quinta-feira, 23 de abril de 2009

Pátria mãe da safadeza

Não adianta. Não há nada, absolutamente nada de bom e útil que, neste país, não possa ser conspurcado e passar a servir a gente desgraçada, sem caráter e merecedora do mais veemente repúdio.
Que tal cursar uma faculdade com bolsa do ProUni e ir para a aula dirigindo o próprio carro de luxo?
O que para muita gente é a única opção de acesso ao ensino superior, para 31 mil espertinhos é... Não direi o que é, para amanhã eu não receber um mandado judicial com ordem de retirar a postagem do ar. Mas você já entendeu.

4 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

E o que dizer, meu caro, das vagas das universidades públicas serem quase que exclusivamente preenchidas por quem teve condições de ter estudado em escolas particulares, enquanto que os que estudaram em escolas públicas, os pobres, o que lhes sobra são as instituições privadas a preço de ouro?
Esse país é um arremedo de democracia, Yúdice, sob o falso argumento do mérito. Tomara o governo consiga mudar isso.
Por enquanto, creio que esse caso aí é menos imoral do que a atuação do poder público na educação. A cultura deste país é: burro é quem não tem carro de luxo e vai de ônibus para a escola particular.

Yúdice Andrade disse...

O Brasil é um país de grandes paradoxos, daqueles que excedem às possibilidades de compreensão de um paradoxo. Daí que é causa de grande perplexidade que as universidades públicas sejam usufruídas por alunos de escolas particulares e as privadas sejam a alternativas para os mais pobres, que frequentaram escolas consideradas piores. Recordo-me que, em uma aula do curso de Direito, na minha turma da UFPA, certo dia alguém questionou sobre isso. Todo mundo ali tinha estudado em instituições privadas, nem que fosse apenas no último ano antes do vestibular. Isso era uma necessidade, considerando que a elevada concorrência no vestibular para o nosso curso determina a aprovação apenas daqueles com pontuação mais elevada.
É, definitivamente, uma loucura.
Quanto à maior imoralidade ser o governo, isso é a mais absoluta verdade.
Folgo em te ver retornando à Internet.

Anônimo disse...

Prezado Yúdice,

eu creio verdadeiramente que esse tema possa ser relacionado com um outro não menos significativo e que se refere também à educação: A questão das cotas para estudantes de escolas públicas.

O Brasil continuará a ser um país ruim de se viver, enquanto nós mantivermos o hábito de empurrar os problemas "com a barriga" ou achar que os resolvemos quando conseguimos convercer a outros que eles foram resolvidos.

De que adianta burlar o prouni,tornar-se profissional bem sucedido no Brasil, se isso pode significar eterna tensão e riscos para você e para a sua família. Do que adianta comprar o carros dos seus sonhos, o o apartamento, o sítio ou qualquer outra coisa, se tudo isso vai ser constantemente ameaçado pela nossa falta de sensibilidade ou coragem social? Nenhum país pode obter qualidade de vida com os desníveis sociais que nós temos e isso, que deveria ser evidente não apenas para os que mais sofrem, mas também para aqueles que sofrem com isso indiretamente, não é minimamante percebido por grande parte da classe média e continuamos com esse corrida alucinada para "garantir o meu" de qualquer jeito, mesmo que no final das contas o butim não seja tão grandioso assim (de minha parte, mil vezes poder andar sem medo nas ruas que ter de dirigir carros blindados ou de morar entre grades e cercas elétricas).

Mas agora o governo, já em campanha eleitoral, resolve criar a cota para estudantes das escolas públicas. Para ser sucinto: Você, pelo que já lí aqui, é professor universitário, em caso de considerar condições futuras de ascenção social de seus estudantes (uma necessidade deste país), quem você acha que terá mais chances, o aluno com melhor formação, com fluência em outros idiomas e abrangência de idéias, ou aqueles que infelizmete tiveram escola apenas segundo formalidades e a propaganda oficial?
Novamente, me parece, a solução é a mesma: convençamos a opinião pública que estamos fazando alguma coisa pela educação e assim poderemos considerar o problema como resolvido. Para ser mais burlesco falta apenas um "kit" para os alunos.

Com os melhores votos

Roberto Barros.

Yúdice Andrade disse...

Roberto, palavras tão sábias mereciam uma atenção mais rápida, porém ainda estou lendo para responder os comentários que me deixam aqui. Peço desculpas por isso e agradeço por contribuição tão lúcida, que subscrevo.