Provavelmente muitas pessoas sem nenhuma relação direta com o fato deixaram suas casas para ir à missa de sétimo dia, em intenção dos mortos no massacre de Realengo. Fizeram-no por sinceros sentimentos de solidariedade e espírito de comunidade. Normal. Normal até demais, além de benfazejo. Nada que justifique, p. ex., a grande imprensa destacar que Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, tenha ido à cerimônia.
É comum a imprensa se comportar dessa forma: promover uma espécie de irmandade entre os familiares de vítimas de violência. Evidentemente, pessoas que passaram por experiências assemelhadas, sobretudo quando traumáticas, tendem a se reconhecer. Mas isso tem valor quando ocorre de forma espontânea. Tenho a impressão, contudo, de que forças externas tentam, de todo modo, criar uma espécie de categoria à parte de brasileiros. A criação dos vitimizados pela violência serviria para lhes dar visibilidade e legitimidade para reivindicações específicas junto ao poder público.
É dessas reivindicações que tenho medo. Porque como o processo é artificial, são essas forças externas que criarão as pautas, de acordo com os seus sempre obscuros objetivos.
Pense bem: na grande maioria dos casos, o que as vítimas e seus familiares mais querem é tocar as suas vidas adiante e, se possível, esquecer. O revolvimento de suas dores é uma das formas mais comuns de vitimização secundária. É fazê-los reviver o mal e levá-los a uma nova fase de sofrimento.
Para quê?
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