida de "Dalcídio Jurandir". E viva a cultura paraense!

Maus antecedentes: http://yudicerandol.blogspot.com/2010/11/bajulacao.html

3 comentários:

Lilica disse...

CERTÍSSIMO, Yúdice, vamos todos morrer chamando a avenida de Dalcídio Jurandir. Nada contra os evangélicos, mas se querem enaltecer seus pares, vem aí a festa do centenário da Assembleia de Deus, e não tem momento melhor (pra eles) do que fazer as homenagens que querem pros seus.

Yúdice Andrade disse...

Pelo menos não ficarei sozinho nesse protesto, Lilica!

Anônimo disse...

Maria Luiza!

Eu também continuarei a chamar de Dalcídio Jurandir e a avenida onde eu jogava voley na adolescência de 25 de setembro ou simplesmente 25.

MALU