terça-feira, 17 de abril de 2007

17 de abril


Impossível deixar de fazer referência à data. Há 11 anos, a História do Pará ganhava um capítulo sangrento que jamais será esquecido. Esteja você em que lado estiver, pense em que pensar, julgue o que quiser, indiferente você não está. E o lado das vítimas não o permitirá. Estão na cidade, novamente, acampados em São Brás, tradicional palco das manifestações populares em Belém.
São 11 anos de impunidade e nenhum indício existe de que o contador será interrompido. Os mandantes, claro, foram protegidos e acalentados no colinho da Justiça. Os sub-mandantes — a quem não considero meros bodes expiatórios porque o estrito cumprimento do dever legal e a obediência hierárquica têm limites, segundo a própria lei, e um dos mais evidentes é o respeito à vida humana — foram punidos, mas estão soltos. E a raia miúda dos executores foi absolvida, por uma tecnicalidade jurídica a meu ver insuperável. Como identificar quem era quem no meio da confusão? Quem atirou? Sem respostas mais precisas, eu também os teria absolvido, se compusesse o tribunal do júri.
O que se lamenta não é apenas a absolvição, mas sobretudo a fragilidade de uma instrução processual que não produz provas capazes de legitimar uma condenação.
Este ano, só uma novidade: a governadora Ana Júlia prometeu participar das manifestações. Se cumprir o prometido, será uma grandiosa mudança de postura dos governantes em relação aos movimentos sociais. Digam o que quiserem, é um avanço. Só espero que isso nos leve a algum lugar, em vez de ser apenas mais um exercício de retórica.

2 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice, bom dia. Você sempre atento às questões. No blog do Quaradouro(www.quaradouro.blogspot.com), do jornalista, advogado e escritor Ademir Braz, de Marabá, tem um post sobre esse assunto, com levantamento de dados estatísticos. Inclusive ele está lá na área, fazendo cobertura. Todos estão esperando realmente pela governadora.
Bjs.

Anônimo disse...

É necessário que o escândalo se faça, mas ai daquele por quem o escândalo vier, nos ensinou o Mestre. Reunidos todos num mesmo torvelinho, impossível distingüir pela Lei Maior quem algoz e quem vítima, sem-terra, soldados, mandantes, mandados, as famílias próximas e distantes, a impunidade, a miséria, a indústria abjeta da tomada e venda de terras, o desejo real de uma vida digna... Todos ali, impossíveis de distingüir pela Lei Maior, porque irmãos, sofrendo a falta de respeito que grassa neste mundo, que permite se forre paredes com o dinheiro alheio, conceda-se três balas para cada criatura diante dos meus olhos adoecidos, que não se reconheça no outro o que ele realmente é.
Neste mundo que caminha sobre o arame, quem de nós já deu a mão a quem tropeçou ao lado, ainda que ciente que a queda de um sacode a corda de todos?
Por todas as vítimas desse desamor, seja de qual lado esteja (porque entre as fardas também há vítimas!), um segundo das nossas preces.
Que Deus nos esclareça a todos!