quinta-feira, 7 de abril de 2011

Columbine carioca

Texto modificado em 8.4.2011.
Decerto que existem muitas coisas nos Estados Unidos que nós, brasileiros, poderíamos copiar com grandes proveitos para todos. Não precisávamos copiar, justamente, a insanidade de invadir uma escola e abrir fogo a esmo, vindo a matar e ferir várias pessoas e estabelecer um sentimento de horror tão inédito quanto devastador, porque capaz de se espraiar por todo o Brasil.
Não se tome por leviandade o uso do verbo "copiar". A prática da imitação é comum entre criminosos, inclusive psicopatas, tanto que existe a classificação copy killer. Não se pode subestimar o efeito que a repercussão desses massacres pode ter sobre mentes suscetíveis, como a do rapaz de 23 anos, que, num primeiro momento foi anunciado como portador do vírus HIV mas, depois, foi retratado mais como um esquizofrênico com delírios de cunho religioso e uma aversão especial por mulheres. Além disso, como o atirador parecia disposto desde o primeiro momento a se suicidar, fica ainda mais fácil a identificação com os aludidos massacres, cujos desfechos geralmente são idênticos. Para quem renunciou à própria vida, descontar sua imensa frustração levando o maior número possível de vítimas é uma catarse.
No Brasil, o episódio que mais se aproxima do de hoje foi o ocorrido em um cinema do Morumbi Shopping, na capital paulista, em 3.11.1999. O estudante de Medicina Mateus da Costa Meira, então com 24 anos, efetuou disparos contra a plateia que assistia ao dispensável Clube da luta (dir. David Fincher, 1999), matando três pessoas e ferindo outras quatro. Pelos delitos, foi condenado a mais de 120 anos de prisão. Em 2009, tentou matar um colega de cela, o que lhe valeu uma nova acusação criminal, pendente de julgamento.

O título desta postagem se refere ao massacre ocorrido no respeitado Instituto Columbine, no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos. Em 20.4.1999, os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold, de 18 e 17 anos, abriram fogo contra estudantes e professores. Com 13 mortos e 21 feridos, a mundialmente conhecida tragédia, que inclusive já foi retratada no cinema, teve números pouco superiores aos do Rio de Janeiro, com o detalhe de que lá havia dois atiradores.

Cinema: Tiros em Columbine (documentário de Michael Moore, 2002) e Elefante (filme de Gus Van Sant, 2003).

Outros massacres, nos Estados e no mundo: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/04/07/os-maiores-massacres-em-instituicoes-de-ensino-dos-eua-nas-ultimas-decadas-924179564.asp; http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/04/reveja-casos-de-tiroteios-em-escolas-pelo-mundo.html

3 comentários:

caio disse...

Meu sentimento foi bem parecido. Sobre buscar copiar os americanos até nisso. Incrível que não me lembrei apenas de Columbine (e o filme do Moore), pois essa é inevitável - mas também de Elefante. Só não concordamos quanto a Clube da Luta. Um dos poucos filmes que vi mais de duas vezes, genial!

Mas esse assunto é o de menos agora. Quanta tristeza... e olha que há uns 13 anos eu e colegas de sala passamos por uma ameaça anunciada que, graças, não foi consumada - o perturbado soropositivo daquela ocasião resolveu se entregar.

Yúdice Andrade disse...

História estranha essa, Caio. Se puderes dar mais detalhes sobre o ocorrido, agradeço.
No mais, estou ciente de que minha crítica a "Clube da luta" provocaria reações. Deixei-a de propósito, para ver o que acontece, mas realmente achei o filme chato e despropositado. A debater.

caio disse...

Bom, tinha menos de dez anos na época (1998), então a história que ficou na minha memória pode não ser exatamente a verdadeira. Uma pessoa dessas queria se vingar de alguém que o havia destratado, descontando no filho desse. E o tal filho era meu colega de sala.

Na turma, o cara - que seria soropositivo e atacaria injetando o próprio sangue na vítima - ficou conhecido como "maníaco da seringa" - na carona do vilão nacional da época, Francisco de Assis Pereira.

Bom, outro colega de sala era filho de um militar reformado. No dia seguinte à divulgação da ameaça, a escola amanheceu patrulhada (essa parte eu lembro muito bem...). Os "hômi" teriam ordem para atirar no sujeito caso ele aparecesse... o cara, então, resolveu se entregar.

É, meio doido demais para parecer totalmente verdade (talvez pelo modus operandi do cara), mas foi assim que me ficou na mente. O senhor se recorda de algo parecido na época? Nunca procurei esclarecer direito isso...