Digamos que você conhecesse um rapaz de vinte e poucos anos, com o qual mantém laços de amizade oriundos de algum tipo de convivência (sala de aula, trabalho, clube, vizinhança, etc.). Não são unha e carne, mas sempre se deram bem, visitaram a casa um do outro mais de uma vez, p. ex. em comemorações de aniversário, as famílias se conhecem, etc. O rapaz em apreço é de classe média, mora com pai e mãe, tem irmãos, estudou em boas escolas, estuda numa universidade particular, praticou natação-inglês-artes marciais, conhece os Estados Unidos, etc. É do tipo que se considera um bom rapaz, sem nada que lhe desabone a conduta.
Digamos que um dia você tome conhecimento de que esse rapaz estuprou uma jovem mais ou menos da mesma idade. Ele deu em cima, ela não quis e ele forçou, talvez influenciado pelo álcool que consumira antes, num momento de lazer. E digamos ainda que esse indivíduo, em off, falando apenas a pessoas próximas (que lhe fizeram a inconfidência), admita que realmente estuprara a garota, mas que não via nisso motivo para tanto estardalhaço. Ele é denunciado, mas responde à ação penal em liberdade, assistido por um advogado criminalista renomado.
Minha pergunta: como você se relacionaria com esse rapaz a partir daí?
PS — Antes que comecem as especulações, este não é um caso verídico. Trata-se apenas de um exercício, que me foi inspirado por uma conversa que tive há algum tempo, sobre o comportamento das pessoas. Naquela oportunidade, como agora, tudo o que se disse estava apenas no plano das hipóteses.
8 comentários:
O "não vejo motivo para tanto estardalhaço" seria decisivo. No meu círculo de amizades, um sujeito não pode cometer um erro desse tamanho e sequer captar a sua dimensão. Eu me afastaria do cara, com certeza.
Dizem - veja bem, eu disse "dizem", com sujeito indefinido - que um fato semelhante ocorreu anos atrás, em Belém. O estuprador, pessoa pública antes assíduo frequentadora de blogs, sumiu de cena. Aliás, escondeu-se no anonimato de onde, dizem (o mesmo sujeito de antes), nunca deveria ter saído.
Eu não me relacionaria. Passei por situação pior, com uma pessoa acusada de pedofilia. Não senti vontade de ser a "palmatória do mundo" e destratá-lo, mas preferia, sinceramente, não ter que estar no mesmo ambiente que ele, que, na verdade, merecia estar preso, mas é muito rico pra isso (e dizer isso dói no peito).
Então, meu relacionamento, na situação que você apresentou, seria o mínimo necessário, nos limites da educação, ATÉ O MOMENTO em que ele dissesse, NA MINHA FRENTE, não ver motivo para "estardalhaço". É necessário alguns dias para digerir certas coisas sem avançar no pescoço de alguém.
Meus caros, aguardarei outras manifestações antes de tecer qualquer comentário a respeito da postagem ou das respostas. Grato.
Ess postagem me fez lembrar um texto de outro blog: http://gerivaldoneiva.blogspot.com/2011/04/viciado-e-o-distante-uma-historia.html
Em determinado viés, tem bastante sentido ver o "alienígena" como culpado. Mas que diferença ele tem dos "nossos" iguais?
Leonardo C.
Já não é hora de manifestar-se?
Estou começando a achar essa demora desrespeitosa com a minha curiosidade! :)
Como ninguém mais deve se manifestar, esclareço que eu também me afastaria do indivíduo. E o processo provavelmente seria muito natural, mesmo que não se tratasse de uma deliberação expressa.
Certa vez, passei ao lado de um sujeito que respondia em liberdade a uma acusação de estupro e me senti muito mal. Eu o via agindo solicitamente com as pessoas e pensava nas possíveis cenas do ataque que lhe era imputado (eu lera os autos). É uma coisa meio espiritual, um mal estar que surge espontaneamente e que não me permite conviver com uma pessoa assim.
Se eu racionalizasse, o afastamento seria ainda mais certo, porque decorrente de uma decisão moral minha. No final, parece que estamos de acordo em relação a isto, também.
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