quarta-feira, 25 de maio de 2011

Merecem admiração

Conviver com uma doença crônica não é uma experiência simples e, decerto, todos passaríamos ao largo dela, se pudéssemos escolher. Quem foi selecionado precisa encontrar caminhos para lidar com suas dificuldades e seguir a vida adiante, da melhor maneira possível.
Suscetíveis que somos às pessoas públicas — hoje designadas pela epíteto "celebridade", que me soa algo pejorativo —, ficamos ainda mais impressionados quando uma delas declara publicamente os seus problemas. Eles acabam se tornando, querendo ou não, exemplos de superação, embora o mais das vezes estejam apenas fazendo o que qualquer um faria: tentando sobreviver com dignidade. Contudo, conscientes de que muitos se espelham neles, procuram manter uma atitude positiva que acaba por servir de exemplo de superação.

É o caso, p. ex., da atriz e comediante carioca Cláudia Rodrigues, que no próximo dia 7 de junho completará 40 anos. Diagnosticada em 2000 com esclerose múltipla após uma ressonância magnética, chorou o que pode. Tentou manter suas atividades, mas acabou forçada a se afastar do trabalho por mais de um ano para se tratar. Cláudia diz que se apoiou na filha Iza, de 9 anos, e nos amigos. Sua recomendação é manter uma atitude positiva diante da vida. E, claro, tomar a medicação, especificamente o remédio Natalizumabe, ao qual tributa sua recuperação. Ela afirma que sua memória melhorou bastante.
A esclerose múltipla, muito em síntese, é uma doença progressiva do sistema nervoso central provocada pela perda de mielina, feixe de camadas lipoproteicas que envolvem as fibras nervosas (axônios), comprometendo assim a transmissão dos impulsos elétricos. As consequências são distúrbios visuais e da fala, dificuldades de locomoção, do equilíbrio e da força, dormência e às vezes dor. De causas pouco esclarecidas, tem evolução imprevisível e em casos mais graves pode ser fatal.
Site da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla: http://www.abem.org.br/

Outro que merece menção é um dos maiores atores brasileiros, o gaúcho Paulo José (74), que foi um ativista da causa de regulamentação da profissão de ator, o que ocorreu em 1978. Ele sofre do mal de Parkinson, diagnosticado há 16 anos. Seguindo à risca uma rotina de medicamentos e de atividade física — e tendo se submetido a uma cirurgia experimental para colocar um eletrodo em seu crânio, para conter os movimentos involuntários —, ele aposta no bom humor e na ironia para tocar em frente.
O mal de Parkinson é uma doença idiopática (sem causa definida) degenerativa do sistema nervoso central, que incide principalmente em maiores de 60 anos. Neurônios secretores de dopamina degeneram-se ou morrem, prejudicando a transmissão de comandos conscientes oriundos do córtex cerebral para os músculos. Em consequência, o paciente sofre tremores e movimentos involuntários, comprometendo a sua movimentação geral (a lentidão dos movimentos é o maior empecilho prático à qualidade de vida do doente). A doença pode evoluir para rigidez muscular, provocando inexpressividade facial e deterioração da fala, além de outros sintomas. Não afeta, entretanto, a capacidade intelectual do paciente.
Site da Associação Brasil Parkinson: http://www.parkinson.org.br/explorer/index.html

Uma terceira experiência marcante é a da atriz carioca Isabel Fillardis (37) mas, neste caso, não na condição de paciente, e sim de mãe de uma criança com síndrome de West. Isabel já era ativista da causa ambiental, tendo fundado em 2003 a ONG Doe Seu Lixo. Mas com a doença do pequeno Jamal Anuar, hoje com 7 anos, a partir de 2006 engajou-se na causa dos acometidos pela mesma doença que seu filho e, a partir daí, por meio da campanha "A Força do Bem", auxilia pessoas com necessidades especiais de todo tipo.
A síndrome de West é uma forma grave de epilepsia que acomete crianças, de causas diversas, normalmente associadas a disfunções cerebrais ocorridas antes, durante ou após o parto. Estima-se que ocorra em um a cada 4000 ou 6000 nascimentos, sendo que o número de atingidos do sexo masculino é o dobro do feminino. Caracteriza-se pelo atraso do desenvolvimento motor e espasmos intensos. Evolui com déficit intelectual, complicações respiratórias e deformidades, principalmente nos membros inferiores e superiores.

Estas são pessoas cujas experiências deveriam ser conhecidas e valorizadas.

Referências:
Cláudia Rodrigues: http://celebridades.uol.com.br/ultnot/2011/05/25/sigo-em-frente-pronta-para-trabalhar-viver-e-ser-feliz-diz-claudia-rodrigues-sobre-luta-contra-a-esclerose-multipla.jhtm; http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI226490-15228,00.html

Paulo José: http://contigo.abril.com.br/noticias/entrevistas/paulo-jose-mal-parkinson-bom-humor-550365; http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYP0-5271-234316,00.html

Isabel Fillardis: http://www.deficienteciente.com.br/2010/07/exemplo-de-superacao-isabel-fillardis.html

3 comentários:

Ana Miranda disse...

Yúdice, eu acho muito importante esses depoimentos cheios de otimismo, de que se é possível viver dignamente com doenças.
As pessoas, quando descobrem determinadas doenças, associam-nas à morte e fica complicado viver bem depois disso...

Maria Cristina Maneschy disse...

Yúdice, essa postagem que compartilha com seus leitores é muito importante. Abraço.

Yúdice Andrade disse...

Ana e Maria Cristina, às vezes mesmo um pessimista como eu precisa se espelhar em gente que acredita numa vida melhor!