sexta-feira, 8 de abril de 2011

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Nos dias de minha infância, as crianças tinham medo do bicho papão, de fantasmas, dos ciganos que roubavam crianças. Mas brincavam nas ruas, despreocupadamente, inclusive à noite. As crianças de hoje têm medo que os pais se separem e da violência. Nos desenhos, os monstrinhos foram substituídos por ladrões, revólveres e vítimas ensanguentadas. Não se pode negar essa realidade. O desafio está, justamente, em ser verdadeiro com a criança sem lhe roubar o direito à inocência e à paz que merece, nessa curtíssima quadra da vida.
Psicólogos e psiquiatras hoje concordam que, diante dos infortúnios, o enfrentamento é melhor do que a negação. Jogar as dores para baixo do tapete induz a que elas continuem maltratando e, um dia, explodam em angústias mais difíceis de tratar. Em vez disso, deve-se encarar o problema, viver o luto, exteriorizá-lo, falar sobre ele. É a melhor forma de superar o trauma.
Esses profissionais e educadores estão recomendando que as escolas estimulem seus alunos a conversar sobre a tragédia de Realengo. Naturalmente, hoje muitas crianças e adolescentes devem se sentir inseguros em suas salas de aula, por isso é melhor deixar que expressem seus medos. Na proposta, achei muito positivo escrever cartas para as famílias enlutadas. Mesmo que tais cartas nunca sejam enviadas, ao menos se exercitou a solidariedade nos jovens.
Hoje ainda será um dia anormal, devido aos enterros. Mas o desafio, depois disso, é tocar a vida adiante.

2 comentários:

Luiza Montenegro Duarte disse...

Eu ainda não pretendo ter meus filhos, mas isso não impede que eu já tenha meus temores (apesar de eu achar que isso é loucura!). Uma das minhas grandes preocupações é que meus filhos sofram abuso sexual, pelo efeito devastador que isso tem na autoestima e na segura de uma pessoa, por toda a vida.
Fico pensando como deixar BEM claro para eles - sem roubar-lhes a inocência, como você disse - que eu acreditarei em qualquer coisa que eles me disserem!
Os monstros que abusam das crianças as fazem acreditar que ninguém as levará a sério ou que eles matarão seus pais, por exemplo. Não sei como, mas eu preciso fazer com que eles entendam que isso é mentira!

Yúdice Andrade disse...

Creio que esse é o pavor de todo pai e mãe atualmente, Luiza. A coisa ficou tão absurda que não temos sossego. Claro que abusos sempre houve, mas a coisa piorou. Hoje, até crianças molestam sexualmente crianças menores, além da sensação generalizada de insegurança. Além disso, a garotada vai para o mundo tão cedo e tão imatura!
Peço a Deus todos os dias que me ilumine, porque a tarefa é dura demais. Mas é reconfortante demais. Como professor, lido com centenas de jovens e vejo que a esmagadora maioria deles consegue crescer, ser feliz. Isso me dá um alento grande. Nessas horas soturnas, penso nos meus pupilos e desejo que a Júlia possa ter uma vida pelo menos assim, sem violências e com oportunidades.
O resto do caminho ela trilhará por conta própria.