segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cascata sem vergonha

Somente ontem o sujeito decidiu por na ponta do lápis (ou nas teclas da calculadora) o tamanho da desfaçatez.
Estando em um dos restaurantes da Estação das Docas, ao receber sua conta, decidiu que não pagaria o couvert artístico que, afinal de contas, não pode ser exigido do cliente. Ocorre que o item é acrescentado à conta como se fosse parte do consumo, ou seja, além de cobrar por algo que não foi solicitado pelo cliente, ainda faz incidir os 10% da taxa de serviço (que também são opcionais). Em suma, a cobrança não é apenas indevida: é também feita em duplicidade.
O rapaz então decidiu que não pagaria os 74 reais que lhe foram cobrados e, mesmo pagando a taxa de serviço, ainda economizou mais de 10% do valor da conta original. Agora pense: se reunirmos os percentuais pagos indevidamente por todo mundo que não se importou com a conta (a grande maioria), quanto o estabelecimento ganha sem causa? Digo "sem causa" porque arrecada taxa de serviço sobre a cantoria do artista que não é seu funcionário.
O indignado consumidor sabia dessa situação, mas nunca se importara com ela. Comentamos sobre o fato de promotores de justiça, p. ex., frequentarem estabelecimentos que agem da mesma forma, porém nunca tomei conhecimento de qualquer ação para coibir o abuso. No mínimo, estranho.
Vale lembrar que a cantoria é uma oferta da casa e, como todo item não solicitado expressamente pelo consumidor, constitui amostra grátis. É o estabelecimento que deve suportar o cachê do artista, não o cliente. Mas sem o oportunista couvert, é claro que o custo seria repassado aos preços. Isso seria um problema. E se diminuísse a oferta de músicos, diminuiriam as oportunidades de trabalho para estes, o que seria um outro problema.
Acabo ficando com a sensação de que, no final das contas, todos estamos na corda bamba. Contudo, o menos prejudicado é o restaurante.

5 comentários:

Kayo César disse...

Professor Yúdice,
Depois daquela palestra proferida naquela quarta feira, volto a ter um novo contato por aqui pelo seu blog. E uma coisa me chamou atenção naquela data, até mesmo os que defendem temas tão voluptuosos, como a descriminalização dos movimentos sociais, carregam consigo um pouco de preconceito, me chamou a atenção naquela situação foi o tal do “preconceito” rodeando uma pessoa que necessita da quebra de qualquer tipo de influencia do mundo exterior para analisar os crimes, como o já aprendemos sobre o conceito analítico de crime. É muito estranha ou aceitável, a forma como você abordou seus fantasmas, isso me fez repensar muita coisa e assumir muita coisa também, fiquei feliz naquela ocasião, parabéns.
Mas o que me faz voltar aqui, é o tema desse post. Esta situação é algo muito fácil de verificar nesta cidade, que clama pra ser provinciana (e ainda queria sediar uma copa, sinceramente não a merecia), indo a vários lugares perceberíamos essa prática, sendo usados discriminadamente, desde os botecos da vida até ao máximo do glamour que essa cidade nos fornece. Agora o que me deixa intrigado é o fato de saber por aqui que o couvert artístico, assim como o tal dos 10%, também é opcional.
Recentemente indo ao manjar das garças, passei por essa situação, cobraram o couvert artístico “em cima dos 10%”, perguntei se eles (os garçons) teriam tocado ou feito alguma obra artística, por que aparentemente, não tinha os visto a praticar, sem entender ao certo o que eu estava perguntando, responderam negativamente, aleguei que não ia pagar o opcional como forma de protesto ao modo de que estavam cobrando.
3, ou 4 reais não iria fazer diferença pra alguns ou pra uma pequena minoria, minoria que vive com um salário gordo no bolso, mas pra uma “imensa maioria”, aquela que vive com um salário mínimo(não sei como), isso iria modificar toda uma escala econômica existente dentro desta unidade familiar.
Seguidores do Yúdie e bloggeiros, vamos todos estar atentos a esta nova, ou velha modalidade do capitalismo, isso faz a diferença no final das contas.
Abs.

Yúdice Andrade disse...

Agradeço a avaliação positiva, Kayo. Só faço uma ressalva de ordem técnica: quanto dizes "descriminalização" dos movimentos sociais, partes do pressuposto de que há crime na conduta deles. Tudo bem, pode ser o teu ponto de vista. Não se trata exatamente de certo ou errado, mas de fixar o aspecto valorativo de cada um. Por isso costumamos nos referir à "criminalização" dos movimentos sociais.
Quanto ao mérito da postagem, como ando implicante com Deus e o mundo ultimamente, acho que vou comprar essa briga. Aceito pagar a taxa de serviço, porque a reconheço como uma importante complementação de renda para o trabalhador. E desde que ele me tenha atendido bem, é claro. Mas cobrança indevida já não dá!

Anônimo disse...

interessante você falar isso yúdice.admito que me falta vontade de saber mais sobre esse assunto,mas só digo que toda vez que vamos almoçar na estação,isso rende problemas pois meu pai se recusa a pagar o cantor pelos motivos que você alega e nem sempre quer pagar o garçon.da última vez que estivemos lá,o garçon que nos atendia fez uma cara bastante feia e mudou os modos ápós prceber que não ia levar a gorjeta dos 10%.aí,eu fico na dúvida:tá!tudo bem que o salário do garçom não deve ser o mesmo de um parlamentar e se formos muito bem atendidos,acho legal dar um extra<porém,todos nmão sabemos que isso é OPCIONAL?porque fazer careta ou uma estupidez velada quando a pessoa não quer pagar?só porque a maioria aparentemente é cheia da grana?não dá pra saber a reação do cantor pois ele não estava lá quando meu pai se recusou a pagá-lo.situação idêntica acontece com os flanelinhas,não é opcional dar os 50 centavos?(me recuso a dar 1 real)porque a grossura quando a pessoa não tem dinheiro ou pros mais sovinas,quando não quer dar nada mesmo?ou porque tanta gente se sente obrigada a pagar pra tirar carteira de motorista? pra onde vai o princípio da legalidade nessas horas?

Yúdice Andrade disse...

Das 11h47, concordando com a sua ponderação, até entendo a contrariedade do garçom, que deseja uma graninha maior, já que trabalha tanto e ganha mal. Contudo, ficar de banda com o cliente diante de uma obrigação inexistente é não apenas falta de educação, mas de maturidade.
Fosse eu o garçom, ficaria triste se a taxa de serviço fosse recusada, mas me preocuparia em atender cada vez melhor, para que as pessoas se sentissem naturalmente motivadas a me recompensar pelo atendimento.
Acho que é assim que conquistamos respeito e até mesmo um dinheirinho a mais.

Kayo César disse...

É de fato que, por uma razão técnica, não consegui fazer ser entendido, e também pelo tempo que se passou desde aquela palestra, concordo que falhei no termo.
Sempre costumo dizer que pra se fazer um curso de direito, devemos romper com a figura do preconceito, isto já é de uma grande ajuda pra entendermos muitas coisas nos rodeia e, sem duvida, aquela palestra sobre a "Criminalização dos Movimentos Sociais" me foi de bastante utilidade, iluminando-me de uma forma que, agradeço aos palestrantes, não penso mais como antes (pro bem de um estado democrático de direito, que estamos inseridos)...
Hoje, defendo um ponto de vista semelhante aos dos que puderam expor seus pontos de vista naquela noite e percebo que as coisas não são como TODO O MUNDO (os "todo mundo" são os preconceituosos de plantão) fala, e viva aos trunfos políticos.
Neste aspecto, discordo da frase que se inicia na sua biografia “Tenha bom senso: em Roma, vestimo-nos como os romanos. Ou nos mudamos para a Grécia”; Em Roma, vestimo-nos como os romanos sim porem, uma boa influencia grega, se fez fundamental para a construção de muitos dos seus ideais, mas em síntese é isto!
Obrigado!