Na madrugada de ontem, morreu em um hospital de Santa Rita do Sapucaí (MG) um menino de 7 anos, internado após sofrer um acidente aparentemente banal na escola, no qual bateu a cabeça contra um colega e depois uma parede. Segundo a reportagem, a escola atendeu o menino, mas confiou que ele estava bem, porque não chorou. Disse a diretora que passou a mão em sua cabeça e não havia um galo, por isso ela se despreocupou.
Eis o erro. Com lesão traumática no crânio não se brinca. É uma questão física de certa forma elementar: a energia produzida pelo trauma não se perde; ela se concentra em algum lugar. A intumescência popularmente conhecida como "galo" é exatamente a reação do corpo à concentração da energia mecânica. Por isso, dizem os médicos, em caso de acidentes desse tipo, é até melhor quando o galo aparece. Se ele não se manifesta fora do crânio, o dano pode estar dentro, tomando a forma, p. ex., de um coágulo.
Para piorar a situação dos leigos, as lesões traumáticas podem produzir resultados tardios. Você dá aquela olhada na pessoa e parece que tudo está bem. Dali a algum tempo, horas, os resultados aparecem. O caso do menino mineiro é clássico: dor de cabeça e vômito. Somente ao apresentar esses sintomas ele foi levado para um hospital. Devia ter ido imediatamente.
Longe de mim querer dizer que A ou B deve ser responsabilizado por essa morte. Não é o que estou fazendo. Reconheço que há um impulso natural das pessoas em minimizar os acidentes que não parecem desde logo graves. Eu mesmo sou assim. Há um tempo, levei minha mãe na marra a um hospital, após ela ser derrubada por um motorista de ônibus e se estabacar de costas no piso do veículo. Não sosseguei enquanto ela não foi consultada e submetida a exames por imagem. Mas no dia em que minha filha completou dois anos, ela ficou de pé em uma poltrona e tombou de lado, acertando a testa num piso lajotado, com força. Uma queda de quase um metro. Tomamos as providências imediatas, em casa, mas nem cogitamos uma consulta médica. Felizmente, nada ocorreu, mas nós minimizamos o episódio.
Pondo-me no lugar de quem lida com acidentes desse tipo, observo que o melhor mesmo é não pagar para ver. O acidentado parece bem? Ótimo, mas o ideal é conferir isso com um especialista. Infelizmente, no Brasil uma singela consulta médica pode virar uma via crucis, mesmo para quem tem plano de saúde, mas qualquer transtorno é melhor do que ter que lidar com o inesperado, o impensado horror.
2 comentários:
Infelizmente Yúdice, essa também seria minha atitude: "Bateu a cabeça, não chorou? Então foi tão grave assim..."
E quem não, Ana? E quem não?
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