Olha, eu sei que falar de Roberto Carlos pode me custar algumas inimizades e até mesmo pragas — além de sempre haver o risco de ele me processar, para tirar o blog do ar —, mas há muito tempo que venho remoendo alguns dos piores versos da história da música brasileira. E aí, inevitavelmente, o autor de algumas das mais famosas e felizes de nossas composições entrará, necessariamente, para o rol das baboseiras.
Devo dizer, antes de mais nada, que após uma infância detestando o cara (provavelmente, porque todo mundo gostava e eu sempre fui avesso às coisas massificadas; "marrento" seria uma boa definição, admito), aprendi a gostar dele. Até comprei o MTV Acústico, aquele da capa azulzinha (isto é uma piada, claro), que de vez em quando escuto, inclusive aquele tema para Maria Rita (um dos milhares), que é uma das faixas mais difíceis de aturar:
Faço qualquer coisa nessa vida
Pra ficar um pouco do seu lado
Todo mundo diz que não existe
Ninguém mais apaixonado
Brega, mas bonitinho. Contudo, se tem algo saído da pena de Samberto que me impactou desde a primeira vez que escutei, deixou-me perplexo e irado, foi quando ele — numa dessas homenagens às mulheres isso e aquilo, para as gordinhas (o diminutivo já enuncia o preconceito) — soltou esta pérola (a canção se chama "Coisa bonita"):
Pode até me beijar
Pode me lamber
Que eu sou dietético
"Eu sou dietético"! Meu Deus! Será que ele conseguiu pensar nessa sozinho? Talvez sim, porque o Rei já tinha essa obsessão por dietas há décadas:
Eu como e bebo do melhor
E não tenho hora certa
De manhã, de tarde, à noite
Não faço dieta
Mas, como se vê, se no passado a ordem era comer (se bem que quem comia era ele), com o tempo o compositor se adaptou ao mercado e passou a ser propagandista desses produtos light, diet e afins, de duvidosas eficiência e adequação à saúde.
Procurando, podemos encontrar vários momentos de, digamos, pouca inspiração. Rimas de pé quebrado, alegorias toscas, trocadilhos infames. Fique à vontade para apontar outros.
Qualquer dia escrevo sobre outro compositor.
3 comentários:
Odeio Roberto Carlos. Simples assim.
Tinha tanta gente para receber o título de "Rei" na música brasileira. Têm certas coisas qu'eu não compreendo...
Sensacional.
Ao ler o jornal e me deparar com uma propaganda do 'show' (entenda como apresentação) do Roberto Carlos, fiquei imaginando o porquê de seu título de realeza?
Ainda faço menção ao COISA bonita. Se fosse um funkeiro que tivesse escrito tamanha baboseira provavelmente um bando de moralista hipócrita estaria chiando.
Abraços Primo
Pois eu penso, Gabriel, que já passou da hora de acabar com essa idiotice de rei disso, rei daquilo. É tão provinciana e tola essa adoração pela monarquia, de tão triste memória entre nós! Mas o gosto ficou. Coisa de pobre. De espírito.
Tua conclusão sobre os críticos moralistas é irretocável, Jean.
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