Texto modificado em 8.4.2011.
Decerto que existem muitas coisas nos Estados Unidos que nós, brasileiros, poderíamos copiar com grandes proveitos para todos. Não precisávamos copiar, justamente, a insanidade de invadir uma escola e abrir fogo a esmo, vindo a matar e ferir várias pessoas e estabelecer um sentimento de horror tão inédito quanto devastador, porque capaz de se espraiar por todo o Brasil.
Não se tome por leviandade o uso do verbo "copiar". A prática da imitação é comum entre criminosos, inclusive psicopatas, tanto que existe a classificação copy killer. Não se pode subestimar o efeito que a repercussão desses massacres pode ter sobre mentes suscetíveis, como a do rapaz de 23 anos, que, num primeiro momento foi anunciado como portador do vírus HIV mas, depois, foi retratado mais como um esquizofrênico com delírios de cunho religioso e uma aversão especial por mulheres. Além disso, como o atirador parecia disposto desde o primeiro momento a se suicidar, fica ainda mais fácil a identificação com os aludidos massacres, cujos desfechos geralmente são idênticos. Para quem renunciou à própria vida, descontar sua imensa frustração levando o maior número possível de vítimas é uma catarse.
No Brasil, o episódio que mais se aproxima do de hoje foi o ocorrido em um cinema do Morumbi Shopping, na capital paulista, em 3.11.1999. O estudante de Medicina Mateus da Costa Meira, então com 24 anos, efetuou disparos contra a plateia que assistia ao dispensável Clube da luta (dir. David Fincher, 1999), matando três pessoas e ferindo outras quatro. Pelos delitos, foi condenado a mais de 120 anos de prisão. Em 2009, tentou matar um colega de cela, o que lhe valeu uma nova acusação criminal, pendente de julgamento.
O título desta postagem se refere ao massacre ocorrido no respeitado Instituto Columbine, no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos. Em 20.4.1999, os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold, de 18 e 17 anos, abriram fogo contra estudantes e professores. Com 13 mortos e 21 feridos, a mundialmente conhecida tragédia, que inclusive já foi retratada no cinema, teve números pouco superiores aos do Rio de Janeiro, com o detalhe de que lá havia dois atiradores.
Cinema: Tiros em Columbine (documentário de Michael Moore, 2002) e Elefante (filme de Gus Van Sant, 2003).
Outros massacres, nos Estados e no mundo: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/04/07/os-maiores-massacres-em-instituicoes-de-ensino-dos-eua-nas-ultimas-decadas-924179564.asp; http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/04/reveja-casos-de-tiroteios-em-escolas-pelo-mundo.html
3 comentários:
Meu sentimento foi bem parecido. Sobre buscar copiar os americanos até nisso. Incrível que não me lembrei apenas de Columbine (e o filme do Moore), pois essa é inevitável - mas também de Elefante. Só não concordamos quanto a Clube da Luta. Um dos poucos filmes que vi mais de duas vezes, genial!
Mas esse assunto é o de menos agora. Quanta tristeza... e olha que há uns 13 anos eu e colegas de sala passamos por uma ameaça anunciada que, graças, não foi consumada - o perturbado soropositivo daquela ocasião resolveu se entregar.
História estranha essa, Caio. Se puderes dar mais detalhes sobre o ocorrido, agradeço.
No mais, estou ciente de que minha crítica a "Clube da luta" provocaria reações. Deixei-a de propósito, para ver o que acontece, mas realmente achei o filme chato e despropositado. A debater.
Bom, tinha menos de dez anos na época (1998), então a história que ficou na minha memória pode não ser exatamente a verdadeira. Uma pessoa dessas queria se vingar de alguém que o havia destratado, descontando no filho desse. E o tal filho era meu colega de sala.
Na turma, o cara - que seria soropositivo e atacaria injetando o próprio sangue na vítima - ficou conhecido como "maníaco da seringa" - na carona do vilão nacional da época, Francisco de Assis Pereira.
Bom, outro colega de sala era filho de um militar reformado. No dia seguinte à divulgação da ameaça, a escola amanheceu patrulhada (essa parte eu lembro muito bem...). Os "hômi" teriam ordem para atirar no sujeito caso ele aparecesse... o cara, então, resolveu se entregar.
É, meio doido demais para parecer totalmente verdade (talvez pelo modus operandi do cara), mas foi assim que me ficou na mente. O senhor se recorda de algo parecido na época? Nunca procurei esclarecer direito isso...
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