segunda-feira, 2 de abril de 2007

Camelôs Brasil afora

O G1, noticioso online da Globo, dá destaque hoje ao problema dos camelôs, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Destaca, inclusive, como as pessoas estão cada vez mais interessadas em viver na informalidade, mesmo com todos os problemas que isso representa.
Parece uma guerra sem fim, na qual o poder público vai progressivamente perdendo território. Mesmo assim, naquelas duas capitais ainda se percebe algum esforço das prefeituras em fiscalizar e coibir o avanço dos camelôs sobre as ruas e calçadas. Tanto é verdade, que os indivíduos não cadastrados controlam seus passos de acordo com os locais e horários da fiscalização. Montam suas barracas, às vezes, por trás das que são legalizadas e perdem a vergonha à noite, após as 19 horas, quando a Guarda Municipal se retira. Se assim é, isso indica que eles têm algum receio de ser retirados das ruas, por bem ou por mal.
Nem isso ocorre em Belém. O domínio das ruas por aqueles que precisam-trabalhar-para-sustentar-suas-famílias-e-é-melhor-estar-aqui-vendendo-do-que-assaltando grassa ante o estado vegetativo da Prefeitura. Inércia ou sonolência seriam termos brandos demais.
Ao assumir em 1997, Edmilson Rodrigues prometeu uma solução negociada, que não prejudicasse os pais de família. Um discurso bem petista. Mas suas propostas não foram aceitas, seja porque tardias e tímidas, seja porque a verdade é uma só: camelô, em Belém, só aceita o que der na própria telha. O camelódromo da Prefeitura não deu certo na gestão petista; não deu certo agora. O Projeto "Via dos Mercadores" foi arrasado antes mesmo de ser concluído.
Por tibieza, Edmilson deixou a cidade ser apropriada pelos informais. A partir de 2005, quando a cidade simplesmente deixou de ter prefeito, a coisa não podia entrar nos eixos.
Outro dia alguém me disse que o sedizente foi eleito para resolver o problema dos camelôs. Foi, é? E que esses eleitores (de boa fé, coitadinhos) estão decepcionados. Estão, é?
O fato é que estou convencido de que Belém precisará tomar medidas enérgicas para manter, nas ruas, apenas a quantidade de camelôs tolerável (que já não é a ideal). Quando digo enérgicas, visualizo conflitos lamentáveis, infelizes, sem os quais, todavia, o cidadão comum não terá mais qualquer chance.
Eu já caminhei despreocupado pelas calçadas da Presidente Vargas. Eu já vi, da esquina da Av. Nazaré com Serzedêlo Corrêa, apenas um lindíssimo corredor de mangueiras. Eu já caminhei sem dar de cara com barracas. Eu já parei em semáforos sem ter ninguém se pendurando no carro para oferecer refrigerantes, frutas, bombons, carregadores de celular, antenas de TV, cestos de roupa suja e mais uma miríade de coisas.
Em 2008, algum candidato mandará às favas o discurso para agradar a todos e avisará: se eu ganhar, os camelôs sairão das ruas, doa a quem doer?

7 comentários:

Citadino Kane disse...

Yúdice,
A gente tropeça em camelôs... rsrsrs... Vou me mudar para "Urubuteua", lá não existe Camelô, ainda bem, né?

Anônimo disse...

Yúdice, na verdade, por trás dessa explosão de camelôs em Belém, está o desemprego. Tirar esse pessoal das ruas não vai resolver o problema. No Brasil, como um todo, costuma-se remediar os efeitos de qualquer problema, mas não se procura (o Poder Público)prevenir, acabando com as causas. Aqui, com os ambulantes é mesma coisa. O governo tem que criar condições de geração de emprego e renda. Tanto a prefeitura, quanto o governo estadual deveriam estar vendendo Belém e o Pará para os grandes investidores do sul do país e do exterior. O turismo, agora com a Marta, seria uma ótima opção para o nosso estado. Agora, vc está vendo alguma ser feita? Até agora, não. Vamos supor que o Dudu tirasse todo esse pessoal da rua, onde essas pessoas iriam arrumar emprego? Com isso, a própria violência, iria aumentar de forma absurda.

Yúdice Andrade disse...

Pedro, não tem porque os camelôs ainda não sabem onde fica...
Márcio, tua abordagem é lúcida e correta. Porém, o que eu quis destacar na postagem é, justamente, que não podemos deixar todo mundo fazer o que bem entende só porque todos temos necessidade de subsistência. Esse argumento insuperável e de forte impacto emocional não pode conceder imunidade a ninguém. Do contrário, onde vamos parar?
Se eu morasse numa casa numa rua central e alguém tentasse armar uma barraca em frente, eu botaria para correr. A gente não quer só comida. Higiene e paz de espírito também.

Anônimo disse...

Sem dúvida, Yúdice, todos merecem tranquilidade e paz de espirito. Mas, o que a gente vê, é que o Poder Público falhou. Tanto na questão de se solucionar o problema do desemprego, quanto na questão da utilização dos espaços público. Em 2008, fé no que virá?

Anônimo disse...

Olha gente, o país está vivendo uma transição enorme. A urbanização atingiu índices nunca imaginados, está indo para os 90%!
Está surgindo um novo mundo e com ele novas cidades. Nunca mais teremos cidades de uma única classe, que impunha às demais os fundos, as periferias, a marginalização. Teremos que aprender a ver as novas cidades, a construir as novas cidades. É um bruta desafio!...

Yúdice Andrade disse...

Não, Márcio. A expressão "fé no que virá" não me evoca boas lembranças.
Anônimo, concordo. E é justamente por isso que precisamos resgatar a racionalidade do espaço urbano. Senão, essas novas cidades não serão planejadas: elas simplesmente surgirão, de qualquer jeito, e viver nelas será alguma coisa como enredo de filmes de ficção científica - aqueles em que todos são infelizes. Eu gostaria de escapar disso. E meus filhos?

Anônimo disse...

O filme "Blade Runner", anuncia as novas cidades e os planos de segurança pública...