quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mundo perigoso

Osama bin Laden morreu. Isto é um fato. Mas se quisermos entender o que realmente aconteceu, não podemos dizer simplesmente que ele "morreu". O correto seria dizer "Osama bin Laden foi assassinado". Executado sumariamente seria ainda mais específico.
Para o sujeito que existe no mundo sem a preocupação de marcar presença, foi bem feito e só. Tudo é uma questão de as vítimas justiçarem o terrorista malvado, a velha luta do bem contra o mal. Às vezes eu até queria que o mundo fosse tão simples assim, mas não é. O fato é que os Estados Unidos invadiram um outro país e executaram sumariamente um indivíduo estrangeiro. A operação foi concebida com o objetivo de extermínio, não de captura. Pensar que um país — ainda mais o país com uma das piores folhas de antecedentes do mundo — possa se arvorar um direito desses me apavora. É nisso que as pessoas deveriam pensar.

Manifestantes demonstram a técnica conhecida como
"waterboarding" durante protesto na Islândia, em
maio de 2008. Para muitos, a técnica não configura
tortura. A CIA a classifica como "interrogatório
forçado". Ah, tá.
 A situação, já terrível por si mesma, conseguiu ficar pior: os Estados Unidos usaram tortura para encontrar o paradeiro do inimigo estadunidense nº 1. Práticas proscritas pela consciência humana — mas usadas em várias ocasiões na guerra ao terror, o que inclusive ensejou o escândalo da prisão de Guantânamo — continuam uma realidade. Os fins justificam os meios.
Sacramentou-se o direito de uma nação de torturar e matar. Fica pior do que isso? Fica: os autores do absurdo se orgulham do que fizeram. Mas, por incrível que possa parecer, a coisa fica pior ainda.
Por todo lado, não falta quem apoie o que aconteceu, como aconteceu.
Aqueles que, como eu, inquietam-se com os rumos da política internacional, estremecem: o conflito é de proporções globais. Não há para onde fugir.

6 comentários:

Daniel Scortegagna disse...

Israel fez isso, porém é bem pouco lembrado... O MOSSAD - serviço secreto israelita - caçou e matou mais de 20 "criminosos de guerra" da Alemanha nazi-fascista. Sem julgamento, sem, sequer serem famosos, como Osama.
A maioria das pessoas diria que "bem feito" pros nazistas, assim como disse pra Osama, porém outras pessoas (ditas mais "cultas") condenariam os EUA (coisa que está bem na moda) e diriam que Israel foi "legítimo", afinal, Israel, não tinha uma ficha corrida (ainda) e é lugar comum condenar nazistas... Bizarro isso!!! Longe de justificar o nazismo, mas me perturba o bom mocismo, o politicamente correto e a concordância com qualquer opinião "da mídia culta" sem um análise menos superficial!!! É isso. Abraços e continue com o blog que é uma das leituras obrigatórias para encontrar posts inteligentes.

Anônimo disse...

Matem os outros mas não os nossos. Osama já estava morto há tempos. Alguém com insuficiência renal crônica, vivendo em cavernas por anos? Um canhoto que faz tudo com a mão direita em todos os vídeos após 11 de setembro? Uma morte sem corpo, sem confirmações concretas e com argumentos conflitantes?
Não sei não.
Agora entre julgar em tribunal de exceção, como o Saddam, e executar, não vejo diferença alguma. Estamos cada vez mais próximos das semelhanças aos antigos, como fins justificando meios. Falta sairmos às ruas e guilhotinar os subversivos, começando pelos juízes das cúpulas e os governantes de todas as nações! Tomemos as ruas!

Yúdice Andrade disse...

Não consigo encarar como "bom mocismo" a postura que você descreve, Daniel, mas entendo o seu comentário. As pessoas, de fato, tendem a se justificar utilizando argumentos absurdos como esse, mencionado.
Para mim, qualquer tentativa de justificar a barbárie - qualquer barbárie - é fator de grande aflição.
Muito agradecido pela generosa acolhida ao blog.

Das 14h05, tomei conhecimento dessas suspeitas de que Osama já estaria morto há tempos, mas não me convenço. Obama já anda com a popularidade no chão faz tempo. Qual o sentido de divulgar a suposta morte agora, se não tivesse ocorrido agora? Fosse para resgatar a imagem do presidente, já poderia ter acontecido. Fosse para catapultar a campanha à re-eleição, deixariam para mais perto da votação, suponho.
Enfim, não sei. O que temo, mesmo, é que essa postura justiceira se generalize. Sujeitos comuns como eu e os meus familiares não teriam a menor chance num mundo assim.

Daniel Giachin disse...

Acompanho seu blog faz tempo, aqui leio boas opiniões.

Em sentido contrário dessa sua postagem, veja o comentário de Augusto Nunes sobre esse episódio:
"http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/o-farisaismo-dos-enlutados-por-bin-laden-compoe-o-samba-do-terrorista-doido"

Agora eu pergunto, porque um jornalista com uma opinião insana como essa é famoso e escreve pra uma grande revista (grande mas não boa) e nós, com opiniões no mínimo mais arrazoadas e imparciais não... hehehe

Um abraço!

Anônimo disse...

Meu caro, Yudice, gostei da postagem.Faço minhas, suas palavras.Essa guerra ao terror, iniciada por Bush, e continuada por Barak Husseim Obama, trata-se de um pretexto para mais uma politica colonialista.Somente isso. Desde o império romano que se usam pretextos para guerras e invasões.AbraçãP.Marcio Farias.

Yúdice Andrade disse...

Muitíssimo obrigado, Daniel Giachin. Não conheço o jornalista citado, mas repare como o título da matéria já diz muito sobre o seu conteúdo. Mesmo sem querer o clichê de falar mal da Veja, que eu realmente não leio, o fato é que se trata mesmo de uma publicação superficial, debochada e cheia de intenções não declaradas e preconceitos, notadamente os de classe.
Quanto a sua pergunta, não quero nem pensar. Não me conformo com jogadores de futebol ganhando milhões e com gente burra ganhando a vida por chacoalhar a bunda em cima do palco e, ainda assim, se dando bem.
Triste. Só não ficarei depressivo porque seu comentário foi muito gentil com o blog! Abraço.

Esperemos para saber quais serão os próximos alvos, Márcio. É interessante notar, por outro lado, como os próprios americanos sabem das implicações sociais de seus atos. Após divulgarem a imagem das altas autoridades assistindo a invasão da mansão de Bin Laden, com Obama presente, agora estão dizendo que o presidente não assistiu. Conveniente, não?